Dia do porteiro

Conheça Rony Kroth, que há quase três décadas recepciona os visitantes de um dos prédios mais tradicionais de Santa Maria

Conheça Rony Kroth, que há quase três décadas recepciona os visitantes de um dos prédios mais tradicionais de Santa Maria

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Localizado em uma das avenidas mais movimentadas de Santa Maria, está um dos prédios mais tradicionais da cidade: o Edifício Guanabara. Com mais de 40 anos, o prédio marcado pelas pastilhas verdes e amplas escadas na Avenida Presidente Vargas abre as portas para que a história de um grande personagem do local seja contada.


Nesta sexta-feira (9), Dia do Porteiro, Rony Kroth  é o protagonista. Um senhor de 67 anos, alto, cabelos brancos, olhos azuis e risada larga. Responsável pela portaria do prédio há 25 anos, já se tornou parte do local, mas não somente pela função desempenhada com qualidade e dedicação, mas também porque sua história se entrelaça ao prédio há mais tempo: na construção do edifício.


Rony trabalhou na construção do prédio, em meados de 1975. Quando a obra terminou, ele procurou emprego em outro lugar. Anos depois, o local precisava de um porteiro de confiança, e os primeiros moradores do edifício não tiveram dúvidas: ele era a pessoa perfeita para isso. No dia 4 de maio de 1998, ele retornou ao local que ajudou a construir.


De lá para cá, se vão quase três décadas na portaria. E não é difícil perceber por quais motivos ele está no local há tanto tempo. Além do trabalho, há uma troca recíproca de carinho e declarações de amizade com os moradores dos 60 apartamentos espalhados em 15 andares. 


Conforme vamos conversando, nossa entrevista é interrompida por alguns condôminos, que fazem questão de cumprimentar o funcionário, perguntar como ele está e ressaltar a importância que ele tem. Não somente para o funcionamento da portaria, mas também na vida de cada um.


– Rony é mais que um porteiro, é um amigo, ele é uma pessoa do bem. Merece tudo de bom na vida dele – afirma Ana Maria Andrade, 85 anos, moradora há 43 anos do local.


Com 67 anos de idade, seu expediente inicia às 6h40min. Logo que chega, prepara seu café e lê o jornal na portaria mesmo. Como começou a trabalhar muito jovem, poderia pensar em descansar, mas não pretende parar. Para ele, “trabalhar” nem seria a palavra certa, já que enxerga o que faz como algo extremamente prazeroso, que não deseja largar tão cedo.


– Eu me aposentei em 2011, mas sigo trabalhando aqui. Poderia ter ido descansar, mas eu gosto daqui. Não é nem uma segunda casa, é uma extensão da minha casa.


Esse sentimento também é compartilhado pelos moradores, que descem na portaria para conversar, tomar um chimarrão e colocar o papo em dia. Não existe uma restrição na relação entre porteiro e morador; é a amizade que prevalece.


– É o que eu mais gosto. Quando um morador desce para conversar, conta algo que aconteceu no seu dia, eu paro para conversar… uns gostam de futebol, outros de política. Gosto dessa troca – confessa o porteiro.


Gremista fanático, ele conta que entra na rivalidade futebolística com alguns moradores colorados, mas de forma saudável. Até quando o assunto é futebol, a troca de carinho é presente:


– Esses dias, chegou uma moradora aqui que o marido dela, diretamente de Porto Alegre, falava com ela ao telefone. Ela disse que ele queria falar comigo. Quando atendi, ele queria contar que almoçou com os jogadores gremistas Suárez e Felipe Carballo e lembrou de mim. Poxa, o cara tá em Porto Alegre e lembrou de mim! Acredita? Me mandou foto e tudo.


Quem também compartilha o carinho pelo porteiro do seu prédio é Leila Agne Ritzel, de 80 anos. Ela chegou ao Guanabara em 2007, após ficar viúva. Seus filhos não queriam que ela ficasse sozinha, especialmente por conta da idade. Mesmo morando só, ela afirma que não sente solidão, pois tem a quem recorrer sempre que precisa.


– Ele me dá segurança, eu me sinto protegida aqui. Ele se molda para resolver os nossos problemas no prédio. Somos, em nossa maioria, idosos e precisamos de mais atenção. 


Com o avanço da tecnologia, muitos condomínios retiraram os porteiros e adicionaram portaria eletrônica aos prédios. O assunto até chegou a ser cogitado na assembleia, mas não foi para frente, justamente pelas necessidades dos moradores mais idosos.


– São quatro porteiros ao total por aqui, mas o seu Rony é quem está há mais tempo. Na época em que esse assunto foi cogitado, todo mundo desceu em assembleia e vetou. Por aqui ter porteiro não é luxo, também é necessidade – conta Leila Agne.


A grande maioria dos moradores do prédio são proprietários e idosos. Estando há 25 anos lá, é natural que tenha contato com diferentes gerações.


Exemplo disso é Rafaela Mascarenhas, de 23 anos, que se mudou para o prédio quando criança. Atualmente, não mora mais lá, mas sempre aparece para visitar os familiares e matar a saudade de seu Rony:


– Não tem como falar do Guanabara sem falar do seu Rony. É um dos grandes personagens que temos por aqui. Não é somente um porteiro, com funções operacionais, é um ser humano que trata a gente com carinho. Confio demais nele.


Placa de homenagem

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Rony completou 25 anos na portaria do Guanabara no dia 5 de maio e os moradores não deixaram essa data passar em branco. De surpresa, ganhou uma placa dourada de homenagem. Ele conta o que sentiu quando recebeu o presente:


– Eu não sabia da placa! Percebi uma movimentação estranha no salão de festas do prédio. Eu comecei a me perguntar: o que está acontecendo? Na verdade eles se reuniram com a síndica Carina para me entregar a placa, fiquei emocionado. Mas isso é bom né? Significa que sou especial para eles.


Rony afirma que não se enxerga parando de trabalhar, muito menos longe das tarefas da portaria e do Guanabara. Quem reforça esse sentimento é o condômino Elias Pacheco, de 77 anos, que mora há 40 no local:


– Rony não vive sem o Guanabara e a gente também não se imagina sem o Rony aqui. É recíproco. 


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