Menos ovos e mais barras de chocolate: preços forçam mudanças na cesta de Páscoa

Bibiana Pinheiro

Menos ovos e mais barras de chocolate: preços forçam mudanças na cesta de Páscoa
Fotos: Nathália Schineider

A Páscoa se aproxima, e com ela as pesquisas pelo menor preço dos chocolates e produtos consumidos neste feriado crescem. O setor prevê maior quantidade de vendas para este ano em relação ao ano passado, mas o valor arrecadado deve ser menor, já que os estudos da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), indicam que o público buscará alternativas de menor preço para adoçar seu feriado, de sua família e amigos, evitando cada vez mais os simbólicos ovos de Páscoa.

Com este cenário, o trabalho de Eliane dos Santos, 32 anos, é afetado. Passando de mercado a mercado, a representante de uma marca de chocolate repõe duas vezes por semana as prateleiras dos mercados de Camobi. Ela indica que as cargas deixadas nos estabelecimento já aumentaram cerca de 30% para a Páscoa. 

– Está bem corrido, a gente está focando mais no chocolate mesmo. Já tem ovos de páscoa em vários locais, mas o que está saindo agora são os jumbos mesmo, as nossas barras – conta Eliane. 

Pesquisa e substituições

Para manter os mesmos itens consumidos na Páscoa passada, os consumidores precisarão fazer escolhas, seja uma outra marca ou reduzir a quantidade das compras. Esta também é a previsão de Gilberto Cremonese, presidente do Sindigêneros em Santa Maria, sindicato que representa a categoria dos hipermercados, supermercados, mercearias, entre outros. Ele acredita que o ticket médio (média de gastos dos clientes no estabelecimento) não tende a variar muito em relação a 2022.

– Ovos com menor peso, produtos que sejam mais atraentes pelo preço e não pela qualidade. Esta é a tendência desta Páscoa. Quanto ao valor final de venda, nós acreditamos que mais ou menos se iguale ao ano passado – aponta Cremonese. 

Esta tendência é embasado na avaliação de Páscoa 2023 do Fecomércio-RS, que mapeia vários fatores que poderiam contribuir com  maiores vendas, contudo a conjuntura não é favorável. Realidade da avó de três, Vera de Oliveira, aposentada de 64 anos, que já pesquisa como irá presentear nesta Páscoa. 

– A gente está fazendo a pesquisa primeiro. Está razoável o valor, vai dar para comprar um pouco os bombons. Os ovos estão salgados. Terei que fazer uma cestinha com bombons, chocolates e vai ser isso. 

Ovos estão perdendo espaço na cesta de Páscoa

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima em seu relatório que a venda neste período no Rio Grande do Sul chegará a R$ 183 milhões. Já para a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul,  FCDL-RS, o faturamento pode chegar na casa dos R$ 200 milhões. Mas pelo que apontam as pesquisas e o público ouvido, pouco será pela venda de ovos de páscoa. 

Jovina Cereser Borigon, 83 anos, planeja sua compra para a neta de quatro anos e familiares. A aposentada relembra também, a sua compra em 2022: 

– Até ovo não tenho comprado, porque eu prefiro dar um pacote de um quilo de bombom do que dar um ovo caríssimo. Estava olhando os preços e é R$ 38… R$ 40 e dá 1 kg. 

O avô Elio Antônio Melin, 57 anos, também prioriza outros doces para sua neta Cecília, de 5 anos. A tradição de usar a casca de ovo para fazer os ovinhos de Páscoa é a escolha para divertir a infância dos pequenos da família. 

Expectativa e realidade 

Os empresários estão otimistas com um aparente aquecimento da economia em um cenário após o auge da pandemia, mas é preciso levar em conta os fatores de consumo das famílias. No Rio Grande do Sul, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor aponta para 39,5% das famílias com algum tipo de conta em atraso. Une-se a isto as altas taxas de juros. Neste contexto, a intenção das famílias em consumir acaba sendo afetada, ainda que esteja melhor que o período pandêmico.

Douglas Aires Porto, Fiscal de Caixa de 24 anos que já acompanhou quatro Páscoas, conta que no mercado em que trabalha apostaram em uma parreira de ovos – o que já não teve em 2022:

– Esperamos que as vendas sejam melhor que 2022, por isso pedimos 30% a mais de chocolate, mas creio que não terá grande diferença, pois ainda estamos sofrendo com os impactos da pandemia.

Esta é a mesma perspectiva de Gilberto Cremonesi, que acredita que as vendas devem se igualar ao ano passado em todos os produtos consumidos na Páscoa.   

– No total das vendas, nós teremos uma venda igual ou melhor que do ano passado. Não só os chocolates mas também a carne e o frango do churrasco, os refrigerantes…Mas isto é só expectativa. Veremos o desempenho a partir da próxima semana. 

O chocolate e outros itens mais caros 

Na pesquisa do Fecomércio-RS, o chocolate está mais caro, um exemplo é o produto em barra e os bombons que estavam 11,9% mais caros na Região Metropolitana de Porto Alegre em fevereiro deste ano, em comparação ao mesmo período de 2022. Já o chocolate e o achocolatado em pó tiveram aumentos ainda mais significativos: 22,5% nessa mesma base de comparação. 

Conforme as pesquisas, os gaúchos serão, em geral, seletos em suas compras, como, provavelmente, todo o Brasil. Em nível nacional, a pesquisa da CNC indica que os chocolates estarão 6,3% mais caros, comparados ao ano passado. Ele é um dos itens, que acompanha outros sete estudados pela confederação, e o valor é calculado com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). O bolo é outro item que chama atenção nos números de variação dos preços de bens e serviços da cesta. De 2021 para 2022 ele aumentou 15%. E ainda que tenha recuado 1,2%, ele segue em destaque como uma preocupação no aumento de valores.

O estudo revela também que praticamente todos os itens da cesta deverão estar mais caros que na Páscoa passada. Na média, para um IPCA-15 de 5,5%, os itens relacionados a essa data deverão estar 8,1% mais caros comparado a 2021, ano em que houve a maior alta desde 2016 (+10,3%).

Dicas da Fecomércio para os consumidores 

Pesquise preços: a inflação alta aumenta a diferença de preços entre produtos e estabelecimentos. 

Se você quer comprar ovos de Páscoa, antecipe as suas compras. Em 2023, teremos maior diversidade de gramaturas, mas as gramaturas menores tendem a ser as que se esgotarão antes. 

O valor do grama de chocolate varia muito do formato. Em barras e bombons, o chocolate costuma ser bem mais barato.

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