Foto: Vinicius Becker (Diário)
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) deverá enfrentar mais um ano de orçamento reduzido.O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2026, aprovado pelo Congresso Nacional, prevê um corte de R$ 488 milhões nos recursos destinados às universidades federais. A redução é de cerca de 7% nos recursos discricionários – verba utilizada para o custeio de despesas básicas como água, luz, segurança, manutenção e assistência estudantil. Na avaliação da reitora da instituição, Martha Adaime, o corte compromete o funcionamento da universidade.
+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp
R$ 11 milhões a menos
De acordo com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o orçamento total destinado às 69 universidades federais caiu de R$ 6,89 bilhões para aproximadamente R$ 6,43 bilhões. Na UFSM, o orçamento previsto de R$ 150 milhões agora está em cerca de R$ 139 milhões. Salários e aposentadorias não entram nesse montante, por se tratarem de despesas obrigatórias.
A reitora afirma que a redução preocupa, mas não surpreende:
– Talvez, se eu fosse uma reitora de primeira viagem, eu estivesse realmente muito assustada e apavorada. Mas eu acompanho a questão orçamentária das universidades desde 2014 e esses cortes e contingenciamentos acabam se repetindo. A gente se preocupa, claro, e precisa se preocupar, mas também já sabe que esse cenário faz parte de um processo que vem se consolidando ao longo dos anos.
Para Martha, o corte anunciado para 2026 não pode ser analisado de forma isolada. Ela cita um estudo elaborado por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que aponta uma queda contínua no orçamento das instituições federais. Conforme os dados, o PLOA previa R$ 32,51 milhões em 2014. O mesmo orçamento diminuiu para R$ 17,29 milhões em 2026 – montante que representa 53,19% do valor destinado em 2014.
– É uma redução expressiva e que independe do governo – destaca a reitora.
Impactos
Na prática, os efeitos do orçamento reduzido já aparecem na rotina da instituição. A UFSM deve iniciar 2026 com “restos a pagar referentes a 2025”, como afirma a reitora. Ela garante que bolsas e assistência estudantil, como o Restaurante Universitário (RU) serão mantidos. Outras áreas, no entanto, podem sofrer atrasos ou restrições, especialmente aquelas ligadas à manutenção e a serviços considerados não emergenciais.
– Vamos pagando o que é mais urgente, como acontece em um orçamento doméstico apertado. RU e bolsas sempre foram prioridade, especialmente a assistência estudantil. Mesmo com críticas e dificuldades, nós nunca deixamos de priorizar essas áreas, porque sabemos que elas são fundamentais para garantir a permanência dos estudantes – ressalta a reitora.

Falta de investimento compromete ensino, pesquisa e infraestrutura
Martha Adaime ressalta que a maior parte dos recursos atualmente disponíveis tem sido consumida por despesas correntes como água, luz, limpeza e segurança, o que diminui investimentos estruturais.
– Hoje, a maior parte do orçamento serve para pagar contas básicas: água, luz, contratos de limpeza, segurança e manutenção. Mas não se faz universidade apenas pagando essas despesas. Não se faz pesquisa, não se produz ciência e não se inova sem investimento em equipamentos, laboratórios e infraestrutura. A universidade não pode ser reduzida a uma gestora de contas – afirma.
Busca por recomposição
Apesar do cenário adverso, a reitora afirma que a UFSM trabalha com a expectativa de recomposição parcial do orçamento ao longo do ano, por meio de suplementações e emendas parlamentares.
– Nós vamos atrás dos parlamentares que são comprometidos com a educação, com a ciência e com a tecnologia. Fazer ciência não é barato, é caro, e os resultados não aparecem imediatamente. Esse desgaste de energia é completamente desnecessário, mas hoje ele é inevitável – afirma.
Martha também critica o atual modelo de distribuição dos recursos públicos:
– Grande parte do recurso que deveria estar garantido para educação, ciência e tecnologia acaba ficando nas mãos do Congresso, distribuído por meio de emendas. A pergunta que fica é: essa é a forma correta de planejar um país? Recurso exige planejamento, e sem um percentual fixo garantido, seguimos sempre apagando incêndios.
Leia também: