Lar das Vovozinhas se despede de Marieta Rodrigues, uma das moradoras mais antigas

Foto: Lucas Amorelli (Arquivo Diário)

Uma pessoa alegre, que animava as festas e que, mesmo sem enxergar, tinha uma habilidade imensa com as mãos. Esses são alguns dos adjetivos de uma das mais antigas moradoras da Associação Amparo Providência Lar das Vovozinhas de Santa Maria, Marieta Rodrigues, que morreu nesta terça-feira, aos 79 anos, no lugar onde conquistou amigos e sentia-se bem. Há três meses, Marieta foi diagnosticada com câncer no fígado. Ficou um período internada no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), chegou a fazer tratamento, mas, nas últimas semanas, o câncer se espalhou, atingindo outros órgãos, e ela acabou não resistindo.

Apesar de dificuldades financeiras, Lar das Vovozinhas descarta fechar as portas

Natural de Júlio de Castilhos, ela perdeu a visão aos 3 anos de idade. A família, sem condições de cuidá-la, colocou a pequena Marieta, por um tempo, em um lar em Porto Alegre, mas foi em Santa Maria que ela chegou com um jeito singular e marcante há 47 anos. A gaita era o instrumento que fazia companhia em qualquer hora do dia e em todo o lugar da casa.

- Na verdade, dá para dizer que a Marieta é um patrimônio não só do lar, mas de Santa Maria também. Como ela não enxergava, acabou desenvolvendo outros sentidos, ela escutava a voz de alguém e, depois que a pessoa se identificava, ela nunca esquecia. Eu sempre passava onde ela estava, cumprimentava o grupo, e ela já sorria porque sabia que era eu. Foi, com certeza, uma perda muito grande para o lar. Com a gaita e a própria voz, ela animava o lar nas festas anuais, nas missas e nos finais de semana. É uma perda para a cidade, afinal, ela era um artista nata - recorda Gilberto Benetti, conselheiro fiscal do Lar.

LIDERANÇA
Marieta aprendeu a tocar gaita sozinha, só de ouvido, pois não teve orientação nenhuma. Era muito sensata e interagia com as outras moradoras. Mesmo sem estudar, tinha um conhecimento grande, um linguajar educado, da natureza dela. Na própria fala, era possível perceber o espírito de liderança.  

Aos 97 anos, morre no Rio a sambista Dona Ivone Lara

Em função da doença, Marieta estava, há dois meses, na ala da enfermaria. Por causa da idade, não foi possível passar por um procedimento cirúrgico. Apesar das limitações visuais, ela não deixava transparecer os outros problemas de saúde descobertos recentemente. Por isso, decidiu evitar sair do quarto para não aborrecer as amigas. Moradora do lar há três anos, Werna Maria Staudt, 89 anos, sentiu muito a perda da colega de quarto da Ala 1.

- Eu arrumava a roupa dela, ela gostava muito de mim. Depois que ela voltou do hospital, não foi mais para o quarto. Eu senti muito a falta dela, ia todos os dias na enfermaria para conversar. Ela vai deixar saudade para muita gente. Agora, a missa nem vai ter mais graça, terminou a alegria do Lar - lembrou Werna, com a voz embargada.

DESPEDIDA
Marieta não tinha familiares, mas estava sempre rodeada de amigos. O corpo dela foi velado na capela do Lar das Vovozinhas, onde, às 15h, uma missa foi celebrada. O sepultamento ocorreu, nesta terça-feira, no Cemitério Santa Rita. A recepcionista do Lar, Luciana Fagundes, comentou que recebeu muitas ligações telefônicas, além de comentários nas redes sociais por parte da comunidade santa-mariense, demonstrando o carinho pela artista da instituição.  

- A Marieta foi um referência aqui no Lar das Vovozinhas, isso explica o carinho da comunidade. Sempre que eu dizia: "Oi Marieta, tudo bem?", ela respondia: "Otimamente bem" - lembra Luciana.