Com a palavra

Advogada e professora conta sobre trajetória aliada ao movimento negro

Arianne Lima

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Deborá Evangelista é advogada, professora, coaching e militante do movimento negro de Santa Maria. Nascida e criada em Santa Rosa, ela cresceu ouvindo os planos que os pais, o funcionário público Pedro Jorge Thomaz e a merendeira Tereza da Silva Thomaz, tinham para o futuro. Por orientação da mãe, se tornou professora. Por vocação, decidiu ser advogada, criando um projeto de aceitação e empoderamento para ajudar e auxiliar o povo negro em diversas ações. Na entrevista, a assessora jurídica da ONG Igualdade conta um pouco sobre a própria trajetória. 

Diário - Você é filha de pai negro e mãe branca. Como construiu a sua identidade como mulher negra?

Deborá - Eu tinha a minha avó, que era daquelas mulheres negras decididas. Ela dava as ordens e era muito presente. E toda a minha criação acabou sendo em cima desta negritude existente. Para nós (eu e minhas irmãs Rosa e Sandra Thomaz), era tranquilo ser negro. Não havia problema nenhum. E isso é muito importante, porque eu sempre me identifiquei como negra. Sempre foi assim. Meus pais eram funcionários públicos e nós tínhamos as condições básicas de uma família de classe média. Não faltava nada, mas também não sobrava. Mesmo assim, acabei estudando em uma escola particular. Eu acredito que tive uma infância tranquila. Recebi muito estímulo para estudar muito e ser alguém na vida.

Diário - Por orientação da mãe, você deveria ser professora. Mas, você queria realmente ser advogada. Houve algum tipo de acordo? 

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Deborá - Sim. Para a minha mãe, era automático que eu seria professora e não havia dúvidas de que eu faria uma graduação. Só não se sabia ainda o quê seria. A mãe queria que eu fizesse Pedagogia, Educação Física, Letras... algo dentro das áreas de licenciatura. E eu queria fazer Direito. Então, a faculdade foi negociada. Por ser uma tradição de família, eu fiz o magistério e optei por fazer um técnico em contabilidade, para depois poder fazer o vestibular de Direito. Eu passei e não tive que pensar em uma segunda opção de graduação. Eu lembro que, aos 12 anos, eu já queria isso. Eu gostava e era muito encrenqueira. Então, no colégio, eu era líder de turma, presidente de diretório acadêmico e se tinha alguma confusão acontecendo, eu estava metida. E todo mundo reforçava que eu acabaria indo para o Direito. Então, foi natural.

Diário - Em 1992, você entra no curso de Bacharelado em Direito na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí). Como foi este período?

Deborá - Eu tomei um choque. Eu entrei na graduação sendo a menina que terminou o Segundo Grau, extremamente combativa, atuante e falante. Dou de cara com uma turma de colegas, a maioria de mais de idade e já com uma graduação. E eu tinha só 17 anos. Então, eu percebi que não sabia nada perto dos outros. Eu devo ter ficado uns dois anos sem falar dentro da faculdade de Direito até me situar. Mas, depois disso, foi mais tranquilo e eu terminei a graduação. A grande reviravolta foi a de que o plano da minha mãe, que eu fosse professora, retornou. Eu acabei a especialização em Direito, Cidadania e Desenvolvimento em 2005, e fui chamada para dar aulas de Direito Tributário. A partir daí, minha carreira passou a ser forjada na academia. Então, organizar e montar curso de Direito, contratar professor, buscar aluno, comprar livro, eu fiz todo o processo. E passei 20 anos, trabalhando com Ensino Superior.

Diário - E em que momento veio para Santa Maria?

Deborá - Eu estava em Santa Rosa, trabalhando na Fundação educacional Machado de Assis e meu marido, que é engenheiro agrônomo, havia feito mestrado e doutorado em engenharia de produção. Ele estava em constante conversa com o pessoal do curso de engenharia da produção da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), porque era muito convidado para ser avaliador de bancas. E avisaram que haveria concurso para a área dele na UFSM. Ele fez o concurso no início de 2009 e passou. Na metade daquele ano, ele veio para Santa Maria. E eu fiquei em Santa Rosa, com três filhos: Luiz Eduardo, Carlos Augusto e Fernando Henrique. Não deu certo. As crianças eram muito pequenas e eles não entendiam. Então, não teve jeito. Pedi para sair da faculdade onde dava aula, coloquei todo mundo dentro do carro e nos mudamos para cá. Eu não sabia o que esperar, mas tive muita sorte. Eu cheguei em dezembro de 2009 aqui e resolvi me inscrever em um concurso para dar aula na Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma). Eu queria dar aula. Já estava há 12 anos em sala de aula. Eu precisava disso. Passei no concurso, mas levei o meu currículo em todos os cursos de Direito da cidade. E a Fapas me chamou. Deu a coincidência de estarem precisando de uma coordenadora de curso. Eu aceitei e recomecei o processo. 

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