Liana Merladete: saindo do excesso para o sucesso

Redação do Diário

Coluna de Liana MerladeteMãe apaixonada, empreendedora, Relações Públicas, especialista em Gestão de Negócios, Mestre em Tecnologias Educacionais em Rede e Doutoranda em Comunicação.

Hoje não vou falar de uma nova tecnologia. Vou falar de tudo e tanto concatenado por e com ela. Vou falar de excesso e de sucesso. E, só o faço porque acredito, firmemente, que do outro lado da tela tem quem pense (e sinta) como eu. Adianto, contudo, que falar sobre excesso é avassalador. Poderá ser assustador, mas desvelador.

Fato é que me sinto encantada por tudo e tanto que a tecnologia oferece e cansada pelos mesmos motivos. Cansada pelo tempo pregresso, em que não parava um só minuto e sacrifiquei minha saúde por imediatismos diversos, todos caracterizados por alguma necessidade síncrona desmedida. Cansada por não me perdoar por não ter me permitido ter uma licença maternidade minimamente justa. “Empresas não param”, me convenci, na época. Cansada por ter amamentado meu filho com o computador nas costinhas dele. Cansada por saber que aquilo que perdi não volta. Cansada por ter deixado de dormir para não perder nada por e no trabalho e nem por e na minha casa. Cansada por tentar ser mais que suficiente, ser perfeita em tudo. Cansada porque até no descanso recordo do que fiz e daquilo que preciso fazer. O Facebook e Instagram ajudam a lembrar sem pena disso.

Me arrependo de incontáveis notificações de e-mail atendidas em tempo real sem necessidade. Me arrependo porque, quando disso, minha justificativa pessoal é que esse era o tempo de dar aquela pegada. O descanso viria. Mas não. Depois de tanto batalhar, uma gama de mulheres se vê, quando pausas seriam mais possíveis, frente a necessidade de transição de carreira. Invariavelmente, será o tempo em que esforços talvez nem sequer sejam lembrados. Mas que nada, é sempre tempo para recomeçar, eles dizem. Quem nunca ouviu essa frase na vida pessoal? Pois é. Ela também é válida para o ambiente corporativo.

Você já tem um longo histórico profissional e já avançou na carreira? Segura. Você não pode parar! O lado positivo é que o seu passe, dizem, valoriza. Será mesmo? Você é superqualificado e superqualificados geralmente não podem ser aceitos por carecerem ser bem remunerados. É Injusto e sem sentido. Resumidamente, superqualificada e supercansada são os piores rótulos para uma mulher. De toda forma, como fomos criadas para vivermos como se fossemos de ferro, mesmo sendo de carne, seguimos.

Mas, seguimos não suportando mais o fato de termos de enfrenter rotinas desajustadas com as notificações do WhastApp e ideias descontinuadas quando só queríamos um voto de confiança para sermos nós a frente. Entendemos a duras penas, mas somos sabedoras dos danos da sincronicidade. Lutamos pelo que os especialistas recomendam e lecionam quando o assunto é produtividade e saúde. Não temos mais estômago para o faz de conta. Não somos mais as gurias da comunicação, da tecnologia. Somos mulheres e profissionais experientes, de vida e jornadas organizacionais. Só queremos que parem, só parem, de criar grupos desmedidos, de se reportar a fulano no dito grupo para atrair a atenção do chefe, quando se o emissor fosse minimamente eficiente teria, na melhor das hipóteses, o acessado no privado.

Qual é a parte que algumas pessoas não compreenderam sobre o WhatsApp não ser eficiente? Diferente de plataformas dirigidas para o mundo corporativo, como o Slack, no WhatsApp é difícil fazer uma gestão do conhecimento – ponto crucial para um excelente trabalho, e as informações acabam se perdendo. Além disso, há o fato de o WhatsApp ser uma plataforma de uso pessoal.

Quando você encaminha um e-mail ou utiliza de software de gestão da empresa, você respeita a tentativa de uma cultura organizacional profissional. Quando o outro te retorna pelo WhatsApp, a menos que seja para recados curtos e objetivos, está burlando o sistema organizacional e estimulando o que há de mais complexo na sociedade do cansaço. Com uma comunicação assíncrona bem estabelecida entre a equipe, é possível adequar seu horário de trabalho para o mais produtivo, por exemplo. A troca de informações com a equipe estará garantida de forma clara e objetiva pelos canais estabelecidos, mesmo em fusos horários distintos.

A adoção do trabalho assíncrono deve partir de uma mudança no mindset e na cultura da empresa. Por parte dos gestores, é preciso aprender a confiar na equipe e deixar de lado o microgerenciamento, o controle minucioso – ou tolo – do que cada profissional está fazendo o tempo todo. Criando metas e formas de avaliar a produtividade de cada pessoa, você libera o seu tempo e o de sua equipe. Ao mesmo tempo, os membros da equipe devem assumir a responsabilidade que é intrínseca a essa autonomia.

O problema é que os gestores estão se perdendo nisso e não só nisso. Mas no desestímulo de quem sempre esteve alerta e disponível. Eles não querem fazer isso, mas acabam por cair no vício e no conto do vigário, dotado de palavrinhas estrangeiras de fornecedores sem expertise e esquecem da prata da casa, ficam imersos nas embalagens e essquecem do que há no interior.

Tecnlogia é meio e não fim. Não adianta um despojado colocar alteração processual se na prática os processos são desmantelados ou viram grandes elefantes brancos. É por essas e outras, sobretudo falta de sensibilidade, que mulheres do organizacional estão cansadas e se entregando.

Mas é com elas e para elas que falo: vamos, com a força que nos resta, revisitar o que aprendemos; fazer algo por nós e por quem nos busca para escuta; vamos colocar nosso networking em dia; analisar nossas habilidades e interesses. Vamos, prioritariamente, refletir sobre felicidade e sobre aquilo que vale ou não o nosso cansaço. Será exaustivo, mas eleger prioridades é a única forma de sairmos do excesso, termos sucesso (pessoal, porque diferente do que insistem em nos aplicar, não há sucesso profissional sem pessoal).

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Jogador castilhense é campeão na República Tcheca Anterior

Jogador castilhense é campeão na República Tcheca

Boxeadores de Santa Maria se destacam em competição estadual Próximo

Boxeadores de Santa Maria se destacam em competição estadual

Geral