Parque que recebeu mais de R$ 2 milhões entre 2011 e 2014 sofre com o abandono e nem as pedras do chão escapam dos furtos

Maurício Barbosa

Parque que recebeu mais de R$ 2 milhões entre 2011 e 2014 sofre com o abandono e nem as pedras do chão escapam dos furtos

O flagrante do furto de pedras do calçamento do Parque do Jockey Club de Santa Maria, feito pela Guarda Municipal em 20 de fevereiro, trouxe à tona uma triste realidade. Quase nada resta do amplo espaço de lazer, que recebeu mais de R$ 2 milhões em investimentos entre 2011 e 2014.

O antigo hipódromo, que na administração do prefeito Cezar Schirmer (MDB) era palco do Festival Internacional de Balonismo, nem de longe se parece com a área construída para ser uma opção de lazer para a comunidade da região. As telhas da sede, as portas, as janelas e até as pedras da calçada interna foram levadas por quem deveria usufruir do local.

Na quadra de esportes construída entre 2011 e 2014, goleiras, tabela de basquete, estrutura da cerca e até os refletores também foram furtados. As obras, feitas pelo governo Schirmer e financiadas pelo Banco Mundial (Bird), também contemplavam um pórtico moderno, uma pracinha infantil, além bancos e calçadas.

Conforme o sistema Avante, da Brigada Militar, foram atendidas 12 ocorrências no local nos últimos seis anos. A maioria das ocorrências é de recuperação de veículos furtados que foram abandonados no local, lesão corporal, roubo de gado e ameaça. Em 2023, foi registrada apenas uma ocorrência de furto de fios e cabos.

Segundo a BM, sempre que há um flagrante, os suspeitos são detidos e levados à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), para que seja aberto inquérito e que os envolvidos sejam responsabilizados pela Justiça. O major Rogério Alves, comandante do 1º Regimento de Polícia Montada (1ºRPMon), diz que o parque fica em uma região que recebe policiamento constante.

– As ações no local focam na prevenção de crimes violentos letais intencionais (homicídios). Além do patrulhamento rotineiro, contamos com a atuação do policiamento ostensivo em locais estratégicos no entorno para prevenir ações delituosas na localidade. Por meio desse planejamento, os índices falam por si só, mostrando o resultado que reflete o esforço contínuo da Brigada Militar – afirma o major.

A região oeste da cidade é de responsabilidade da 2ª Delegacia de Polícia (2ª DP) e, segundo o delegado Marcelo Mendes Arigony, apenas duas ocorrências foram registradas por furtos no Jockey Club. Os dois casos aconteceram em 2017, quando adolescentes foram flagrados depredando portas e janelas, para retirá-las e provavelmente vendê-las. O outro caso foi de um suspeito que estava furtando telhas, mas conseguiu fugir e não foi identificado.

Segundo o delegado, o baixo número de registro da ocorrências faz com que os órgãos de segurança não saibam sobre os crimes e possam fazer ações de combate e responsabilização. Ainda segundo ele, há outros furtos registrados na região.

– As ocorrências que são registradas ali, não destoam das que são registradas pelo bairro. Temos apenas dois registros de ocorrências. Para que se haja uma investigação e a responsabilização, as pessoas precisam fazer o registro de ocorrências – explica o delegado.

Prefeitura diz que faz manutenção e estuda projeto para o Jockey Club

A prefeitura de Santa Maria foi questionada sobre o abandono e as condições de abandono do Parque do Jockey Club, no Bairro Juscelino Kubiteschek. Por e-mail, a assessoria do prefeito Jorge Pozzobom (PSDB) respondeu sobre a situação e os planos futuro para o espaço.

De acordo com a assessoria, a Guarda Municipal vai diariamente até o antigo parque. Normalmente, as denúncias feitas à prefeitura são ligadas à invasão da área pública ou a furto de pedras da antiga calçada, como aconteceu no último dia 20, quando um jovem foi flagrado carregando o material no porta-malas do seu carro.

“São feitas várias averiguações de denúncias de furtos de pedras, mas é um crime muito difícil de ser flagrado no ato. As denúncias sobre furtos e vandalismo podem ser feitas pelo telefone 153”, informou a prefeitura.

Sobre o uso do local e futuros projetos, a prefeitura informou que foi criado um grupo técnico composto por várias secretarias que está trabalhando na elaboração de estudos necessários à estruturação de um projeto de parceria público-privada (PPP) e que o trabalho está em andamento. Além disso, também está em continuidade o processo de reintegração das áreas que foram ocupadas irregularmente dentro do Jockey Club.

A prefeitura ressaltou, ainda, que a Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos realiza periodicamente a manutenção da área, o corte da grama e a limpeza.

Sobre o abandono do Parque do Jockey Club, o Executivo informou que, em 2013, a administração da época fez empréstimo com o Banco Mundial para investir no local e que foi executada apenas parte do projeto de revitalização do hipódromo, já não tendo sido levado adiante na época.

Com relação ao investimento feito na gestão passada, a atual administração municipal não se manifestará sobre o assunto.

População lamenta abandono e relata insegurança na região

Os moradores do Bairro Juscelino Kubitschek contam que, à noite, o antigo hipódromo chega a dar medo e que precisa de mais policiamento. Eles reclamam também que muita gente vai ao local usar drogas, fazer sexo e jogar lixo. As ocupações irregulares são outro problema. A dona Ana Lúcia dos Santos de Almeida, 55 anos, nasceu e mora até hoje ao lado do Jockey Club. Ela diz que é muito triste ver o que era e como está agora o espaço.

– Meu pai e meus irmãos eram treinador e jóqueis. Fui criada com o dinheiro das corridas, e hoje para nós é muito triste ver isso aqui abandonado. Começaram uma obra do parque e hoje está terminado, foi tudo levado. Desde poste de luz e tudo. Estão invadindo os terrenos, sem contar que é um perigo. A gente tem medo de sair à noite, os motoristas de aplicativo não entram com o carro até aqui de medo. A gente tem que descer uma rua antes e vir a pé. Enquanto a Guarda Municipal estava aqui, ainda respeitavam, mas depois que eles saíram, foram levando tudo – conta.

O motorista João Carlos de Menezes Rodrigues mora desde criança em uma das ruas que dá acesso ao Jockey, e também diz ser muito triste ver o estado que ficou o local. Ele volta e meia escuta tiros e afirma que à noite é preciso ter muito cuidado.

– É complicado, os governantes só prometem que vão fazer isso ou aquilo e não fazem nada. Um empurra para o outro. O (prefeito Cezar) Schirmer fez tudo isso aí, gastou não sei quantos milhões para fazer essa praça, foi embora, entregou para o (prefeito Jorge) Pozzobom e ele abandonou e está desse jeito aí. Tinha pracinha lá e colocaram fogo. Daí foram levando o que dava para levar. Levaram a tela das quadras de futebol, os postes, as grades lá de cima. Aí sobrou só as pedras do calçamento e estão levando agora. De vez em quando a gente ouve tiros, não dá para arriscar à noite. Da medo da insegurança. A Guarda Municipal e a polícia vêm de vez em quando, deveria ter mais policiamento aqui – diz Rodrigues.

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