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PLURAL: os textos de Atílio Alencar e Paulo Antônio Lauda

  • Saudades do Jacaré
    Atílio Alencar
    Produtor cultural

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    Luiz Sérgio Metz, o Jacaré, nasceu em Santo Ângelo, mas, assim como outros gaúchos que se aquerenciaram em Santa Maria, adquiriu a marca indelével de quem conheceu o vento norte na pele e no imaginário. Ao menos, gosto de pensar que essa terra ventosa marcou com o símbolo translúcido do vento o autor de "Assim na terra", uma obra- -prima que ainda está por ser lida, e que carrega algo daquilo que Borges vislumbrou como a verdade imanente da literatura: cada livro contém em suas páginas todos os outros livros já escritos, assim como um minúsculo rincão na borda do mundo contém em si a totalidade do universo. A querência é uma referência vaga, como diz o verso de Metz que Santiago Neto musicou com seus Dois Tordilhos.

    A fama do Jacaré - ou Jaca, entre os amigos mais chegados - era a de um cara delicado, inquieto, de ouvido aberto para o linguajar cotidiano e destreza narrativa incomum, que a morte surpreendeu na plenitude do vigor criativo e da ambição literária, aos 44 anos. Mas o desaparecimento precoce não impediu que o legado do artista permanecesse intrigando as gerações de leitores assombradas pelo dom da alquimia que Metz demonstra não só em seu épico, mas já antecipado nos contos e nas líricas do grupo Tambo do Bando.

    Herdeiro insubmisso de outros ilustres narradores gaúchos, como Simões Lopes Neto, Erico Veríssimo e Aureliano de Figueiredo Pinto, e também dos estrangeiros Eliot, Mallarmé e Goethe, Luiz Sérgio Metz, ao manejar os elementos típicos do sul, não fez só se ensimesmar irremediavelmente numa dimensão geográfica, mas forjou um espaço mental dilatado, um sul maior que o sul. Como o sertão de Guimarães Rosa e seu desdobramento em linguagem, o pampa de Metz nos deixa entrever o corriqueiro - o tempo cíclico das estações, o chimarrão, a cerração, o fogo de chão - e o excêntrico - a prosa barroca, a narrativa por vezes hermética, o desvario de uma cavalgada às cegas. Um sul tão perto e tão distante quanto a capacidade da palavra de produzir identificações e estranhamentos.

    Vitor Ramil, no ensaio "A estética do frio", arriscou definir a singularidade da identidade gaúcha a partir de uma sensação de deslocamento climático em relação ao Brasil tropical, carnavalesco, litorâneo (de fato, mesmo as nossas praias parecem uma continuação líquida do pampa monótono). É uma tese discutível, e pouco consistente sob o sol de fevereiro em Santa Maria. Já a narrativa de Metz é cuidadosa com as transições, a impermanência por de trás da aparente continuidade infinita do horizonte, a preparação do fim que todo começo anuncia - as sazonalidades do ser e do tempo.

    Talvez, seja uma pretensão um tanto bairrista o desejo de ver "Assim na terra" reconhecido pelo que é de direito - uma obra sui generis na literatura brasileira recente, inclassificável pelos critérios vigentes, arredia ao enquadramento editorial que determina modas e esquecimentos. O fato de Luiz Sérgio Metz, o fraterno Jacaré, ter cumprido parte da sua breve jornada em Santa Maria, observando a primavera esticar sua rede florida sobre esses mesmos morros que vemos agora, sentindo o mesmo vento frio ao dobrar as esquinas que também dobramos, certamente nos inclina à admiração redentora. Mas não explica a imensidão de sua abreviada lavra, nem o sofisticado galope da sua linguagem.


    Texto publicado originalmente na página 20, da edição de 5 de julho de 2021.

    Síndrome da gaiola
    Paulo Antônio Lauda
    Cirurgião-dentista e ex-professor da UFSM

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    Vocês já ouviram falar da "síndrome da gaiola"? Pois este se tornou um assunto muito pertinente a ser debatido nestes momentos pós-pandemia. Luciana Felipetto, psicopedagoga e fonoaudióloga, explica que a síndrome da gaiola é quando a pessoa tem dificuldade de sair do ambiente de conforto. No caso, principalmente a casa. Essa síndrome, como se vê agora na pandemia, atinge muitas pessoas que já tinham quadros de ansiedade. O agravamento desta condição gerar consequências muito profundas na sociedade atual. 

    Após quase dois anos de confinamento, causado pelas medidas de segurança relacionadas com a Covid-19, estamos colhendo o fruto do isolamento social. Uns queriam lockdown, outros mais liberdade, mas o que interessa neste artigo são os prejuízos físicos e mentais que isto causou. As crianças e adolescentes foram atingidas em cheio. Muitas começaram a não querer mais sair de casa porque, na sua ótica, começaram a enxergar um mundo hostil lá fora. A obesidade infantil aumentou. Esta dificuldade de voltar à rotina de outrora também foi muito clara no serviço público. Talvez, uma mistura de interesses e medos. Ficou patente para alguns que somente o ambiente domiciliar é realmente seguro. 

    FÓBICOS SOCIAIS

    Quando a psicologia analisa tudo isso, percebe o risco de se criar uma patologia comportamental em massa. Todos sabemos que muitas das nossas conquistas intelectuais e comportamentais têm origem no convívio social. Esta fobia social, estimulada pelo controle da Covid-19, veio ao encontro dos fóbicos sociais. Este comportamento gerou muitas reações desconfortáveis prejudicando o bem-estar da família tanto no aspecto físico como emocional. Há, claramente, uma modificação nas atitudes dentro dos convívios sociais. Pessoas são impedidas de hábitos comuns de afeto e carinho. É proibido se tocar! Proibido conversar numa roda de amigos! Agora, segundo o distanciamento social preconizado, o ideal é fazer tudo on-line. Tudo isso está paralisando as pessoas! E com ficam as crianças em formação de personalidade? Até onde vamos? 

    Há inexoravelmente um prejuízo cognitivo ocasionado pela síndrome da gaiola. Não há comprovações científicas ainda nestas minhas afirmações aqui. Estou propondo uma discussão a respeito do assunto. Agora, que estamos nos aproximando para o final desta malfadada pandemia, penso que deveria haver um incentivo aos relacionamentos sociais principalmente entre crianças e adolescentes, sob o risco de criarmos uma geração de fóbicos sociais. Claro que nunca devemos deixar de seguir com os cuidados básicos de higiene. Nesta descrição, penso que muitas emoções deixaram de ser vividas. Muitos aprendizados deixaram de ser realizar. Aqui, entra a ação profissional dos psicólogos, psiquiatras e todos que estão envolvidos nas soluções de comportamento humano. Muitas crianças e adolescentes se quer conseguem externas estes sentimentos. Os pais devem passar a enfrentar esta questão com muita atenção. Seus filhos precisam disto! E a sociedade também. Grande abraço a todos!


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