Minha primogênita fez 11 anos no último fim de semana; a gente pisca e o tempo passa. Sou mãe de pré-adolescente.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), até completar 12 anos, a pessoa é considerada criança. Depois disso, torna-se adolescente. Mas há uma fase de transição, dos 10 aos 14, chamada a pré-adolescência.
Outro dia, reclamei com a Sophia que ela anda de cara feia, disse que parecia sempre de mau humor, que precisava sorrir mais, afinal ela sempre foi uma criança risonha… e a resposta foi: é porque não sou mais criança, sou pré-adolescente. Neste momento, ri por dentro, não sei se por achar engraçado ou de nervosa.
Cada nova fase dos nossos filhos é sempre um desafio. E por que eu estou escrevendo sobre isso? Desde que comecei a participar da coluna do Diário de Santa Maria, na qual eu escrevo sobre a coisas daqui, os assuntos daí, de acolá e tudo o que puder ser pertinente e que a imaginação permitir, muita gente me procurou pelas redes sociais. A maioria pergunta sobre minhas filhas, sobre a vida do “lado de cá” do oceano. As pessoas lembram-se de mim grávida na televisão (risos). Então, resolvi que o tema “pais e filhos” ou melhor “mãe e filhas” também vai estar presente neste espaço.
Como a Sophia “fez anos” (é assim que se diz em Portugal), e esta nova idade é cheia de descobertas e também de preocupações, escolhi o assunto para a coluna de hoje. Acredito que muita gente vai se identificar com alguns questionamentos, com os desafios, e sempre é bom trocar ideias.
As conversas entre nós duas mudaram. Ela foge da irmã (de 5 anos) para falar comigo e, baixinho, diz que é conversa de meninas. E lá vem uma enxurrada de perguntas: as mudanças no corpo, as curiosidades da puberdade, o futuro profissional, os amigos, com que idade pode beijar, com que idade pode dirigir, o porquê disso e o porquê daquilo. Confesso que, às vezes, ela me deixa tonta de tanto falar. Mas eu respiro fundo e vou tentando responder a tudo, buscando a melhor abordagem e a profundidade adequada à idade – às vezes, tenho dúvidas de até onde devo ir com um determinado assunto. Revistas e livros sobre o tema tem sido bons aliados. Afinal, a gente não sabe tudo. E tem mais um fator importante: o tempo e o mundo mudam a cada instante e precisamos ler e nos atualizar para não virar a “mãe careta”. Junto as novidades, com as informações e adiciono minhas convicções e valores.
A fase é muito engraçada, porque a Sophia, por exemplo, tem muito de criança em alguns momentos e, de repente, dá uma resposta “atravessada” e tem como desculpa o fato de ser pré-adolescente. Eu repreendo qualquer falta de respeito ou qualquer fala mais agressiva. Nenhuma faixa etária justifica isso. Ela costuma me olhar de cara emburrada, mas logo passa e já está tudo bem. Meu principal desafio – e quero deixar essa dica – é preservar esse diálogo, é ter sempre com ela essa abertura para a conversa sincera. Por mais que as perguntas nos assustem e que, às vezes, a gente nem saiba como responder, conversar é preciso. Não quero que ela busque respostas “na rua” porque não tem abertura para dialogar em casa.
A Sophia já não tem muita paciência com a irmã mais nova. Eu compreendo – sou a irmã mais velha e lembro que pelos meus 12 anos, minha irmã tinha 4, e ela me irritava muito (risos). Então além da dica de manter o diálogo, a segunda é reservar um tempo para estar com a pré-adolescente e fazer coisas que valorizem o tempo juntas. Vamos ao shopping, fizemos caminhadas, conversamos. Agora ela quer que eu faça ginástica com ela para mantermos a forma – detalhe, ela é bem magrinha. Então, a direta é para mim mesmo. Nesta fase, eles acham que os pais dão mais atenção aos mais novos. Explicar que mãe tem amor de sobra para todos os filhos faz parte do discurso diário aqui em casa.
E um terceiro aspecto que é fundamental nesta fase – e em todas as outras – é acompanhar o que ela vê, pesquisa e olha no celular. Hoje, a internet expõe tudo o tempo todo. E não é possível manter os filhos dentro de uma “bolha”, porque se tu não dás acesso a um telefone, por exemplo, eles vão ver junto com os amigos e com os colegas da escola. Então, o desafio é dar limites, estabelecer o tempo que se fica na internet e estar sempre de olho. Se acho que uma coisa não é adequada, explico. E nesta questão do uso do celular, da internet, também colocamos um desafio aqui em casa que é o hábito da leitura. Estimulamos que ela leia, compramos os livros que ela pede, e o pai costuma perguntar sobre o que ela leu e até já pediu um resumo das histórias… ela gosta. Mas é preciso mesmo ouvir o que ela conta. Se a narrativa for sobre magia, terror ou outro tema que a gente não gosta, temos que dar atenção de qualquer forma.
Minha avó já dizia “filho criado, trabalho dobrado”. Não sei se o trabalho vai dobrar ao longo dos anos, mas sei que é preciso estar sempre disposta a entender cada nova fase dos filhos, ensinar e também aprender com eles. E não pode faltar amor e diálogo.
Michele DiasMeu nome é Michele Dias da Silva, tenho 42 anos, casada, duas filhas lindas e santa-mariense com muito orgulho. Sou formada em Letras pela Universidade Franciscana e em Jornalismo, pela Universidade Federal de Santa Maria; e tenho mestrado em Ciências Sociais, pela Universidade do Minho (Portugal). Trabalhei em telejornal por 15 anos, a maioria destes como editora e apresentadora do Jornal do Almoço. Atualmente, produzo conteúdo para redes sociais de empresas e faço fotos, vídeos e textos sobre as minhas andanças pela Europa porque sou curiosa e apaixonada por descobrir boas histórias.
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