Foto: Eduardo Ramos (Diário)
Até maio de 2022, foram geradas cerca de 29 mil toneladas de lixo em Santa Maria. Apesar dos resíduos necessitarem de tratamentos diferentes, por aqui, tudo ainda entra na categoria rejeito, é misturado e enviado para o aterro sanitário da cidade, localizado no Distrito de Santo Antão. Para manter este sistema são desembolsados cerca de R$ 2 milhões por mês. Porém, os custos podem ser maiores já que o destino incorreto de materiais onera tanto o meio ambiente quanto a própria economia do município.
– Se pensarmos na fração orgânica e de recicláveis, a gente perde dinheiro porque gastamos enterrando e perdemos de ganhar recursos. O resíduo orgânico tem valor se virar um composto. O reciclável, se volta para a cadeia produtiva, também tem um valor. Então, é bem preocupante, o nosso município ainda não ter conseguido alcançar as metas da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que é de 2010 – afirma Marilise Mendonça Krügel, bióloga e coordenadora da gestão ambiental da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Mesmo após 12 anos da PNRS, Santa Maria não conseguiu implantar uma coleta seletiva efetiva. Na verdade, tentativas foram feitas, mas sem resultados positivos. Em 2019, por exemplo, a prefeitura instalou containers laranjas para a coleta de recicláveis. A ideia era encaminhar estes resíduos para associações e cooperativas, responsáveis pela triagem e envio do material para a reciclagem. No entanto, o que chegava até estes locais não era aproveitado, já que no container eram depositados qualquer tipo de resíduo.
– Foi uma ação implantada no afogadilho, teve uma boa intenção, mas não adianta fazer correndo ou de uma forma desestruturada porque não vai dar certo. O insucesso foi pela falta de preparo antecipado da ação e pela falta de ações contínuas para mobilizar a comunidade para saber o que era pra ser colocado em cada contêiner e qual seria o destino daquele resíduo. Não é uma campanha pontual, de vez em quando, que vai desenvolver consciência na comunidade e um senso de pertencimento, de zelo pelo espaço, de enxergar a rua ou o bairro como uma extensão da sua casa – avalia Marta Tocchetto, doutora em engenharia de materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professora da UFSM.
Na prática, como o modelo não avançou, hoje, permanecem apenas a coleta containerizada e a convencional em Santa Maria. A primeira é feita com cerca de 600 containers brancos espalhados pela região central da cidade. O material depositado nestes espaços é recolhido pela empresa Conesul. Em alguns bairros opera ainda a coleta convencional, porta a porta, com coleta realizada pela empresa Sustentare. O destino final de ambas é o aterro sanitário, administrado pela Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR). Os contratos do município com estes três prestadores de serviços já receberam aditivos para prorrogar a vigência da coleta e dois vencem em 2022.
A perspectiva é renovar e aperfeiçoar este modelo que está em funcionamento e, ainda, lançar uma nova licitação para a coleta seletiva até o final deste ano. De acordo com o secretário de Infraestrutura e Serviços Públicos, Ricardo Dutra, a pandemia atrasou as mudanças:
– A coleta seletiva não funciona só colocando os containers, ela é um conjunto de ações que precisam ser aplicadas para ter eficácia. Tem todo um sistema de destinação final e também não dá para esquecer a assistência e o tratamento aos catadores. De 2019 para cá, pelas razões conhecidas da pandemia, não conseguimos mobilizar uma ação mais efetiva de educação ambiental no âmbito da coleta seletiva. Passado esse período, estamos planejando avançar. Quanto ao modelo, precisamos considerar o reflexo financeiro e a eficácia do sistema, uma vez que algumas melhorias podem implicar em maiores custos. Naturalmente os modelos existentes, quando forem reajustados, terão reflexos financeiros. A equipe de engenharia está analisando, junto com o governo, para definirem o melhor sistema para o município.
Impactos
Na avaliação de Marta Tocchetto, o cenário atual é desanimador para a população santa-mariense:
– É extremamente desestimulante para uma comunidade fazer a separação e saber que depois tudo é tratado como rejeito e acaba no aterro da cidade sem nenhum tipo de benefício social, para as associações, e, muito menos, ambiental.
Para Margarete Vidal, coordenadora da Associação de Selecionadores de Materiais Recicláveis (Asmar), em funcionamento efetivo, a coleta seletiva seria fundamental para aumentar a venda dos materiais e contribuir com a manutenção da sede.
– O gasto que temos dentro da associação é muito grande com combustível, alimentação, água, telefone e luz. Como o preço de cada material é de centavos, custa muito para a gente conseguir um valor alto que dê para pagar contas e sobrar algo para o pessoal. O que sobra, na verdade, é o mínimo. Para a gente ir lá em Camobi, por exemplo, para buscar uma quantidade de material pequena, vai nos causar prejuízo, porque vamos gastar combustível e o material não vai ser suficiente para pagar isso. Então, se tivesse mais resíduo, com qualidade, ajudaria e ficaria equilibrado.
Onde destinar os rejeitos e os resíduos orgânicos/recicláveis em Santa Maria?
Para além de um cenário ideal, com alternativas que englobam a iniciativa do poder público, a proteção do meio ambiente também envolve um esforço individual. Neste contexto, Santa Maria também não avançou e a educação ambiental não é uma realidade, conforme avaliação de Marilise Mendonça Krügel. Para a professora, o município tem o dever de oferecer as soluções, mas a população precisa usá-las de forma correta.
– Não adianta, por exemplo, a prefeitura colocar um PEV de vidro e as pessoas depositarem papel higiênico ou resto de comida no local. A questão da coleta seletiva e do gerenciamento de resíduos não é obrigação somente do poder público, é individual também, porque a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) fala de gestão compartilhada. Todos nós somos geradores e devemos ter compromisso com nosso lixo. Não cabe mais omissões, cada um tem uma parcela na solução desse problema. As pessoas têm que se sensibilizar, temos que olhar o que está por trás do nosso consumo e das nossas escolhas – afirma Marilise Mendonça Krügel.
Para isso, é necessário repensar hábitos, o que pode reunir mudanças mais simples, como não utilizar sacos plásticos, canudos e copos descartáveis (utensílios que podem ser substituídos por outros materiais) até as mais complexas, como criar ou comprar uma composteira doméstica ou comunitária, por exemplo.
– É óbvio que a ação individual tem repercussão no conjunto, mas mesmo assim, precisa ser incentivada e estimulada. O ambiente não pode esperar, não é possível que eu não tenha responsabilidade e consigo achar que tenho justificativa para não fazer a separação do meu resíduo porque não tem coleta seletiva que passa na porta da minha casa. A responsabilidade é do poder público, das empresas, do comércio e de todos nós. Isso não quer dizer que porque um não faz e empurra com a barriga que eu não vou fazer. O problema ambiental no planeta é urgente e precisa que todos se mobilizem – afirma Marta Tocchetto.
Enquanto a coleta seletiva ainda não está em pleno funcionamento, confira as alternativas existentes em Santa Maria para o descarte correto de resíduos.
Alternativas
Resíduos recicláveis
O que são?
- Papéis, vidros, plásticos e metais
Onde depositar?
- Separar em casa e encaminhar para associações e cooperativas de reciclagem ou depositar em algum PEV (confira lista abaixo)
Em Santa Maria, três cooperativas recebem resíduos recicláveis: a Associação de Selecionadores de Materiais Recicláveis (Asmar), a Associação de Reciclagem Seletiva de Lixo Esperança (Arsele) e a Associação Noêmia Lazzarini.
A coleta porta a porta da Asmar, por exemplo, é destinada para 28 bairros da cidade. Na prática, dois caminhões recolhem os resíduos de segunda a sexta-feira. A rota é definida previamente conforme agendamentos da comunidade. Após a coleta, o material é encaminhado para a sede da associação, passa pela triagem e, posteriormente, é prensado para venda.
– Recebemos qualquer tipo de material reciclável que possa ser colocado no mercado. Trabalhamos com papel, plástico, sucata e vidro. Os locais que trabalhamos sempre vem com um bom material, até porque, sempre conversamos com as pessoas, pedindo uma melhor qualidade para nossa matéria prima – relata Margarete Vidal.
Para ser incluído na rota da coleta e fazer a destinação correta dos resíduos recicláveis, a comunidade pode fazer agendamento pelo email [email protected] ou pelo telefone (55) 98111-0146. Também é possível levar o material até a sede da Asmar, na Rua dos Branquilhos, número 79, no bairro Nova Santa Marta, na Vila Pôr do Sol, de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 17h30min.
Resíduos orgânicos
O que são?
- Restos de alimentos, como cascas, sementes, polpas, ossos, casca de ovo, e resíduos verdes como grama cortada e folhas secas
Onde depositar?
- Em composteiras domésticas/comunitárias ou em biodigestores
A compostagem é uma das técnicas utilizadas para reciclar os resíduos orgânicos. Na prática, a matéria depositada em uma composteira passa pelo processo de degradação e transforma-se em adubo orgânico. O líquido gerado no processo pode ser utilizado para fertilizar o solo, em jardins, vasos de plantas e hortas. Uma das formas mais usuais para fazer a compostagem é por meio de caixas, na qual, em cada compartimento ocorre uma etapa da técnica: depósito dos materiais, degradação e produção do húmus.
Outra forma de destinação dos resíduos orgânicos é o biodigestor, equipamento que também realiza a decomposição da matéria orgânica e gera, além do adubo, o biogás.
– No momento que fazemos o tratamento do resíduo orgânico temos como possibilidade o aproveitamento dos gases para geração de energia elétrica. Eu adquiri um biodigestor, onde coloco todo resíduo orgânico e tenho como produto final desse processo uma fração líquida, que é o biofertilizante para jardins, hortas, gramados, e o biogás, que utilizo no meu fogão. Então, eu tenho uma economia em termos de comparação com o gás liquefeito de petróleo ao mesmo tempo que não estou deixando esse gás ir para a atmosfera e ser mais um contribuinte para as mudanças climáticas – explica Marta Tocchetto.
Rejeitos
O que são?
- Papel higiênico, absorventes, fraldas, chiclete, rótulos de embalagens, material escolar, fitas adesivas e etiquetas
Onde depositar?
- Containers brancos na região central e em sacolas nas frentes das residências, nos bairros
Materiais que não se enquadram na categoria dos recicláveis ou dos orgânicos, ou seja, não podem ser reaproveitados ou reciclados. Estes resíduos já esgotaram a vida útil e devem ser encaminhados para o aterro sanitário. Para isso, a comunidade pode depositar os rejeitos nos contêineres brancos, da coleta convencional da cidade.
PEVs
Os Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) incluem tanto os resíduos recicláveis quanto aqueles que não fazem parte das categorias mencionadas acima, como eletroeletrônicos, óleo de cozinha e inservíveis, por exemplo. Confira abaixo os PEVs que recebem estes resíduos em Santa Maria:
Shopping Praça Nova
O que recebe?
- Plástico: garrafas, sacolas, embalagens, etc. (lavados e sem restos)
- Vidro: frascos, garrafas de bebidas (lavados e sem tampas)
- Papel: jornais, papéis, revistas, caixas, etc
- Metal: latas, molduras de quadros, etc
- Óleo: óleo de cozinha usado (armazenado em uma garrafa pet)
- Lacres: lacres retirados de garrafas em geral
- Tampinhas: tampas de garrafa pet
- Eletrônicos: aparelhos eletrônicos e resíduo tecnológico
- Pilhas e baterias: pilhas e baterias de lítio e chumbo
- Lâmpadas: lâmpadas fluorescentes e de LED
Resíduos podem ser depositados sem custo na Praça Eco, das 10h às 22h.
Escola Santa Catarina
O que recebe?
- Vidro e aparelhos eletrônicos
- Endereço: Rua Visconde de Ferreira Pinto, n. 349, Bairro Itararé
Eco Santa Gestão Integrada de Resíduos
O que recebe?
- Isopor
- Plástico
- Resíduos da construção civil – alvenaria, alvenaria com resíduos, gesso comum, gesso acartonado, madeira de obra
- Inservíveis da linha branca: máquinas de lavar, geladeiras, máquinas de secar, máquinas de lavar louça, freezers
- Resíduos inservíveis móveis: verificar com a empresa qual tipo aceitam
- Endereço: BR-158, n. 440, Bairro Pinheiro Machado
- Telefone: (55) 3222-9999
Ecotires Soluções Ambientais Ltda
O que recebe?
- Pneus por meio de agendamento de coleta pelo site ou telefone (55) 3263-2393
Maringá Metais
O que recebe?
- Vidros (todos os tipos)
- Componentes eletrônicos: monitor com tubo, estabilizador/no break, placas vídeo-mãe, aparelhos celulares, impressoras, memórias, HDs, conectores, coolers, fontes, fios e cabos de força, processadora de cerâmica, processador de acrílico, drives e disquetes, cd-rom, teclados, mídias (cds ou dvds), mouses
- Inservíveis da linha branca: máquinas de lavar, geladeiras, máquinas de secar, máquinas de lavar louça, freezers
- Endereço: Rua Miguel de Carvalho Macedo, n. 250, Bairro Uglione
- Telefone: (55) 3213-2074E-mail: [email protected]
Lâmpadas fluorescentes
De acordo com a Lei Municipal n.º 5.539/2011, os estabelecimentos comerciais revendedores de lâmpadas ficam obrigados a recebê-las. Após seu esgotamento energético ou sua vida útil, os usuários devem entregá-las nesses locais (hipermercados, supermercados, mercearias de bairros, lojas que comercializam materiais de construção, lojas de material elétrico, distribuidores, atacadistas e comércio em geral autorizado a comercializar este tipo de produto).
Desde 2016, UFSM conta com coleta seletiva
Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o sistema da coleta seletiva foi implantado em 2016. Na prática, o processo ocorre em três etapas: os resíduos depositados nas lixeiras do campus de Camobi são separados, descartados em containers específicos para cada lixo, e, posteriormente, encaminhados para o destino correto.
As lixeiras coloridas são destinadas para resíduos recicláveis. O material é recolhido por uma equipe da instituição e colocado em containers verdes para posteriormente encaminhar para as três associações de reciclagem da cidade.
A mesma equipe também é responsável pela coleta dos rejeitos, que, em um segundo momento são colocados em containers pretos. Este material é recolhido pelo serviço de coleta municipal e encaminhado para o aterro sanitário.
Os laboratórios da instituição contam com espaço específico para descarte de resíduos químicos ou infectantes.
Já os orgânicos possuem baldes brancos armazenados em alguns locais do campus e no restaurante universitário. Estes resíduos fazem parte da coleta interna e são destinados para a Usina de Compostagem do Colégio Politécnico da UFSM.
Este sistema está em fase de ampliação e ainda não atende todos os prédios da universidade. Assim, os orgânicos depositados nas lixeiras coloridas são recolhidos pela empresa contratada pela prefeitura e destinados para o aterro sanitário.
PEVs para a comunidade
A coleta seletiva que ocorre dentro da UFSM é destinada somente para os resíduos gerados na própria universidade. Porém, a instituição possui alguns pontos de entrega voluntária para a comunidade deixar resíduos de eletroeletrônicos e óleo de cozinha.
Eletroeletrônicos
- Fios, cabos, aparelhos celulares e baterias de celulares
Onde descartar?
- Em coletores verdes localizados nos seguintes espaços:
- Anexo A do Centro de Tecnologia (CT)
- Subsolo do Hospital Universitário (Husm)
- Comitê Ambiental da Casa do Estudante (CEU)
- Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE)
Óleo de Cozinha
- Orientação: armazenar em embalagem PET
Onde depositar?
- Reitoria
- Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH)
- Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE)
- Prédio 16 do Centro de Educação (CE)