O que nossos dois geoparques podem fazer para ampliar o turismo

Deni Zolin e Gilberto ferreira


Cascata do Cara do Índio, Pedra do Segredo, Morro Agudo, Minas do Camaquã, Novelaria Santa Marta, Sítio Paleontológico São Luiz, Cappa, Escarpas alagadas do Rio Jacuí e Ermida São Pio são alguns dos geossítios com riquezas geológicas, culturais e paleontológicas das regiões da Quarta Colônia e de Caçapava do Sul. Locais de lindas paisagens, com cachoeiras, formações rochosas belíssimas ou com fósseis dos dinossauros mais antigos do mundo. Tudo isso, o Geoparque Caçapava e o Geoparque Quarta Colônia já têm. Neste sábado, ambos receberão o certificado de Geoparques Mundiais da Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Porém, podem ganhar ainda mais e atrair anualmente centenas de milhares de turistas de todo o mundo se fizerem uma grande divulgação e também se investirem em novas atrações turísticas.


Um bom exemplo disso vem do Geoparque Unesco Arouca, em Portugal. Lá, eles têm fósseis de animais de 465 milhões de anos, bem antes dos dinossauros, e lindíssimas paisagens, como montanhas e cachoeiras. Antes do selo da Unesco, era visitado mais por praticantes de esportes radiciais, como rafting e canoagem, e para almoços em finais de semana. Porém, duas grandes obras ajudaram a atrair mais turistas e a destacar a região mundialmente.


Ponte 516 Aroca


Uma deles é a ponte 516 Arouca, com 516 metros de comprimento e até 170 metros de altura, feita totalmente em metal e vazada. Por isso, ganhou o apelido de ponte transparente. Permite um turismo de aventura de quem tem coragem de atravessá-la a pé, para apreciar o vale e belas paisagens. Ela custou 2 milhões de euros, sendo 85% bancados pela União Europeia. Exemplo de como prefeituras, Estado e Ministério do Turismo do Brasil podem investir em obras nos dois geoparques da região, desde que haja projetos e parceria.


Passadiços do Paiva


Outro investimento turístico no Geoparque Arouca é o Passadiços do Paiva, uma passarela de madeira de 8,6 km de extensão, em que os turistas conhecem as belas paisagens dos vales da região. Construída ao longo do Rio Paiva, permite 3 horas de caminhada.


— Permite que as pessoas apreciem uma natureza quase intocável, sendo um passeio belíssimo que tem atraído muita gente. Essas duas infraestruturas, na competição do World Travel Awards, que é o Oscar do Turismo, estava competindo com a maior atração turística, Torre Eiffel, Palácio de Buckinham, a Acrópole de Atenas e o Coliseu de Roma. E para surpresa de todo mundo, inclusive de nós, ganhou Arouca. Parece que o mundo está louco, mas não, é uma nova visão de turismo — diz o coordenador científico do Geoparque Arouca, o português Artur Sá, lembrando que a região recebe hoje quase 1 milhão de turistas por ano, com receita anual de R$ 110 milhões e precisou limitar em 1,5 mil o fluxo diário no passadiço e de 800 na ponte transparente devido à grande quantidade de turistas.



Grandes atrações podem ser construídas

Um geoparque costuma ter várias pontos de riqueza científica e cultural, inclusive que viram atrações turísticas, mas não significa que deve ser intocável. Desde que o local seja preservado, grandes construções que atraiam novos turistas são bem-vindas, pois além de desenvolver a região, vão ajudar a divulgar a ciência e a cultura do local, que é um dos objetivos de um geoparque da Unesco.


No Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, que inclui o Itaimbezinho, entre outros atrativos, por exemplo, foi construído um mirante. Também poderia ser feita uma estrutura como o Skyglass, de Canela, em que turistas parecem levitar sobre o vale. O prefeito de Torres, Carlos Souza, integrante do geoparque, falou ao Diário em Marrakech. Ele lembra que, em Cambará do Sul, em poucos anos, pulou de 30 mil para 300 mil turistas anuais, por causa dos investimentos e do selo da Unesco, dado em 2021. Quem vai conhecer o Itaimbezinho acaba sabendo de outras atrações, como as paleotocas, escavadas por preguiças e tatus há milhões de anos e que ainda estão preservadas. Já Torres recebe 2,5 milhões de turistas por ano e planeja uma forma de explorar mais as riquezas das Falésias de Torres para atrair mais gente.


Coordenadores de geoparques do mundo todo ouvidos pelo Diário dizem que ideias como as do Geoparque Arouca e Cânions do Sul, como pontes e mirantes, podem inspirar investimentos parecidos nos Geoparques Quarta Colônia e Caçapava do Sul para atrair mais turistas. Helga Chulepin, coordenadora científica do Geoparque Grutas do Palácio, no Uruguai, e conselheira da Rede Global de Geoparques, foi avaliadora do Geoparque Quarta Colônia. Segundo ela, são as regiões de Caçapava e da Quarta Colônia que sabem quais pontos já são mais visitados e que podem ser o atrativo para fazer um turista da região ou de longe ir até o geoparque. A partir daí, é preciso ter materiais de divulgação e de pacotes para passeios para que o turista conheça os demais atrativos da região. É uma questão de estratégica turística.


Artur Sá lembra que a construção de atrações turísticas, como uma grande ponte ou passarela junto a um geossítio (geralmente um local que tenha uma beleza natural), um mirante ou até mesmo uma grande estátua podem potencializar o turismo, desde que não danifiquem as riquezas do local. Além da ponte e da passarela construídas em Portugal, ele cita como exemplo a estátua de Padre Cícero, no Nordeste, em que milhões de pessoas vão para fazer peregrinação e acabam visitando outros pontos turísticos.


— É preciso um estudo do que investir, pois deve ser um investimento que tenha ligação com a região e o geossítio — lembra.

Nessa linha de raciocínio, na Quarta Colônia, uma grande estátua para o Diácono João Luiz Pozzobon em um morro junto a algum geossítio poderia ser um exemplo de projeto futuro a ser construído. Um grande parque dos dinossauros também, até porque tem a ver com o fato de a região ser o berço dos dinos mais antigos do mundo, feito fantástico reconhecido pelo Guinness Book, o Livro dos Recordes. Mas essas ou outras ideias teriam de ser avaliadas pelos integrantes do próprio geoparque e bancadas pelo Poder Público ou pela iniciativa privada.


Investimentos como as Termas Romanas, na Quarta Colônia, acabam já tendo esse papel de ser o principal chamariz para o geoparque, pois têm participado de feiras nacionais e internacionais para divulgar seus serviços e a região. Essas pessoas de fora geralmente vão querer conhecer outros pontos turísticos do geoparque.


Por isso, os investimentos em novas atrações turísticas ou consolidação das já existentes podem ser privados ou públicos, como uma grande estátua ou um mirante inovador. Outra atração pode ser até um Museu de História Natural, que já tem planos de ser construído junto ao Cappa, da UFSM, em São João do Polêsine, para expor mais fósseis e réplicas dos dinos mais antigos do Planeta e ter atrações interativas para adultos e crianças. Projetos que divulguem a ciência, a cultura e as riquezas naturais da região, gerando também empregos, renda e novas pesquisas científicas.


O que é um Geoparque?

  • Os geoparques são territórios (regiões) de um ou mais municípios, reconhecidos como regiões que possuem importância científica, cultural, paisagística, geológica, arqueológica, paleontológica e histórica únicas. Há vários geoparques nacionais, mas somente 5 no Brasil são reconhecidos mundialmente, pela Unesco
  • Nesses locais, a Memória da Terra é preservada e utilizada de forma sustentável para gerar desenvolvimento para a sua comunidade
  • Um geoparque é composto por vários geossítios, que geralmente são pontos turísticos, como um mirante em uma montanha, uma formação rochosa rara, como a Pedra do Segredo, em Caçapava do Sul, ou um centro de pesquisa e exposição de fósseis, como o Cappa, na Quarta Colônia, onde podem ser vistos os fósseis dos mais antigos dinossauros do planeta
  • Com os 18 novos geoparques mundiais que receberão o certificado da Unesco, a entidade passará a reconhecer 195 geoparques em mais de 40 países
  • No Brasil, serão 5 geoparques Unesco: Araripe (Ceará), Seridó (Rio Grande do Norte), Caminhos dos Cânions do Sul (entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina), Quarta Colônia e Caçapava do Sul


Grupo Diário no Marrocos

Uma comitiva brasileira com 40 autoridades vai ir ao Marrocos para o evento. Entre elas, o vice-governador Gabriel Souza (MDB), prefeitos da região, representantes da UFSM e de outros geoparques do país. Os repórteres Deni Zolin e Gilberto Ferreira vão participar da comitiva e embarcam hoje para o Marrocos. O Grupo Diário é o único veículo de comunicação do Brasil inscrito na Unesco para cobrir o evento em Marrakech.


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Chuva retorna para a Região Central no feriado de 7 de Setembro; Inmet emite alerta para tempestades no Estado Anterior

Chuva retorna para a Região Central no feriado de 7 de Setembro; Inmet emite alerta para tempestades no Estado

Saiba como ajudar os atingidos pelo temporal no RS Próximo

Saiba como ajudar os atingidos pelo temporal no RS

Geral