Fotos: Vinicius Becker
A 23ª Parada Livre LGBT+ da Região Central e 4ª Marcha Trans de Santa Maria ocorrem neste final de semana em Santa Maria. A programação, com atividades no sábado e domingo, das 17h às 22h, na Gare, será realizada após meses de planejamento, busca por recursos e mobilizações de coletivos locais.
+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp
Prevista no Calendário Oficial do Municipío desde 2011, a Parada Livre é construída por mãos e mentes que buscam respeito. Esse é o caso da produtora cultural e integrante da ONG Igualdade, Marquita Quevedo, 58 anos. Ao Diário, ela falou sobre como surgiu a ideia:
– Começamos a pensar na Parada Livre em 2001. Juntamente com a professora Martha Souza, que era ligada ao Consórcio de Saúde, realizamos uma parada em junho na Praça Saldanha Marinho. Fui eu, a Martha e um amigo nosso. Ou seja, foram quatro ou cinco pessoas, além das que passaram por ali. Montamos uma banquinha e essa foi a nossa primeira Parada Livre. Aquele ano, trabalhamos com a questão da visibilidade.
Ao longo dos anos, o evento passou por diversos locais. A segunda edição estava prevista para ocorrer próximo a Locomotiva da Avenida Presidente Vargas, mas a chuva e a final da Copa do Mundo levaram o evento para dentro de uma associação. A Parada Livre também já foi realizada no Parque Itaimbé. Mas, há cerca de 10 anos, está na Gare. Para Marquita, não foi só o endereço do evento que mudou com o tempo.
– A Parada vem se transformando ao longo dos anos, principalmente na questão das temáticas. Já abordamos diversos assuntos, até mesmo, o casamento, que estávamos tentando conquistar na época. As temáticas surgem das demandas e necessidades de cada momento. Estamos avançando também no sentido de temas mais políticos, para tentar criar uma militância na nossa cidade – diz Marquita.
Os avanços também são comemorados pela empresária e integrante da ONG Igualdade, Hellen Byanchini, que participa do evento há 22 anos. Do tempo dedicado ao evento, 15 foram como apresentadora.
– Minha primeira parada foi realizada na Avenida Presidente Vargas. Tornei-me apresentadora (da Parada Livre) há 15 anos. É uma tarefa um pouco difícil, porque uso muitos figurinos e faço trocas durante o evento. Para o palco, gosto de levar looks com tecidos fluidos, cores vibrantes, transparências e brilhos – conta.
Resistência
Em uma sala no Ambulatório Transcender, Marquita e Hellen relembram momentos marcantes e as adversidades enfrentadas pelo evento, que já chegou a receber mais de 4 mil pessoas em edições anteriores. Segundo Marquita, a Parada Livre tem contado com emendas impositivas para ser realizada. Neste ano, o evento, que sempre ocorre em agosto, recebeu recursos de duas parlamentares e do Estado, saindo do papel.
Para o professor e também integrante da ONG Igualdade, Luis Carlos Kunrath, 66, que participa do evento também desde o início, são fatores assim que tornam cada edição única e memorável.
– Para mim, (a edição mais marcante da parada) é sempre a última, porque a cada ano que passa, temos a satisfação do dever cumprido. A representatividade aumenta. E embora sejamos atacados por quem não entende o que é uma política de gênero, vemos que o nosso trabalho é reconhecido. Então, para mim, a última parada é sempre o ápice da nossa realização – explica.
No final de semana, o orgulho, a memória, a resistência, o respeito e o amor serão os principais pedidos feitos e reiterados por uma comunidade que cresce cada vez mais.
– A Parada Livre é um movimento político, social e cultural. É uma celebração à diversidade e à comunidade que luta diariamente pelo direito de ser quem se é. Esse é o nosso ato de resistência,resiliência e luta por políticas públicas para nossa comunidade. Então, esperamos por vocês – conclui a empresária.

"Lutamos para que essa geração que está chegando possa ter um envelhecimento tranquilo, com direito e dignidade"
O envelhecimento foi o tema escolhido para a 23ª Parada Livre LGBT+ da Região Central. Segundo o professor Luis Carlos Kunrath, a pauta busca refletir sobre as demandas e a trajetória de ativistas que iniciaram o movimento e, hoje, buscam visibilidade, respeito e direitos para uma longevidade com dignidade. Em 2024, o Brasil esteve entre os países com maior número de homicídios e suicídios de pessoas LGBT+ no mundo, sendo registradas 291 mortes violentas, segundo dados do Grupo Gay Bahia (GGB), fundado em 1980 e que é considerada a mais antiga organização não governamental LGBT+ da América Latina.
– É importante até para quem está chegando falar sobre isso. A nossa luta é todo dia. O nosso despertar já é uma resistência. Todo dia, você acorda com aquele espírito de luta e não sabe o que vai acontecer quando sair pra rua. Então, para mim, esse reconhecimento é super válido. Ele mostra para as outras pessoas que existe uma luz no horizonte. Vivemos no país que mais mata homossexuais. Então, você conseguir chegar na idade que eu cheguei, não tem explicação. É muito orgulho e amor – diz.
Para Marquita Quevedo, falar sobre as diferenças entre as gerações é também reconhecer que, mesmo com as dificuldades e o preconceito, a comunidade LGBT+ resistiu. Ela relembra que, antes de 2000, a população foi impactada pela epidemia de AIDS e pela ausência de direitos e acesso ao mercado de trabalho, em especial a população trans.
– Lutamos para que essa geração que está chegando possa ter um envelhecimento tranquilo, com direito e dignidade.Para que possam ter uma vida tranquila e pensar no futuro. Trilhamos e construimos um amanhecer melhor. A população LGBT não foi vista durante muitos anos e na sua velhice também foi invisibilizada. Então, queremos criar esse debate dentro da comunidade, de modo que se estenda para todos – conclui Marquita.
Participe
23ª Parada Livre LGBT+da Região Central
- Tema – Envelhecer LGBTs “Antigas vozes, Novos Orgulhos”
- Quando – Sábado e domingo, das 17h às 22h
- Onde – Gare de Santa Maria
4ª Marcha Trans de Santa Maria
- Quando – Domingo, a partir das 14h (concentração)
- Onde – Saída marcada para às 14h30min da frente da Câmara de Vereadores e chegada na Gare