Escritora santa-mariense recebe U$ 1 milhão do Facebook para investir em projeto para surdos

Foto: Arquivo Pessoal

A blogueira e escritora santa-mariense Paula Pfeifer, que mantém o Crônicas da Surdez desde 2010, vai lançar um projeto para ajudar surdos que ouvem - como ela costuma se referir às pessoas que possuem implantes cocleares. Mas a possibilidade de por em prática a ideia, que tem previsão de início para o ano que vem, foi o que mais surpreendeu a escritora. Inscrita na primeira edição do Facebook Community Leadership Program - um programa do Facebook com etapas sigilosas e que selecionou representantes do mundo todo para receber verbas a serem aplicadas em projetos que causem impacto na comunidade - ela será uma das residentes a receber U$ 1 milhão (cerca de R$ 3,7 milhões) para colocar o projeto em prática.

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Segundo Paula, que viajou até os Estados Unidos para conhecer os demais selecionados entre um grupo de mais de 6 mil inscritos, foi por meio de e-mail, em agosto deste ano, que ela ficou sabendo que faria parte do programa. Foi depois de palestrar em em dois eventos da rede social - o Summit de Acessibilidade e o Facebook Experiences - no ano passado, que ela ficou sabendo sobre as inscrições para o programa de liderança. E, quando soube que havia sido selecionada, a surpresa foi tanta que a escritora conta, brincando, que literalmente quase caiu da cadeira:

- Recebi o e-mail numa segunda-feira, e achei que seria fellow (categoria do programa que disponibilizou verba no valor de U$ 50 mil) e, dias depois, o meu mentor no processo me mandou um WhatsApp dizendo 'estamos muito felizes por ter você como residente representando a América Latina'. Na hora, primeiro me faltou ar, depois comecei a chorar e, então, liguei para o meu marido - que trabalha fervorosamente na causa dos surdos que ouvem comigo, pois é otorrinolaringologista - para contar a novidade - comentou Paula.

O projeto, que pretende atuar na doação de aparelhos auditivos e implantes cocleares, além de conscientizar a comunidade em geral a respeito da acessibilidade e deficiência auditiva, está em fase de desenvolvimento. A escritora afirma que a equipe está aberta a receber apoio de empresas que queiram atuar na causa dos surdos que ouvem, já que o fundo que será recebido do Facebook não cobrirá todas as despesas. 

A oportunidade recebida por meio da seleção, de acordo com Paula, é muito importante para a visibilidade da deficiência auditiva. Para ela, a possibilidade de ir até a Califórnia para conhecer a sede do Facebook, uma das redes sociais mais utilizadas por internautas do mundo inteiro, foi algo incrível.

- Pense num sonho. Foi assim! E um desafio auditivo intenso para mim, com 105 pessoas falando ao mesmo tempo, em inglês, com os mais variados sotaques. E aí percebi como a tecnologia é maravilhosa: sou uma surda profunda que ouve, fala, se comunica em outras línguas e enfrenta qualquer desafio graças aos implantes cocleares. Uma gigante do Vale do Silício endossar a causa dos surdos que ouvem - e que querem ouvir - é uma oportunidade de ouro.

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Mas mesmo com os avanços conquistados ao longo dos anos, a escritora relata que, ainda em 2018, existem dificuldades em reconhecer a importância da tecnologia no auxílio de casos de deficiência auditiva. 

- Somos invisíveis dentro da deficiência auditiva, pois o senso comum e a mídia acham que surdez é sinônimo exclusivo de língua de sinais. Isso precisa ser amplamente divulgado e difundido aos quatro cantos do mundo, para que todas as pessoas saibam que têm a opção de voltar ao mundo dos sons, se assim desejarem - finaliza.