Alfeu Bisaque Pereira: esse país parece que não tem jeito. Definitivamente

Redação do Diário

Alfeu Bisaque PereiraJuiz de Direito aposentado

Todos os dias, amanheço com a esperança de que surgirá, no noticiário escrito, televisivo e redes sociais, alguma coisa que me permita acreditar que se modificarão os comportamentos, as gestões da coisa pública e os projetos de governo em todas as instâncias: federal estadual e municipal. Assim seríamos uma federação funcionando em favor de toda a sociedade e todos seríamos felizes porque nossos governantes estariam permanentemente realizando nossos anseios comuns.

Infelizmente, a realidade é bem diferente dos meus sonhos nessas manhãs frias, dessa entrada de mais um inverno. O que vejo de algumas notícias são inimagináveis. Parece que saímos do regime de clausura pós Covid-19, felizmente, e as coisas de interesse público voltaram aos velhos costumes. Os shows presenciais estão levando multidões a louvarem seus artistas preferidos, especialmente os sertanejos, e não tenho nenhum preconceito desse gênero.

Cada um que ocupe seu espaço com as qualidades e capacidade que lhes sejam inerentes. Entretanto, isso não pode e não deve ser sustentado com recursos públicos originados dos impostos que todos pagamos e que devem servir para outras finalidades. Para o bem comum de todos. Bastou a liberação para concentrações de pessoas para que retornassem à cena, distorções antes comuns.

Faz algum sentido prefeituras de municípios pequenos – de 3 a 5 mil pessoas- pagarem, com recursos dos cofres municipais, R$ 1 mi por uma única apresentação de um artista para se apresenta a cantar por duas horas? Vários municípios contrataram assim.

O município de São Luiz, em Roraima, fez isso com o dinheiro dos seus 8 mil habitantes. Esse valor pago para exibição de duas horas do cantor preferido, corresponde 825 salários mínimos que sustentam 4.125 famílias durante 30 dias. Caramba! É a metade da população de todo o município.

Em Minas Gerais, o Ministério Público está investigando e já suspendeu vários shows, como o do município de Conceição do Mato Dentro que pagaria R$ 1.200.000 para um único artista. A prefeitura de Magé, no Rio de Janeiro, contratou um artista de 1.004.000 e, assim, prossegue a lista insana de desperdício do dinheiro público.

Lembro que, há alguns anos, isso era comum com a destinação de verba pública para times de futebol local, para o carnaval, para festas pagãs etc. Era uma festa. Depois, o Ministério Público começou a atuar. Hoje, já é bem mais restrito esse costume político. Não aprenderam e novamente alguém tem de fazer alguma coisa para que não se perpetue essa prática, especialmente em ano eleitoral.

Mas por que os gestores públicos insistem nessa prática? Porque essa é a prática mais fácil e mais eficaz na captação de votos. As pessoas, em geral, valorizam mais o político que trabalha dessa forma: proporciona lazer de graça, satisfaz um anseio imediato. Não exigem do gestor política duradoura e que beneficie a todos e não apenas seus partidários. Nenhum político diz como fará para diminuir a pobreza, o analfabetismo, a fome, a crise na saúde, o desemprego, etc. Dizem, no máximo, que darão atenção a essas mazelas, mas não dizem como farão, porque não farão. Simples assim.

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