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OPINIÃO: O mar não tá pra peixe

Marta Tocchetto

Março de 2050 – “Brasil envia missão tripulada ao espaço”. Esta é a manchete que corre o mundo nos últimos dias. Ao contrário de Yuri Gagarin, que maravilhado afirmou: “A Terra é azul”, os astronautas se horrorizaram com a imagem vista. O azul deu lugar a enormes manchas escuras. Fotos mais aproximadas revelavam imensas ilhas de resíduos plásticos. A viagem espacial pode parecer ficção. Fruto da imaginação de alguém que um dia sonhou ser astronauta. A pior parte desta estória é que a previsão não é imaginação. Os cientistas preveem que, em 2050, haverá mais plástico nos mares do que peixes. 

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Há várias características positivas que contribuíram para o consumo disparar nos últimos 50 anos. Os plásticos são muito versáteis. Conservam as propriedades dos alimentos. São leves e pouco permeáveis. São resistentes e muito duráveis. Substituíram o vidro e o papelão na fabricação de muitas embalagens. Esses motivos ampliaram os usos e o consumo. Se, por um lado, o uso de plásticos trouxe facilidades à vida moderna, por outro, é responsável por um passivo, cujo custo ambiental é altíssimo. 

A preocupação não se limita aos plásticos que se vê. Há o plástico que não se vê, cujos efeitos negativos são iguais ou maiores daqueles que se vê. O desgaste dos materiais plásticos, a lavagem dos tecidos sintéticos, alguns materiais de higiene, cosméticos e de limpeza são fontes de microplásticos que contaminam rios e mares. Os processos convencionais de tratamento de água não eliminam estas partículas. A quantidade cresce nos corpos hídricos e a ingestão também. Os efeitos destas partículas no organismo não são totalmente conhecidos e podem agravar ainda mais o comprometimento dos rios, mares e dos ecossistemas em geral. 

O que podemos fazer para evitar esta catástrofe? Repensar e reduzir o consumo são essenciais. O vilão não é o plástico. O vilão é o uso irracional. O vilão é a negligência. É não separar corretamente. É a ausência da coleta seletiva. É não reciclar. A inexistência  de qualquer uma destas etapas é responsável pelo acúmulo na natureza e nos mares de resíduos plásticos. A permanência desses materiais por centenas de anos compromete não só a vida marinha, mas a qualidade do ar, pois interfere na fotossíntese. 

Em Santa Maria, vivemos tempos ambientais obscuros, não há coleta seletiva. A falta de atuação do poder público é um grave problema, porém não deve justificar o descaso e o descarte de resíduos misturados. O planeta é um só. O planeta é a nossa casa. Não existe fora! Atitudes simples, como usar sacola retornável e reaproveitar dando novos usos às embalagens, por exemplo, têm repercussões globais. Repense suas compras. Recuse aquilo que vai virar lixo. Se gerar, encaminhe para uma associação de selecionadores, essa é a única forma dos plásticos chegarem à reciclagem, e não aos mares.

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