volta às aulas

VÍDEO: sem transporte, aluno cadeirante é levado pela avó por um quilômetro na estrada de chão

Felipe Backes e Gabriel Marques

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Fotos: Pedro Piegas
Maycom Fagundes dos Santos é aluno especial e ficou sem o transporte

Sem transporte escolar desde que o ano letivo começou na rede estadual, na segunda-feira, alunos como Maycom Fagundes dos Santos, de 15 anos, recorrem a outros meios para ir à escola ou voltar ao ensino remoto neste período. Ele é cadeirante e mora a um quilômetro da escola. Desde segunda-feira, a avó dele, Celia Fagundes, 59, empurra o neto até a sala de aula. A falta de transporte escolar atinge outras 13 escolas da região - oito em Santa Maria


Maycom estuda na Escola Estadual de Ensino Médio Princesa Isabel, que fica em uma área rural de Arroio do Só, distrito de Santa Maria. Sem o transporte, a dona de casa empurra a cadeira de rodas por todo o trecho de estrada de chão até o colégio e repete o percurso ao final do dia. 

- O Maycom quer ir na escola, ele precisa estudar. Antes a estrada era pior, foi patrolada e melhorou um pouco. As pessoas que moram mais longe e que não têm carro, não estão indo na aula - conta. 

Em casa, ela cuida de mais oito netos, seis deles precisam do transporte escolar. Para buscar o neto, o calor elevado do horário do meio-dia é uma queixa. Se o transporte estivesse ativo, além de não precisar ir sendo empurrado pela avó para escola, o estudante teria uma monitora para cuida-lo no ônibus escolar.

data-filename="retriever" style="width: 100%;">A dona de casa, Celia Fagundes é avó de Maycom e leva ele para a escola desde que o transporte acabou. A tarde ela leva os outros netos Rafael e Melina, à escola

Conforme a diretora da escola, Neuza dos Santos Ortiz, são 106 alunos matriculados. A maioria precisa de transporte para chegar na escola, são 77 estudantes. 

Na manhã desta quinta-feira, as salas de aula estavam praticamente vazias. Em turmas onde são 12 matriculados, por exemplo, as salas tinham três ou quatro estudantes. Neuza explica que foi pedido à 8ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) que as aulas fossem retomadas apenas quando o transporte estivesse disponível, o que foi negado:

- Ficamos sabendo que não teríamos o transporte nos primeiros dias durante uma reunião. Nos foi dito que em 15 dias ele deve ser restabelecido. 

Diante desta situação, a escola tem oferecido aulas remotas aos alunos e também tem entregado atividades para serem realizadas de casa. Os pais que conseguem, se revezam para conseguir levar os filhos à escola.

- Meus pais têm revezado o carro com o vizinho, assim conseguimos vir até a escola - diz a aluno do 8º ano Stefany Souza, de 13 anos.

O colega com quem ela partilha as viagens, Felipe Lovato, 13, conta que a mudança não foi tão sentida por ele e que eles chegam na escola mais rápido e em horários mais flexíveis.

FALTA DE TRANSPORTE ESCOLAR

O ano letivo estadual começou na segunda-feira com aulas totalmente presenciais. Mas 14 escolas de quatro municípios da região de abrangência da 8ª CRE estão sem transporte escolar, que é de responsabilidade do governo do Estado. São atingidos estudantes que moram em áreas rurais. A maioria das escolas são rurais, mas o problema também se estende a estudantes residentes na zona rural de Santa Maria e que estudam em escolas estaduais na área urbana.

ESCOLAS ATINGIDAS PELA FALTA DO TRANSPORTE ESCOLAR

  • Princesa Isabel (Santa Maria - rural)
  • Arroio Grande (Santa Maria - rural)
  • Almiro Beltrame (Santa Maria - rural)
  • Boca do Monte (Santa Maria - rural)
  • Paulo Lauda (Santa Maria, Bairro Tancredo Neves)
  • Prado Veppo (Santa Maria, Bairro Tomazetti)
  • Tancredo Neves (Santa Maria, Bairro Tancredo Neves
  • Augusto Ruschi  (Santa Maria, Bairro Juscelino Kubitschek)
  • São Pedro de Alcântara (Cacequi - rural)
  • Dario Vitorino Chagas (Cacequi - rural)
  • Ijucapirama (Jaguari - rural)
  • Guilhermina Javorski (Jaguari - rural)
  • Roque Gonzales (São Francisco de Assis - rural)
  • João Otávio Leiria - (São Francisco de Assis - rural)

O problema acontece em municípios não conveniados com o Estado pelo Programa Estadual de Apoio ao Transporte Escolar (PEATE). Por esse programa, o Estado repassa o recurso do transporte aos municípios, que assumem a responsabilidade de ofertar o transporte para a rede municipal e estadual de forma integrada. Cinco municípios da 8ª CRE não integram o Programa, e a gerência do transporte nessas escolas é de responsabilidade direta do Estado.

Em todo o Estado, apenas 27 municípios não integram o programa. Nestas, conforme a Secretaria Estadual de Educação (Seduc-RS), a contratação da empresa que transporta os alunos é feita por licitação e em 17 delas o processo ainda não foi finalizado. A previsão de normalização é de 15 dias.

A prefeitura de Santa Maria informou que não faz parte do PEATE por "uma opção da gestão de investir no transporte local". O Executivo também afirmou que as verbas do programa são insuficientes para que o município absorva a demanda de transporte das escolas estaduais. O município integrou o programa entre março de 2008 e dezembro de 2013.

O total de alunos atingidos nas quatro escolas de Santa Maria da área urbana, é pequeno. São cerca de 10 na Escola Prado Veppo e outros 12 na Paulo Lauda, por exemplo. Nas escolas do interior, em que praticamente todos os estudantes necessitam do transporte, a situação é pior. Na Escola Ijucapirama, no interior de Jaguari, apenas cinco dos 165 matriculados não usa o transporte escolar. Todos foram orientados a permanecer em casa e as aulas presenciais foram suspensas. A vice-diretora, Aida Rita Callegaro Velho, classifica a situação como triste.

 - A expectativa do retorno era grande. Além da pandemia, tivemos problemas estruturais e ficamos em ensino remoto até o final do ano passado. A expectativa era que nesse ano letivo estivesse tudo pronto. Mas para a decepção da comunidade escolar, os contratos não foram finalizados e os estudantes seguem em ensino remoto - explicou.

A Seduc-RS afirma que aulas não foram suspensas. Por e-mail, a Secretaria informou que "a orientação é que momentaneamente os alunos sejam atendidos de forma presencial e remota ou com entrega de materiais físicos. Não há suspensão das aulas em nenhuma escola da região".

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