criminalidade

Em uma semana, três motoristas de aplicativo foram assaltados em Santa Maria

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Foto: Renan Mattos (Diário)

Era por volta de 3h da madrugada do dia 17 de junho, quando um motorista de aplicativo, de 37 anos, que prefere não ser identificado, foi chamado para uma corrida na região do Ginásio do Pinheirão, no Bairro Pinheiro Machado, zona oeste de Santa Maria. No carro, ingressaram quatro pessoas: três homens e uma mulher. O motorista levou-os até o destino, onde demoraram alguns minutos, e aguardou para conduzir o grupo de volta ao local de origem da corrida. 

Conforme o motorista, parecia mais uma corrida normal. Os passageiros foram educados e, durante o trajeto, falaram sobre a pandemia e outras amenidades. Os três rapazes usavam máscara e a mulher estava sem. Só que, ao retornarem ao entorno do Ginásio do Pinheirão, na Rua Vitória, o grupo começou a agredir o condutor com socos e coronhadas.

- Em nenhum momento anunciaram um assalto. Só começaram a me bater. Eu gritava que era pai de família, que podiam levar meu carro e meu dinheiro, mas que parassem de me bater. Mas eles não pararam. Foram longos minutos assim, dentro do carro. Eu tentava me desvencilhar para abrir a porta, mas não conseguia. Em nenhum momento revidei, só queria sair vivo dali. Eu já estava um pouco tonto, não entendia muita coisa, quando consegui escutar a mulher falar: "dá uma facada nele, porque ele não vai apagar". Neste momento eu entendi que, se não saísse dali, iria morrer. Num momento de desatenção deles, consegui abrir a porta e caí do lado de fora - conta.

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O motorista, então, se afastou um pouco do veículo e os criminosos fugiram levando o carro, o celular e a carteira do homem. 

- Por sorte, eu havia colocado todo o dinheiro que consegui naquela noite nos bolsos, então eles não levaram. Eu até falei para eles que estava com o dinheiro no bolso, que dava para eles, para pararem de me agredir. Mas não deram ouvidos. Foi de uma violência extrema, uma covardia, não precisava disso - relata.

Logo depois, uma viatura da Brigada Militar encontrou o motorista e ajudou-o. Em 40 minutos, já conseguiram recuperar o carro, que foi abandonado em uma rua próxima, e os documentos que estava jogados no chão. Os bandidos teriam ficado com cerca de R$ 50 e algumas moedas que estavam no veículo, um rádio e o celular. 

Junto com a BM, o homem foi até o Pronto-Atendimento Municipal, no Patronato, onde recebeu atendimento médico e, posteriormente, fez o registro da ocorrência policial. Os principais ferimentos da vítima foram no rosto. Apesar de tudo, ele ainda quer voltar a trabalhar como motorista de aplicativo. 

- Eu só pensava na minha família. Queria sair vivo do assalto. Os bens materiais, o dinheiro, a gente recupera depois. Mas a vida, não. Esses dias eu entrei no meu carro de novo, e só consegui chorar lembrando de tudo o que aconteceu. Agora, eu quero lutar para que isso não aconteça mais com colegas meus. Nós estamos sim muito expostos trabalhando na noite. Por isso, a partir de agora, vou ficar sempre em contato com outros motoristas que trabalham no mesmo horário e grupos de monitoramento para ter um pouco mais de segurança - afirma.

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Conforme o delegado Marcelo Arigony, titular da 2ª Delegacia de Polícia de Santa Maria, o caso está sendo investigado e ainda não foi possível chegar à identificação dos criminosos. 

TRÊS CASOS EM SETE DIAS
De acordo com o delegado regional Sandro Meinerz, três ocorrências envolvendo assaltos a motoristas de aplicativo foram registradas nos últimos dias em Santa Maria. Além do caso do Bairro Pinheiro Machado, dia 17, ocorreram outros dois roubos em 12 e 19 de junho. 

Os três casos, conforme Meinerz, ocorreram durante a noite. Em um dos crimes, a vítima era uma mulher, e os próprios colegas de profissão localizaram os assaltantes e detiveram-nos até a chegada da polícia. 

- Pelo que analisamos, são casos isolados, bem pontuais. É possível dizer sim que houve um aumento desse tipo de crime, porque antes as estatísticas eram praticamente zeradas. No mês de maio, por exemplo, não houve nenhum assalto a motorista de aplicativo. Mas, para quem trabalha na noite, é necessário sempre redobrar os cuidados - afirma.

O delegado recomenda que, quem trabalha como motorista de app, tenha atenção com atitudes suspeitas dos passageiros, evite locais mal iluminados à noite e sempre dê preferências a rotas e corridas em locais com maior movimentação de pessoas.

- Esses casos que envolvem assaltos e agressões sempre são a nossa prioridade, até porque, se o criminoso fez isso uma vez, pode fazer de novo - salienta Meinerz. 

ASSOCIAÇÃO QUER MAIS SEGURANÇA
O presidente da Associação dos Motoristas por Aplicativos de Santa Maria (AMAPSM), Tiago da Rocha Cervo, relata que está em contato com os órgãos de segurança e busca alertar os condutores sobre os recorrentes assaltos, agressões e ameaças sofridos durante as corridas realizadas, especialmente no período da noite e da madrugada.

- Estamos preocupados não só com a segurança dos motoristas associados, mas também dos passageiros. A associação busca resposta imediata no combate à criminalidade que afronta a classe. Desde o surgimento da pandemia de Covid-19, a classe já sofre com a diminuição de corridas e também mantém cuidados redobrados diante do risco de contaminação. Tal situação, aliada ao considerável aumento da criminalidade, fez com que colegas, inclusive, viessem a abandonar a profissão, temerosos por suas vidas, haja vista que a atividade começou a ficar cada vez mais perigosa - comenta Cervo.

O presidente ressalta que os motoristas estão realizando monitoramento em conjunto durante o horário de trabalho. Além disso, para garantir mais segurança, a associação pede também que os passageiros tenham certos cuidados: 

- Contamos com o apoio dos passageiros, destacando ser imprescindível que o passageiro coloque foto em seu perfil no aplicativo utilizado. A avaliação do passageiro é levada em consideração no momento que uma corrida é aceita pelo motorista. Solicitamos também que a chamada seja feita pela pessoa que irá, de fato, embarcar, não fazendo a chamada por terceiros. Nós repudiamos o uso descomedido da violência e ressaltamos os riscos da reação a um assalto.

*Colaborou Janaína Wille

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