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OPINIÃO: Mau sinal

Juliano Picolotto

Qualquer um com mais de 40 sabe que andar na estrada, no banco do carona de um Corcel II ou de uma Marajó, era parar atrás de um caminhão por muitos quilômetros antes de criar coragem para ultrapassá-lo. E parar atrás de um caminhão era ler “Guerra – é paz na estrada”.

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Nesse tempo, o nosso Rio Grande era motivo de orgulho. Éramos o ponto fora da curva do Sudeste. Uma ponta de riqueza num Sul observado por olhares tortos, mas que tinham que engolir o progresso e as marcas que surgiam entre as maiores do país.

A maior empresa aérea era a nossa. Exemplo para o Brasil e para o mundo. Gado e plantio do sul, maquinário e transporte do norte. Some-se a isso a uva, o vinho e o sapato, era o paraíso. Fora o prego, o vestuário, o fogão e a tinta. O Rio Grande era bonito de ver.

Não é romantismo, ou chilique saudosista. Nós já fomos um Estado forte, rico, que enfrentava o mercado e vencia.

Hoje somos um local perigoso. Lugar a ser evitado. Sem condições estruturais, com altíssima carga tributária, nenhum incentivo, e muito medo. As empresas fogem daqui. Mesmo as que amam o Estado, até continuam amando, mas trocam o seu endereço comercial.

Nossa justiça é ainda mais real do que o rei, que, diga-se, já é bem real. Todos têm receio de empregar. Todos procurando um meio alternativo à utilização de seres humanos. Quem diria isso de um Estado que valoriza tanto a sua gente?

Não é falta de vontade. Não é medo de trabalho. Talvez nem seja falta de coragem. Trata-se de falta de viabilidade. Hoje é melhor não tentar, não fazer, não investir. O menor risco é pautar-se pelo mínimo. Mínimo de envolvimento, de investimento, de comprometimento.

Tudo às avessas. O grande empresário, hoje, é o de pequena ambição. Aquele que não aparece. Aquele que não existe. Melhor ainda se for informal, aí o radar não pega mesmo.

Porque quem aluga, mobília, abre firma, compra estoque, contrata pessoas, e investe em mídia, vai quebrar. Questão de tempo, mas vai quebrar. É o epílogo inexorável do empreendedor arrojado. Aquele que na década de 80 era um ídolo, e que hoje é tido como explorador.

Não! Não é questão de direita ou esquerda. Não é questão política. É muito acima disso. É questão de cultura. Há décadas estamos construindo um ambiente hostil à atividade empresarial, que gostem ou não os românticos, é a única, repita-se, a única fonte de recursos – real e sustentável – de qualquer organização social.

É a atividade empresarial que reúne os fundos, que viabiliza os orçamentos, e que paga as contas – públicas ou privadas. É a atividade empresarial que mantém a todos, que faz girar a roda. E que por isso deve ser respeitada. Não elitizada, nem protegida, muito menos servir de pretexto para a exploração. Apenas respeitada.

A Guerra foi perdida. Você não irá mais ler que ela é a paz na estrada. Mas não é pela guerra o texto. Muitas outras guerras, justas ou não, serão perdidas e, infelizmente, ninguém arrisca uma perspectiva.

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