Evandro ZamberlanAdministrador e músico
Na Avenida Rio BrancoTem um prédio abandonado,Já passa de cinquenta anosQue o deixaram inacabado.
Vive ali, meio solitário,Numa vida de sossego,Seus principais moradoresSão as aranhas e morcegos.
Nos seus dezesseis andaresO tempo passou devagar,Faltou a vida humanaPara habitar o lugar.
O prédio tem um amigoTambém inacabado,Mora dobrando a esquinaAli na Vale Machado.
Durante dias e noitesSe olham preocupados,Perguntando-se de longe:
Por que não fomos terminados?
O da Rio Branco vai além,Toma liberdade e confabula:– Você é meu melhor amigo,É o meu irmão caçula.
E, numa dessas conversas,Num papo de parceiros,Decidiram fazer uma aposta:Quem fica pronto primeiro?
O da Rio Branco, então, disse:– Querido amigo e vizinho,Você está levando vantagemPois é pequeno e baixinho.
No que o da Vale respondeu:– Sim, isso é verdade,Mas você tem meio séculoE eu estou na mocidade.
Decidiram, pra não brigar,Por cancelar a aposta,O tempo, senhor de tudo,É que daria a resposta.
O da Vale ainda lamentou:– Tô num mato sem cachorro,Estou inacabado e sou baixinho,Nem consigo ver os morros…
Os dois esqueletos, por fim,Desejaram-se boa sorte,Um ano novo em que, enfim,A vida lhes traga um norte.
Leia o texto de Péricles Lamartine
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