Foto: Vinícius Becker (Diário)
Ainda era escuro quando as luzes das velas começaram a iluminar a Avenida Osvaldo Cruz, em Santa Maria. De frente à casa onde João Luiz Pozzobon viveu, pouco depois das 6h, um grupo composto por cerca de 50 pessoas deu início à procissão luminosa em homenagem aos 40 anos de sua morte. Sob um frio de 5,2°C e um forte nevoeiro, o cenário era o mesmo de 40 anos atrás, no dia 27 de julho de 1985, quando Pozzobon foi atropelado a caminho do Santuário, carregando a imagem da Mãe Peregrina nos ombros. O percurso de 1,1 km, o mesmo que ele percorria diariamente, foi marcado pela emoção dos fiéis que mantém acesa a missão que ele deixou.
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Neste ano, além de celebrar a vida e o legado de João Luiz Pozzobon, os fiéis também agradeceram por um novo passo em sua causa de beatificação: ele foi reconhecido como Venerável pela Igreja Católica, ficando ainda mais próximo de se tornar o primeiro santo nascido no Rio Grande do Sul.
A programação que celebra os 40 anos da morte de Pozzobon foi organizada pela Secretaria Pastoral João Luiz Pozzobon e capitaneada pelo padre Vitor Possetti, que também é Vice-Postulador da Causa de Beatificação. Ele explica o simbolismo por trás da procissão:
— Foi no dia 27 de junho de 1985 que ele acordou cedinho, como sempre fazia, saiu a caminho do santuário rezando o terço, como também sempre fazia. Mas, nesse dia de muito frio e de muita cerração, ele foi atingido por um caminhão e viria a falecer horas depois no Hospital de Caridade. Desde então, tradicionalmente, ocorre essa peregrinação pelo mesmo caminho, que foi sua última caminhada. Ele dizia que sua morte ia ser sua última romaria para passar à vida eterna. Ele confiava muito na vida eterna. Então, nós fazemos uma procissão luminosa, com as luzes acesas, recordando que a nossa vida em Cristo não se apaga, e de um modo especial, também recordando e agradecendo a Deus, porque diácono João Pozzobon agora é venerável reconhecido pela igreja.
Antes de dar início à procissão, padre Vitor enviou, por vídeo, uma mensagem especial para um grupo de devotos de Pozzobon. Mas eles não vivem em Santa Maria, mas sim, no Nordeste. E é lá que existe uma estátua em homenagem ao diácono: a primeira erguida no Brasil, inaugurada em Garanhuns, no agreste pernambucano. O monumento foi instalado no caminho que leva ao Santuário Tabor da Santidade de Todos os Dias, região onde a campanha da Mãe Peregrina e a devoção ao “burrinho de Maria” seguem vivas.

O gesto simboliza o quanto o legado de Pozzobon alcançou corações por todo o país — e também pelo mundo afora. Hoje, a Campanha da Mãe Peregrina é realizada em mais de 100 países.
— Pessoas de várias partes do país e do mundo ficam conectadas com o que a gente faz aqui. Um exemplo dessa devoção é o grupo presente em vários Estados do Nordeste, e lá eles ficaram a noite inteira em vigília, cada um em uma hora diferente, sempre em oração. E eles pediram: "padre, aí da casa do João Pozzobon, aí de Santa Maria, a gente quer receber uma bênção". Então, cedinho, nós viemos e mandamos uma bênção para eles, para termos uma noção da importância que tem essas terras para pessoas de tantos lugares – relatou o padre Vitor Possetti.
O aposentado Ademir Luiz Oriques, 74 anos, participava da atividade pela primeira vez. Membro do grupo Terço dos Homens há oito anos, nasceu e foi criado próximo à casa de Pozzobon. Neste ano, acompanhado da família, participou de outras atividades da programação. Entre as tantas virtudes admiráveis, ele destaca o amor do Venerável à Mãe Rainha.
— Fui tocado pela vida dele e pela maneira dele de amar a Mãe Rainha. É muito gratificante poder participar desse momento e agradecer por tudo que ele fez e faz em nossas vidas – disse Oriques.
A psicóloga Adelina de Fátima, 71 anos, também é uma das pessoas que teve a oportunidade de conhecer Pozzobon em vida. Muito emocionada, ela recorda com detalhes dos momentos em que Pozzobon visitava a escola onde estudava quando criança:
— Quando a gente via que era ele na porta com a imagem da mãe, íamos correndo ao encontro dele. Lembro que preparávamos cestas cheias de pétalas de rosas, e quando ele dizia 'viva rainha', jogávamos as pétalas que a gente tinha. Ele era muito, mas muito especial. E é por isso que eu estou aqui hoje, para agradecer essa parte da minha estrutura de fé, que foi ele que me deu, e eu sei que ele deu a muitos outros também.
E em meio a tantos rostos, um deles se destaca. Humberto é o filho mais novo de Pozzobon e impressiona pela semelhança ao pai. Aos 82 anos, ele participou da procissão em homenagem ao homem que ele tem orgulho de chamar de pai.
— Ele foi maravilhoso, dava todo apoio para a família. Ele dizia: 'não adianta eu mover o mundo se eu me descuidar da minha família.' E ele era assim, tinha aquela vontade sempre de vencer, de fazer a coisa para as pessoas pobres, necessitadas, sempre rezando em escolas, presídios e hospitais. Ele tinha a ânsia de seguir a campanha. Hoje, vejo que ele tinha quatro amores na vida: a mãe Rainha, o Santuário, a campanha dele e a famílias. Disso ele não arredava o pé — relembra.
Sobre o avanço no processo de beatificação, ele comemora:
— Essa notícia maravilhosa nos deixou muito felizes. Fico encantado, até sem noção do que sentir no momento. Isso é uma bênção de Deus para a minha família e para todas as pessoas que acompanham a vida dele.
Antes de chegar ao Santuário, uma última parada. Desta vez, na Avenida Nossa Senhora das Dores, no canteiro onde Pozzobon foi atropelado por um caminhão, no dia 27 de julho de 1985.

Às 7h06min, a procissão chegou no Santuário. Posteriormente, foi realizada uma missa no local.
A programação que marca os 40 anos de falecimento de João Luiz Pozzobon segue até domingo em Santa Maria. Veja abaixo:
Tríduo Festivo — 27 a 29 de junho
Sexta-feira (27) – Devoção e Saúde
- 14h – Terço (com confissões) Endereço: Avenida Nossa Senhora das Dores das Dores, 849, Santa Maria
- 15h – Missa do Sagrado Coração de Jesus com bênção da saúde. Endereço: Capela Nossa Senhora das Graças Av. Osvaldo Cruz, 609, Santa Maria. Presidente: Pe. Cristiano Parpinelli)
Sábado (28) – Sinal de Esperança – com a Juventude e Diáconos Permanentes
- 8h30min – Rota das Capelinhas – Caminhada partindo do Santuário de Schoenstatt e passando pela Capela Azul, Capela Rosa, Capela Branca e Capela N. Sr.ª das Graças. Endereço: Santuário de Schoenstatt, na Avenida Nossa Senhora das Dores, 849, Santa Maria
- 16h – Terço (com confissões) Endereço: Capela Nossa Senhora das Graças, Avenida Osvaldo Cruz, 609, Santa Maria
- 17h – Missa (Presidente: Dom Leomar). Após a missa: Bênção da Sala Memorial Diácono João Luiz Pozzobon
- Jantar para diáconos, escola diaconal e familiares. Endereço: Capela Nossa Senhora das Graças, na Avenida Osvaldo Cruz, 609, Santa Maria
Domingo (29) – Esposo e Pai de Família
- 9h – Procissão das Bandeiras. Caminhada da Paróquia Nossa Senhora das Dores até a Capela Nossa Senhora das Graças.
- 10h30min – Missa com bênção das família, na Capela Nossa Senhora das Graças. Endereço: Av. Osvaldo Cruz, 609, Santa Maria
Quem foi

- Nasceu em 12 de dezembro de 1904, em Ribeirão, localidade de São João do Polêsine. De origem pobre, largou os estudos para ajudar o pai na lavoura;
- Em 7 de setembro de 1947, Pozzobon participou do lançamento da pedra fundamental do santuário de Schoenstatt, onde teve início o seu contato com a Mãe Peregrina. Três anos depois, em 10 de setembro, começou a Campanha da Mãe Peregrina;
- Ordenado diácono pelo bispo dom Érico Ferrari, em 1972. Passou a fazer casamentos, batizados e enterros. Não podia rezar missas e absolver pecados;
- Em 1979, a fama de Pozzobon ganhou o mundo. Ele visitou a Europa, conheceu o papa João Paulo 2º e foi à Argentina falar da Mãe Rainha;
- Em 27 de junho de 1985, aos 80 anos, foi atropelado por um caminhão quando ia para uma missa, no Santuário de Schoenstatt, às 6h30min, e morreu.
Exemplo de fé
- Em 1950, o Diácono recebeu uma imagem da Mãe Rainha. Com o tempo, colocou como propósito rezar 15 terços por dia (825 preces);
- Ele deu a ideia de, a cada 30 famílias, colocar uma imagem da Mãe Peregrina, para passar de casa em casa. Ele distribuiu 2,7 mil imagens da Mãe pela região. Em 2011, havia mais de 200 mil réplicas da imagem em 96 países;
- João Pozzobon carregava 19 quilos nas peregrinações. A imagem da Mãe Rainha pesava 11 quilos, e a pasta que levava com vestes e outros materiais religiosos, 8 quilos;
- Ele percorreu 140 mil quilômetros a pé com a imagem no ombro para visitar famílias, escolas, presídios e hospitais;
- Pozzobon criou a Vila Nobre da Caridade, no Cerrito, com 14 casas que abrigam famílias pobres. Ele ajudava a conseguir emprego e a fazer as crianças estudarem.
Para viver a história
- Associação – Site com informações https://www.devotosjoaopozzobon.com.br/biografia/
- Campanha Mãe Peregrina – Movimento de Schoenstatt https://www.maeperegrina.org.br/pozzobon/
- Casa Museu na Quarta Colônia – Localizada em São João do Polênise, recebe visitas e eventos cristãos;
- Casa Museu em Santa Maria – Recebe visitas. Aberta de terça a sábado, 6h30min às 12h e 14h às 17h30min. Agendamento por (55) 3347-3003 ou (55) 9 9172-1611.
Curiosidade
O primeiro santo brasileiro é o frei Franciscano de Sant'anna Galvão, o Frei Galvão. Ele foi canonizado em maio de 2007, em São Paulo, pelo papa Bento 16. Suas graças proporcionaram que mães tivessem os partos facilitados e pessoas fossem curadas.