Ser mãe é padecer no autocarro

Michele

Ser mãe é padecer no autocarro

Foto: arquivo pessoal

Estamos a caminho de Évora enquanto escrevo esta coluna. Évora é uma cidade do Alentejo a 450 km de Braga. Estamos no autocarro. Eu e as meninas: Sophia e Isabella. Logo que chegamos na rodoviária,  a aventura começou. Isabella queria levar a mochila da Miney com ela. Foi o motorista a pedir e explicar que as bagagens precisavam ir em baixo, no bagageiro. Pronto,  subimos no autocarro e a pergunta: quanto tempo vai demorar? Logo chegamos foi a resposta que saiu, mesmo sabendo que tínhamos 6 horas de estrada. O ônibus vai a Lisboa e depois a Évora; e pelo caminho ainda “pinga” no Porto e em Fátima. 

Cerca de 15 minutos de viagem: mãe, falta muito? Estou com fome. Tínhamos acabado de lanchar. Mas mãe sempre tem umas comidinhas na mochila. Passei à Isabella um pacote de bolachinhas. E, então,  Sophia diz que também quer. Vai aí mais um pacote. Tudo certo,  parece que o doce da bolacha e o fato de ter Wi-Fi  no ônibus ia tranquilizar a viagem.

Foi aí que Isabella resolveu que queria ir ao meu lado e não com a irmã. O banco ao meu lado estava ocupado, por isso, tive que explicar que não podia mais trocar de lugar. Nisso, já estávamos no Porto, e o motorista avisa que tem 5 minutos para o sobe e desce de passageiros. Nós seguimos sentadas. Viagem em curso e lá vem:  quanto falta para Évora? Só um “bocadinho” digo eu, olhando para o relógio que marcava apenas 40 minutos a mais desde a saída de casa. Então, a Sophia pergunta: mãe, tem água? Esqueci a garrafa em casa e ainda falta 1 hora para a  próxima parada. Sentada ao meio do banco, vou com o braço esticado pela janela, porque Isabella quer a minha mão. E vou dizendo a cada 5 minutos quanto tempo falta para comprarmos a água. Em Fátima, o motorista avisa mais uma vez: 5 minutos de parada. Descemos,  corremos ao banheiro e compramos água. Sentadas novamente dentro do prazo, de repente a voz do motorista sobe de tom e minha curiosidade de jornalista já fica antenada. Era um casal estrangeiro que explicava em inglês que estava a comprar uns suvenirs e que já subia. O motorista que tem os minutos contados, manda eles se despacharem logo; e antecipa: vou falar em português, estamos em Portugal. Se vocês vão de férias, tem aqui gente com hora para trabalhar. Sobe o casal. Sobe o motorista. Segue a viagem.  

A caminho de Lisboa,  mais água, mais bolacha, um bombom, as bonecas que estão na mochila.  A senhora que estava ao meu lado não se aguenta e diz com sotaque bem português: não é fácil viajar com duas miúdas, pois não?! Não,  não é… mas ser mãe é padecer no paraíso,  e também no mercado, na fila,  no autocarro (risos). Acho que junto com a mudança hormonal nas gestações,  ganhamos também doses extras de paciência.

Chegamos a Lisboa,  onde é preciso pegar as malas e trocar de autocarro. Isabella começa a resmungar que não quer entrar em outro autocarro! Vou andando de mãos dadas com ela sem dar nenhuma explicação.  O tempo da baldeação é de 15 minutos. Com a estação cheia de veículos e pessoas, é preciso achar o número do ônibus para embarcar. 

Olho nos bilhetes e vejo que a poltrona 9 está ocupada, apesar de ser o número reservado para mim. O 7 é o 8 são das meninas. Mas, Isabella quer ir comigo.  Logo, 7 e 8 são meu e da Isa. E aí Sophia resmunga porque vai sozinha… Explico que é a última parte da viagem,  que ela pode sentar atrás de mim.  O lugar está vago, o motorista já está a postos e assim deixo a senhora que está acomodada na poltrona 9 ficar, sem nem dizer que deve ter se enganado. 

Isabella diz que quer dormir e deita no meu colo. Dois segundos,  quer tirar o tênis.  Cinco minutos,  quer tirar o brinco que está a machucar a orelha. Enfim, senta e diz que vai viajar sentada a olhar a paisagem.

Isabella se acomoda, Sophia quer salgadinho e o carregador do celular… é quando me pego a rir sozinha e a me perguntar: quanto falta para Évora?

Michele DiasMeu nome é Michele Dias da Silva, tenho 42 anos, casada, duas filhas lindas e santa-mariense com muito orgulho. Sou formada em Letras pela Universidade Franciscana e em Jornalismo, pela Universidade Federal de Santa Maria; e tenho mestrado em Ciências Sociais, pela Universidade do Minho (Portugal). Trabalhei em telejornal por 15 anos, a maioria destes como editora e apresentadora do Jornal do Almoço. Atualmente, produzo conteúdo para redes sociais de empresas e faço fotos, vídeos e textos sobre as minhas andanças pela Europa porque sou curiosa e apaixonada por descobrir boas histórias. 

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