Todos os dias acordava cedo, vestia meu uniforme do colégio, tomava um precioso café preparado com pão torrado, salame e queijo e uma deliciosa xícara de leite com café levemente adoçado. Este era o momento de escutar músicas na rádio juntamente com meu pai. Após, escovava meus dentes, penteava meus cabelos e fazia uma maria chiquinha e ia com meu pai de táxi para a fila do seu ponto, que ficava na antiga rodoviária. Ali, esperávamos até chegar passageiros e saíamos para a chamada “corrida” e logo em seguida, meu pai me deixava na escola.
Este tempo de espera, em que ele ia deslocando o táxi na subida da rua General Neto, muitas histórias escutei e muitas continhas aprendi. Meu pai me ensinou a magia dos números com suas adições, subtrações, multiplicações e divisões até chegarmos a prova real com o “tirar o noves fora”. Meu pai, um homem muito sábio, sempre soube lidar muito bem com os números, despertando em mim afetos que não quantificaram minha vida, mas qualificaram-na de um jeito muito singular com múltiplas possibilidades.
Foto de um dos taxímetros do pai de Daniela, Mário. Fotos: arquivo pessoal
Todos os dias, uma nova história e uma nova continha para celebrar a espera do tic tac do relógio para chegar pontualmente na escola. O táxi do meu pai tinha magia, tinha amor, tinha vida e imaginação e tinha ele, minha referência em contar histórias e contar números. Assim foi boa parte da minha vida escolar, em que trago comigo meu exemplo de professor, que mesmo tendo cursado o ensino primário incompleto, me encantou com seu jeitinho simples de ensinar, ensinar com amor.
Hoje, trago comigo a magia dos números que me encantam ao aproximar afetos em minha vida. Que privilégio tive de ter aprendido que os números, mesmo que em sua exatidão, te libertam para o uso da imaginação. Sim, a matemática até pode ser exata, mas o processo que nos leva a compreendê-la, bem como seus resultados, dependerão das nossas impressões e da liberdade de interpretação que nos forem permitidas. Hoje, a matemática faz parte da minha vida ao passo que danço e interpreto os verdadeiros sentidos do encantar em meu bem viver. Sim, enxergo a vida por diferentes ângulos e calculo o processo sem ficar ansiosa com o produto. Afinal de “contas” e dos “contos”, o resultado será a soma de nossas escolhas. Escolho viver e saborear a subjetividade da interpretação que as equações da vida promovem sob minhas ações.
Daniela MinelloPossui graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria (1996), graduação em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Santa Maria (2009), Especialização em Psicopedagogia pela Universidade Franciscana (UFN) (2011), Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (2006) e Doutorado em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (2018). Tem experiência nas áreas de Educação Física, Dança, Teatro e Musicais. Integrante do grupo de pesquisa Gepaec (Grupo de Estudos e Pesquisas em Arte, Educação e Cultura). Atua como professora substituta no Departamento de Metodologia do Ensino de Educação Física do Centro de Educação da UFSM. Atualmente faz parte do grupo de pesquisa Cia. de Dança/Coisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul sob coordenação da professora Luciana Paludo e do grupo de Pesquisa e Extensão Corpografias da UFSM sob orientação da professora Neila Baldi. Atua também como integrante do grupo de apresentadoras de TV no programa Jogo de Cintura da TV Diário e Rádio CDN. Mas o principal que rege as demais experiências, é ser mãe do Pedro e do Francisco, filha do seu Mario e da dona Rene, irmã da Maricleia e da Raquel e tia da Rhayana, da Rafaela e da Natália.
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