Chuva ameniza estiagem, mas agricultura não recupera prejuízo bilionário

Eduarda Costa

Chuva ameniza estiagem, mas agricultura não recupera prejuízo bilionário
Fotos: Pedro Piegas (Diário) 

Depois da seca que atingiu gravemente todas as 39 cidades da Região Central, o volume de chuva registrado em março amenizou a situação. No entanto, os níveis de água não atingiram a média registrada no período pré-estiagem e não reverteram o prejuízo causado aos agricultores e famílias que vivem no interior. A 157 quilômetros de Santa Maria, no período mais crítico da estiagem, a Defesa Civil do município de Santiago chegou a fornecer água para 201 famílias afetadas. O prejuízo para os municípios da região chega R$ 2,5 bilhões.

Em Santa Maria, segundo acompanhamento dos níveis dos rios realizados pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), duas das barragens que abastecem a cidade ainda estão abaixo do nível normal, apesar de apresentarem aumento do volume de água se comparado aos meses de janeiro e fevereiro. A barragem do DNOS, por exemplo, está atualmente a 3,4 metros abaixo do nível normal. Em fevereiro, esse número chegou abaixo de 5,5 m. O reservatório fica no Bairro Campestre do Menino Deus.

 

Barragem de DNOS em 28 de janeiro 

Situação da barragem em 18 de abril

Na barragem Rodolfo Costa e Silva, é a maior da região e fica no limite entre os municípios de Itaara e São Martinho da Serra, no Rio Ibicuí Mirim, o nível segue o mesmo desde o início do ano, de 5 metros abaixo. Do início do ano até agora, houve uma variação de um metro, e o nível é considerado dentro do esperado, para a gestora geral da Corsan Andreia Zanini:

– Mesmo que a chuva não tenha aumentado o nível, está dentro da normalidade por conta do tamanho da barragem, para aumentar precisaria de muita chuva.

Além das duas barragens, ainda existe a Saturnino de Brito, em Itaara, que recebe a água da Rodolfo Costa e Silva. Porém, por não ser uma barragem de acumulação, ela está sempre em nível máximo.

ABASTECIMENTO DE ÁGUACom a estiagem e consequente falta de água, a Defesa Civil precisou abastecer as moradias que ficaram desassistidas. Segundo a prefeitura, nos três primeiros meses do ano, foram um total de 2,888 milhões de litros de água distribuídos. Fevereiro foi o mês com maior número de litros reabastecidos, e março o com menos, com uma queda de 56,46%

Agora em abril, segundo o superintendente da Defesa Civil de Santa Maria, Adão Lemos, com as chuvas dos últimos 15 dias, o abastecimento diminuiu, com a maioria dos pontos destinados para o consumo animal. Os números, no entanto, só são divulgados ao final do mês.

Água distribuída pela Defesa Civil em 2022:

Janeiro: 969.220 litros

Fevereiro: 1.226.350 litros

Março: 692.500 litros

AGRICULTURASegundo o informativo conjuntural emitido pela Emater, as chuvas de fevereiro fizeram com que o cultivo tivesse um breve prolongamento, o que levou os agricultores a antecipar o corte, devido à previsão de continuidade de chuva.

Das lavouras de arroz, por exemplo, cerca de 64% foram colhidas e 15% foi perdido. O restante estaria entre as fases de “enchimento de grãos e de maturação fisiológica”. Já no caso do cultivo da soja, a redução de produtividade estimada é de 60%, resultando em aproximadamente 1.050 kg por hectare obtidos.

NA REGIÃOOs prejuízos em decorrência da estiagem ainda estão sendo calculados na região. As perdas vão desde a morte de parte da pastagem natural, até de plantações e morte de animais. O abastecimento de água potável para o consumo humano também foi prejudicado nos 39 municípios da região. Com a seca de poços e reservatórios, em janeiro deste ano cerca de 3,5 mil famílias ficaram sem acesso à água.

No final de janeiro todos os municípios da Região Central estavam em situação de emergência devido à estiagem. Segundo levantamento feito pela Emater na época, os prejuízos decorrentes da seca já chegavam a R$ 2,5 bilhões.

Em março, entretanto, a situação começou a melhorar. O mês registrou chuvas acima da média e marcou o início de uma nova estação. Mesmo assim, o aumento das chuvas foi tardio para a recuperação da safra deste ano. Isso é o que explicam os órgãos responsáveis de quatro cidades da região consultadas pelo Diário.

SANTIAGO

Em Santiago, a 157 quilômetros de Santa Maria, a Barragem do Lajeado Pinheiro chegou a níveis críticos. O reservatório marcou 6 metros, sendo 10 metros a capacidade. Conforme a Defesa Civil do município, com a chuva registrada em março, houve uma amenizada na estiagem, mas ainda há locais onde os níveis normais não retornaram. O órgão chegou a entregar um milhão e meio de litros de água para famílias atingidas no interior.

Já a Emater informa que apesar de o nível da água nos rios Itu, Rosário e Taquarembó terem voltado ao normal, as perdas nas safras de verão são irreversíveis. Estima-se cerca de 80% de perda nas colheitas de soja. A pastagem nativa e as fontes de água para animais já foram recuperadas. No período mais crítico, Santiago chegou a distribuir água para 201 famílias. Atualmente cerca de 5% a 10% seguem sendo atendidas.

JÚLIO DE CASTILHOS

Em Júlio de Castilhos, foram perdidos cerca de 80% dos 100 mil hectares de soja plantados. Conforme a Emater, o nível dos rios Ivaí, Passo dos Buracos, Toropi, Guassupi, Melo, Soturno e Massui voltaram aos níveis do período pré estiagem. Para a safra de verão a chuva chegou tarde, essas culturas têm um ciclo sazonal e, com o outono, não respondem mais. Conforme a Secretaria de Agricultura do município, 30 famílias foram atendidas com distribuição de água, atualmente três seguem recebendo o auxílio.

Foto: Emater/ DivulgaçãoEm dezembro de 2021 lavouras de soja já apresentavam danos pela seca

 

TUPANCIRETÃ

Os principais rios do município, Jaguari, Toropi e Ivai, recuperaram os níveis de água. Segundo a Emater, a colheita dos 148 mil hectares de soja, renderam de 10 a 11 sacas por hectare. Em safras anteriores, o número variava entre 55 e 58 sacas. Nas plantações de milho, as perdas chegaram a 80%. A prefeitura de Tupanciretã chegou a abrir ou revitalizar 200 bebedouros para animais. Já para o consumo humano, são 40 famílias atendidas.

SÃO GABRIEL

A Defesa Civil do município chegou a distribuir água para 85 famílias. Atualmente apenas duas seguem recebendo o auxílio. O órgão informa que a situação no Rio Vacacaí está normalizada. O maior problema para os moradores do interior do município é a dependência de cacimbas, reservatórios de água abertos no próprio chão. A Emater de São Gabriel relata que com o aumento da chuva, as culturas de inverno estão garantidas. Porém, dados prévios indicam uma perda de 50% no cultivo da soja, sendo que em algumas lavouras o prejuízo chegou aos 80%.

Foto: Defesa Civil/ DivulgaçãoEm fevereiro, principal barragem de São Gabriel estava praticamente seca

Eduarda Costa e Denzel Valiente

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