com a palavra

Ex-secretário de Educação fala sobre suas contribuições para o ensino de Santa Maria e região

Rafael Favero

Foto: Arquivo Pessoal
Reckziegel é membro do Rotary Club  
Nordeste, de Santa Maria, e já foi presidente da entidade

Nascido no interior de Santa Rosa, Alberto Reckziegel, 79 anos, tem uma vida dedicada à educação de Santa Maria, Itaara e Dilermando de Aguiar. Durante a gestão do prefeito Evandro Behr, no Coração do Rio Grande, no final de década de 1980, ele foi uma das cabeças pensantes de uma transformação na qualidade do Ensino Rural. Atualmente, aposentado, ele tem uma rotina tranquila ao lado da esposa Salette Reckziegel, de quem ganhou a enteada Leticia. Nesta entrevista, ela fala sobre as suas contribuições na área educacional da região central do Estado e conta histórias curiosas sobre viagens para a Europa e para o Chile, onde vivenciou a tensão da queda do presidente Salvador Allende.

Diário - De que forma surgiu a sua paixão pela Educação?

Alberto Reckziegel - Meu pais tiveram 11 filhos, oito homens e três mulheres. Nós morávamos na região colonial de Santa Rosa e não havia condições para todos os filhos estudarem lá. Então, cursei o Primário na minha terra natal e, depois, saí pelo mundo em busca de melhores condições de estudo. Passei a estudar em um colégio dos irmãos maristas em Getúlio Vargas. Depois, completei o Ensino Médio em Passo Fundo e em Santa Maria, no Colégio Santa Maria. Ao ver o trabalho dos irmãos maristas, apaixonei-me pela educação. Na época, todos os anos, em janeiro e fevereiro, o Ministério da Educação promovia cursos de formação de professores. Escolhíamos uma disciplina e, após cumprirmos a carga horária, fazíamos um exame. Se aprovados, ganhávamos uma autorização do ministério para lecionar. Escolhi a disciplina de Inglês e fui nomeado professor para São Gabriel. Em seguida, fui para Santo Ângelo, onde fiz o curso de Letras. Trabalhei nove anos em Santo Ângelo.

Diário - O que mais lhe marcou na época em que morou em Madri, na Espanha?

Reckziegel - Através dos irmãos maristas recebi este convite para melhorar minha formação. Eu tinha a oportunidade de conhecer todos os países, nos fins de semana e feriadões, de trem. Na Alemanha, eu consegui atravessar o muro de Berlim, do lado ocidental para o lado oriental. Três amigos e eu pegamos uma estrada, em Hamburgo, que era um dos raros meios de chegar até o outro lado. Nosso carro foi parado e examinado por policiais, porém, conseguimos ficar durante aproximadamente meio-dia no lado oriental. Minha família é de origem alemã e eu preparei algumas palavras para puxar assunto com os alemães, mas eles eram muito desconfiados e assustados. Os alemães diziam um para o outro "ele é um estrangeiro", davam as costas e saíam. Foi uma experiência incrível.

Foto: Arquivo Pessoal
Ao lado do então  
vice-presidente da república Marco Maciel  (ao centro) e do político santa-mariense  Manoel Badke

Diário - E como foi o curso de planejamento educacional no Chile?

Reckziegel - Cheguei no Chile em uma sexta-feira, 7 de setembro. No dia 11, estourou a revolução que levaria o general Pinochet ao poder. Na gestão do presidente Allende, pelo menos enquanto eu pude ver, o país era muito desorganizado. Ficamos um mês sem comer carne porque o Chile não tinha recursos para importar o produto da Argentina. Uma cena que me marcou foi quando vi, do topo de um prédio, aviões bombardearem o palácio do governo. Anunciaram pelo rádio que o Allende tinha se entregado, mas, na verdade, anos depois, descobriu-se que ele tinha sido morto. Mesmo entre todos esses fatos, consegui terminar o curso, que durou 90 dias.

Diário - Os oito anos em que o senhor foi diretor da escola Cilon Rosa entraram para a história da instituição. Por quê?

Reckziegel - Depois de fazer o curso no Chile, voltei e atuei como diretor do Colégio Santa Maria. Um tempo depois, o diretor da 8ª Coordenadoria Regional de Educação, que era o Valdir Zamberlan, me chamou e disse que precisava que eu assumisse o colégio Cilon Rosa. O Estado tinha acabado de transformar o Cilon Rosa em uma escola, até então, o local era um ginásio de formação técnico- -industrial. Por conta disso, a escola tinha vários problemas de regularização e adaptação a novas leis e normas. Deram- -me seis meses para colocar os trâmites em ordem porque, caso contrário, o Cilon Rosa poderia fechar. Três anos depois, a instituição alcançou o primeiro lugar de aprovação no vestibular da Universidade Federal de Santa Maria. Uma escola que estava para fechar conseguiu chegar na frente de outros colégios fortes. Tive o prazer de mostrar que escolas públicas não são piores nem melhores que as particulares. Tudo depende da gestão.

Foto: Arquivo Pessoal
Durante uma missa crioula  
em Dilermando de Aguiar, ao lado do padre  responsável pela celebração e do prefeito Gabriel Balconi 

Diário - Quais foram as principais contribuições que o senhor deu para a Educação da região?

Reckziegel - Minha maior realização foi ter dado atenção para o Ensino Rural, ao lado do professor Pedro Aguirre e da professora Irene Fernandes. Eu sou realizado por ter conseguido colocar as crianças do interior no Ensino Fundamental, de forma completa. Além disso, enquanto trabalhava na prefeitura de Santa Maria, montei os primeiros laboratórios de informática para as escolas do município. No oitavo ano, dávamos o certificado de formação em informática básica.

Foto: Arquivo Pessoal
Em 1971, presidiu a  
cerimônia de formatura do curso técnico em  contabilidade de uma escola de Santo Ângelo, da qual era diretor

Diário - Como o senhor começou a atuar nas prefeituras de Santa Maria, Dilermando de Aguiar e Itaara?

Reckziegel - Depois de passar pelo Cilon, o professor Pedro Aguirre me convidou para trabalhar com ele na prefeitura de Santa Maria, na gestão do Evandro Behr. Para aceitar o convite, eu falei para o Behr "se o senhor me garantir que poderei fazer algo pelas crianças da zona rural, eu vou". O Behr disse que uma das prioridades dele seria o Ensino Rural. Fiquei com o cargo de diretor geral de Educação da prefeitura. Foi uma revolução no ensino rural da região. Na gestão do prefeito José Haidar Farret eu fiquei os quatro anos, mas como secretário de Educação. Durante o governo do Farret, alguns municípios se emanciparam, como foi o caso de Dilermando de Aguiar e Itaara. Na primeira, fui secretário de educação por oito anos. Na segunda, atuei por quatro anos como secretário de gestão.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Professores estaduais fazem manifestação no centro de Santa Maria Anterior

Professores estaduais fazem manifestação no centro de Santa Maria

MEC prorroga prazo de renovação dos contratos do Fies Próximo

MEC prorroga prazo de renovação dos contratos do Fies

Educação