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PLURAL: os textos de Marcio Felipe Medeiros e Rogério Koff

Você sabe que é ser conservador?
Marcio Felipe Medeiros
Sociólogo e professor universitário

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Conservadorismo, enquanto corrente de pensamento, apresenta uma profunda desconfiança em relação às mudanças sociais. Um conservador não é um reacionário (aquele que gostaria que o mundo fosse igual ao passado), tampouco um pensamento totalitário. Um conservador está alicerçado em bases morais, na qual o passar das gerações apresenta inevitavelmente uma degradação de princípios, o que se coloca como base canônica desta linha de pensamento. Um grande exemplo de autor conservador, que faz parte do universo da cultura pop é J. R. R. Tolkien, tendo a sua obra Senhor dos Anéis uma alegoria bastante evidente do pensamento conservador.

CONSERVADORISMO À BRASILEIRA

No Brasil, o conservadorismo, não enquanto corrente de pensamento, mas enquanto prática assume outras características. Não raro, é possível ver pessoas se intitulando conservadoras e com posicionamentos autoritários e antidemocráticos. Da desconfiança da mudança enquanto marca conservadora, aqui passa-se para a desconfiança do sistema político e a exaltação de saídas simples, como golpes totalitários. Se pegarmos o pensamento de um dos últimos pensadores genuinamente conservador, Roger Scruton, podemos ver a exaltação dos valores morais, do respeito e da exaltação à Monarquia Inglesa, mas em nenhum momento veremos a legitimação de golpes democráticos ou a promoção de regimes autoritários.

O conservadorismo no solo brasileiro, mescla-se à ideias atravessadas. É possível ver, tanto na grande mídia quanto em conversas privadas em alguns grupos financeiramente afortunados, discursos ditos conservadores demonstrando pesar pela falta de subserviência de empregados. Nosso conservadorismo, de algum modo, remonta ao pensamento colonial, à lógica excludente e escravagista. Nossa prática conservadora, em última instância, é um tipo de pensamento totalitário e anti-democrático.

RECONSTRUÇÃO PRÁTICA

O pensamento conservador, em sua raiz intelectual, por óbvio, como qualquer corrente de pensamento, está sujeito à crítica. A grande questão é que aquilo que existe em solo brasileiro, espalhado pelo cenário político, em nada se aproxima do conservadorismo inglês de Scruton. Os institutos conservadores que existem em solo brasileiro, pouco ou nada se aproximam da corrente de pensamento referida. É bastante triste como uma corrente de pensamento, interessante para pensar o universo social e político, assume contornos incompatíveis ao estado democrático pelo tipo de associação que ocorre pelos "pseudo-intelectuais" que se colocam como porta-vozes. Infelizmente, esta não é a única corrente de pensamento mal discutida no Brasil.

A Igreja e o casamento gay
Rogério Koff
Professor universitário

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Uma notícia recente que abalou espíritos mais sensíveis foi a decisão tomada pela Igreja Católica e anunciada pelo Vaticano de que não vai abençoar casais homossexuais. Não sou católico praticante, mas é sabido que os princípios da Igreja são contrários ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, considerando-o uma forma de "pecado". Por qual razão a instituição passaria agora a "abençoar" estas uniões?

Como simpatizante do conservadorismo, compreendo a posição do Vaticano. Isso nada tem a ver com uma afronta a direitos humanos. Desde a segunda metade do século 20, as sociedades ocidentais garantiram avanços significativos em relação às chamadas "minorias". Até por volta de 1960, ainda havia leis racistas em regiões nos Estados Unidos e o homossexualismo poderia ser considerado crime. É inegável que as sociedades evoluíram para melhor, principalmente se comparadas a certos países onde não há diferença nítida entre os campos do Estado e da religião. O casamento civil entre homossexuais é um direito a ser celebrado. O Estado não pode interferir em opiniões e decisões tomadas pelos indivíduos, a não ser que representem perigo para outras pessoas ou afetem o bem comum.

Mas uma vez conquistado o direito legítimo ao casamento civil, por qual razão tentar forçar católicos mais conservadores a aceitar a união homossexual dentro da Igreja? Da mesma forma que os homossexuais têm direitos civis garantidos, os católicos praticantes também têm os seus. Eles praticam a religião justamente por conta dos princípios e dos dogmas que regem esta crença. É preciso entender que nem todos os dogmas são necessariamente negativos.

PRIMAZIA DO INDIVÍDUO

Ideologias como o comunismo, nazismo e fascismo devem ser combatidos pelas instituições democráticas. Também há religiões baseadas em ódio e violência, que justificam a mutilação genital de mulheres, pregam a punição a homossexuais e inspiram ações terroristas. Por que os gays não buscam suas bênçãos dentro de uma mesquita?

Por qual razão impor uma ruptura na tradição católica? Os preceitos da Igreja constituem a base de significados para milhões de pessoas. As convicções dos católicos não causam mal a ninguém, salvo se o leitor tiver em mente episódios de um passado distante, como a Santa Inquisição.

A explicação para que grupos queiram mudar a ótica católica é uma perspectiva marxista, na qual as instituições são instrumentos de poder e de opressão. O marxismo não concebe ordens harmonicamente construídas, nas quais todos podem ter direitos preservados, desde que respeitem uns aos outros. Para eles, toda tradição é ruim.

Como afirmou o pensador norte- -americano Russell Kirk (1918-1994), na foto que ilustra meu artigo, o conservador é sempre um individualista, não no sentido do egoísmo, mas por acreditar na primazia do indivíduo e no direito que as pessoas têm de serem elas mesmas. E isso vale tanto para os homossexuais quanto para os católicos convencionais..

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