júri da kiss

'Eu tive uma chance de apagar o fogo, mas o extintor não funcionou', diz ex-vocalista

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Foto: Pedro Piegas (Diário)

O ex-vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, foi o último dos quatro réus do Caso Kiss a ser interrogado no júri. O músico respondeu a perguntas do juiz Orlando Faccini Neto e da própria bancada de defesa. Foi Marcelo quem estava com o artefato pirotécnico em mãos e ergueu o objeto, que tocou a espuma no teto da boate e deu início ao incêndio. Assim como os outros réus, ele também se emocionou ao lembrar a madrugada de 27 de janeiro de 2013. 

Marcelo confirmou que o uso de artefatos pirotécnicos era comum pela banda, inclusive na Kiss. Segundo o músico, nunca houve nenhuma restrição ou proibição do uso dos fogos na boate:

- Todo mundo sabia, não era desconhecido para ninguém.

Marcelo conta que no dia do incêndio não foi passar o som, pois estava ajudando o irmão em uma obra - Marcelo trabalhava como azuleijista, profissão que segue até hoje. Chegou somente no final da passagem e ficou pouco tempo. Voltou só por volta de 1h15min, já de madrugada, para se apresentar. Marcelo se emocionou ao lembrar que convidou a esposa para ir junto ao show, mas ela não foi. 

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O INCÊNDIO

O fogo iniciou quando Marcelo fazia a coreografia da música "Amor de Chocolate", do cantor Naldo. 

- Começou a música, fizemos a introdução e, quando deu o refrão, eu ergui a mão. Depois de um, dois minutos, alguém me cutucou nas costas. Era o meu irmão Márcio (percussionista da banda) dizendo que estava pegando fogo. E a banda continuava tocando. Eu olhei e vi uma chama no teto - relatou.

Um dos argumentos citados pela acusação é de que Marcelo, que teria um microfone em mãos, não teria avisado as pessoas sobre o incêndio no sistema de som. Questionado pelo juiz, ele diz que só pensou em apagar o fogo:

- Me alcançaram o extintor, eu olhei para o lado e gritei: "fogo, fogo, sai!". Eu peguei o extintor e tentei apagar o fogo. Eu tive uma chance de apagar o fogo, mas o extintor não funcionou. Eu entrei em desespero em cima do palco. Gritaram que iria vir mais extintores, mas não vieram.

SAÍDA 

O réu diz que não se lembra como saiu da boate, só do momento em que já estava do lado de fora da casa noturna.

- Eu só me lembro que eu pensei: eu vou morrer. Não sei como saí. Depois, quando eu me dei por conta, estava no meio das pessoas mortas, lá no estacionamento do Carrefour - lembrou. 

Perguntado pela defensora Tatiana Borsa se o músico se considera vítima da tragédia, afirmou que ainda tem dificuldades para lidar com as memórias:

- Era uma cena de horror. O dia 27 nunca saiu de mim. Eu acordo e durmo pensando no dia 27. Para mim, todo mundo que estava lá dentro era vítima

SAÚDE

Marcelo afirma que deixou de buscar ajuda médica para tratar sequelas da tragédia, por medo de represálias e vergonha de encontrar vítimas e familiares. Além disso, contou que ele e a mãe pegaram Covid-19 durante a pandemia. Os dois estiveram hospitalizados por causa da doença. Ela morreu, e Marcelo veio a ocupar o leito de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) que era da mãe. 

Muito emocionadas, esposa e filha do ex-vocalista estiveram em plenário acompanhando o depoimento.

- Um dia a minha filha, que tinha 6 ou 7 anos, chegou em casa e me perguntou: "pai, é verdade que tu matou o tio do meu coleguinha?" - disse, sem conseguir controlar o choro. 

Também pediu desculpas aos pais:

- Se eu fiz alguma coisa errada, peço perdão.

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