Nascido em Porto Alegre, Clayton Hillig, 53 anos, é o atual pró-reitor de Assuntos Estudantis da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e professor do Centro de Ciências Rurais da instituição. Filho de Elemar Hillig e Loni Vera Hillig, ele carrega consigo a paixão pela vida rural, sentimento que o incentivou a obter graduação e mestrado em Medicina Veterinária e doutorado na área da Sociologia. O porto-alegrense mora em Santa Maria desde 1982 e é pai de Pedro, Eduardo, Alexandre e Caio. Neste entrevista, ele fala sobre a carreira como docente universitário e dos desafios enfrentados na gestão da UFSM.
Diário - Na sua infância, o senhor já dava sinais de que seguiria o caminho da medicina veterinária?
Clayton Hillig - Minha família é de origem rural, meus pais migraram ainda jovens para a área urbana. Meus avós migraram para Porto Alegre em virtude da pobreza e das dificuldades da vida no campo. Porém, minha família sempre manteve uma ligação com o meio rural.
Diário - Qual área da Medicina Veterinária o senhor gosta mais?
Clayton Hillig - Gosto muito da produção de leite e de suínos, por conta da vinculação com a agricultura familiar. Foi a partir do trabalho com agricultores familiares, em propriedades de 10 a 20 hectares, que comecei a me interessar pelas questões sociais e ambientais na zona rural.
Diário - Por que o senhor decidiu se tornar docente?
Clayton Hillig - Trabalhando como médico veterinário com agricultores e agricultoras familiares, proprietários de pequenas áreas, percebi que seus problemas extrapolavam a questão da saúde animal. A carência de infraestrutura, de políticas públicas, de acesso à saúde e educação, o preconceito e as questões ambientais me pareceram muito mais relevantes. Então, voltei à UFSM para o mestrado em Extensão Rural para me aproximar mais das ciências sociais agrárias. Busquei compreender um pouco a problemática social e ambiental do meio rural. A partir do mestrado, dei-me conta que tinha o gosto e a vocação pela docência e pela vida acadêmica e que poderia contribuir muito mais com a sociedade ao trabalhar com os estudantes, que são os futuros profissionais da área.
Diário - O senhor tem doutorado na área da Sociologia. Em sua opinião, como a Medicina Veterinária e a Sociologia se interligam?
Clayton Hillig - Qualquer campo de conhecimento se interliga com a Sociologia. A medicina veterinária precisa discutir o desenvolvimento rural, a produção de alimentos, a questão agrária, a nossa relação com os animais, os direitos humanos, as instituições sociais, as políticas públicas e as relações sociais que envolvem a profissão. A sociologia discute as bases éticas, morais, legais, institucionais e cotidianas que afetam toda a sociedade.
Diário - Quais as principais dificuldades que o senhor encontra na função de pró-reitor de Assuntos Estudantis (Prae) da UFSM?
Clayton Hillig - No momento, nossa maior dificuldade se refere à questão orçamentária e aos ataques que a educação pública superior vem recebendo. Os usuários da assistência estudantil são os acadêmicos em maior vulnerabilidade social e que dependem de recursos públicos para permanecerem na instituição e se diplomarem. Além disso, temos uma demanda cada vez maior por assistência estudantil, devido às ações afirmativas e democratização do acesso em nossa universidade. A UFSM tem a maior casa de estudantes do país, o que nos torna referência em assistência estudantil no Brasil. Estamos entre as 300 universidades mais inclusivas do mundo, e isso faz com que muitos estudantes que necessitam da assistência estudantil procurem a UFSM. Portanto, nosso desafio é garantir todos os programas de assistência estudantil para todos os estudantes que deles necessitam.
Diário - Quais são as principais contribuições que o senhor deu e tem a dar para a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis?
Clayton Hillig - Temos trabalhado muito para promover o diálogo e a participação dos estudantes na gestão da assistência estudantil. Conseguimos, com o apoio de toda a gestão, ampliar a moradia estudantil, com o pioneirismo da construção da casa do estudante indígena. A implantação do sistema de agendamento das refeições nos restaurantes universitários reduziu em 50% o desperdício de alimentos. Estamos trabalhando para reduzir para próximo de zero. O caminho que se desenha na atual política está demonstrando que, no futuro, devemos centrar todos os esforços para garantir que não sejam retirados direitos na educação superior e na assistência estudantil.
Diário - O senhor também é um fã de rock e, em alguns vídeos do seu Facebook, aparece cantando, inclusive. Como o senhor pode descrever a sua ligação com a música?
Clayton Hillig - A música é parte integrante da minha vida. Já imaginou diversão sem música? Carnaval sem música? Dança sem música? A música é uma forma de comunicação muito poderosa, que atinge não só o saber cognitivo, mas também o sensível, toca o coração da gente. Além disso, é uma forma de viver outras dimensões sociais além da profissão, conviver com grupos diversos e formar uma identidade para além da socioprofissional.