com a palavra

Ex-reitor Paulo Sarkis fala sobre condenação no caso Rodin e lembra trajetória na UFSM

Rafael Favero

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Janio Seeger (Arquivo Diário)

Nascido em Santa Maria, Paulo Jorge Sarkis, 75 anos, teve uma participação marcante na história da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ele ingressou na instituição em 1967, como professor do Colégio Técnico Industrial (Ctism) e, em 1968, após se graduar em Engenharia Civil, tornou-se docente do ensino superior da universidade. Além disso, Sarkis foi reitor da UFSM de 1997 a 2005. O professor foi casado com Lucy Cecilia Martins Sarkis, falecida, e é pai do engenheiro civil Jorge e do empresário Julio. Aposentado, ele presta consultoria para empresas do ramo da engenharia. Além de falar sobre a forte relação com o Líbano, nesta entrevista, o ex-reitor relembra os tempos de estudante, o período em que ocupou o cargo máximo da UFSM e sobre a sua condenação em segunda instância no caso Rodin .

Diário - O senhor sempre quis ser engenheiro?

Paulo Jorge Sarkis - Nunca tive oportunidade de pensar a respeito. Mas, para responder a pergunta, na medida em que tentei me lembrar de passagens da infância que pudessem prenunciar essa escolha futura, encontrei duas brincadeiras da infância e da adolescência que podem ser interpretadas como indicadoras dessa tendência. Quando morei na Rua Manoel Ribas, ao lado da Cooperativa da Viação Férrea, costumava reunir pedaços de madeira e caixotes para construir, no pátio da casa, pequenos abrigos de madeira, que tinham até dois andares. Também, nessa época, o terreno onde construí o edifício em que moro hoje, era um terreno aberto, sem cercas, mas muito acidentado. Reuni os amigos da redondeza e fizemos uma pequena terraplanagem, com pás, picaretas e carrinho de mão. Tudo bem artesanal. Assim, tivemos um pequeno espaço plano para as "peladas" de futebol e para armar as fogueiras juninas que eram famosas na cidade.

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: arquivo pessoal
Com a mulher, Lucy, em viagem ao Monte Líbano

Diário - Quais são as principais lembranças que o senhor tem do período em que estudou na UFSM?

Sarkis - Tive excelentes professores em todas as matérias. Com todos eles, tive uma convivência muito enriquecedora para a minha formação profissional e cidadã. O professor Wilson Aita marcou minha trajetória. Convivi com ele como aluno e ele foi meu chefe no início da minha trajetória no magistério superior. O professor Roni Ruschel, da área de estruturas, também me propiciou uma convivência e aprendizado importantes, inclusive nos primeiros anos e projetos da vida profissional.

Diário - Quais foram as principais dificuldades e as maiores conquistas que a UFSM alcançou durante a sua gestão?

Sarkis - As dificuldades foram as de sempre. As mesmas que todos os gestores da UFSM têm. A maior dificuldade, talvez, tenha sido a de repor a força de trabalho devido à limitação de concursos públicos. As conquistas foram enormes e numerosas. A universidade tinha um excelente potencial de recursos humanos. Incentivando essas lideranças, conseguimos ampliar para mais de 3 mil projetos de pesquisa e extensão, atendendo todos os setores da sociedade e propiciando formação extremamente qualificada para os estudantes. Expandimos o Peies para quase todo o Estado, apoiando a qualificação de mais de mil escolas de Ensino Médio. Ampliamos e qualificamos a assistência estudantil até garantir o acolhimento de todos os estudantes carentes. Com projetos específicos para cada área da ciência, produzimos modernização e inovação de equipamentos para todos os cursos. Graças ao trabalho árduo de toda a comunidade, produzimos inclusão social e excelência na educação. No Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de 2005, a UFSM atingiu o segundo lugar no Brasil, só superada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foram cinco notas 5 (excelente) e cinco notas 4 (bom), com mais de 60% dos alunos oriundos de escolas públicas, sem o uso de cotas. 

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: arquivo pessoal
No registro, com os filhos e netos, comemorando a posse como reitor da UFSM

Diário - Na época em que o senhor foi reitor, também havia dificuldades orçamentárias como hoje?

Sarkis - Sim. Os contingenciamentos eram os mesmos em termos de percentuais. Em geral, os valores eram descontingenciados parcialmente antes do final do ano. A forma de contornar a dificuldade foi economizar onde era possível e reprogramar algumas despesas. Normalmente, as contas de energia e telefonia eram reprogramadas. Hoje, as dificuldades aumentaram porque estão relacionadas com o crescimento desordenado das universidades federais em geral e da nossa em particular. As universidades que não aderiram exageradamente aos planos de expansão do Ministério da Educação e outros programas, inclusive mantendo os vestibulares, estão em melhores condições de enfrentamento das dificuldades.

Diário - Como começou sua ligação com a Sociedade Libanesa de Santa Maria?

Sarkis - Minha ligação com a Sociedade Libanesa de Santa Maria é consequência da minha ligação com o Líbano. Meu pai veio do Líbano em 1919, aos 23 anos. Quando moramos em Paris, em 1975, Lucy e eu, resolvemos conhecer o Líbano e outros países da região. Logo, começou a longa guerra civil. Só voltamos a visitar o Líbano em 1995. De lá para cá, foram mais de 10 visitas. Nesse período, as famílias libanesas de Santa Maria se reuniram para relançar uma sociedade cultural. Como já havia existido o Clube Sírio Libanês, recriava-se o espaço para preservar nossas raízes. Como presidente da sociedade Cultural Libanesa de Santa Maria e Região, fui convidado a participar das reuniões da Confelibra, entidade que reúne associações líbano-brasileiras do Brasil, da qual sou representante no Rio Grande do Sul. Nas atividades de aproximação dos dois países, organizamos grupos de brasileiros para visitas de turismo ou de negócios ao Líbano. Como reitor da UFSM, expandimos as relações acadêmicas internacionais com vários países. Assim, foi a primeira vez que uma universidade brasileira firmou acordo com universidades libanesas. O ápice dessa relação foi em 2001, com uma audiência privativa com o presidente do Líbano, Emile Lhaoud, no palácio Presidencial de Baabda nos arredores de Beirute. Após os meus mandatos de reitor, a Confelibra me confiou a coordenação do Departamento de Intercâmbio Acadêmico do Brasil com o Líbano. Como representante dessa entidade, continuo apoiando as atividades dos libaneses em todo o Estado. 

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: arquivo pessoal
Em audiência com o presidente do Líbano, Emile Lahoud, no Palácio Presidencial de Baabda

Diário - Passado o processo de julgamento do caso Rodin em segunda instância, que avaliação geral o senhor faz da sua condenação?

Sarkis - O processo ainda não passou. A farsa do meu envolvimento espetaculoso e midiático nesses fatos foi desmascarada em depoimento em juízo e transformado no livro Outra Face da Operação Rodin. Até hoje, não houve contestação. Após o meu depoimento, os dois procuradores que iniciaram a farsa, com história nebulosa do tal denunciante escondido por eles, e a procuradora que me ouviu pediram e obtiveram transferência para outros lugares, bem como a juíza que ouviu as testemunhas e a mim. A sentença foi dada por um juiz neófito que não leu o processo com atenção, se negou a me ouvir novamente e me deu uma condenação espetaculosa de 12 anos de detenção, com evidente efeito midiático. Obtivemos vitória na segunda instância. Com isso, foi descartada a pena de prisão e sobrou uma multa de 20 salários mínimos, da qual recorro nos tribunais superiores para derrubá-la, mesmo gastando mais do que o valor estipulado. A farsa atingiu objetivos de política universitária, visando a eleição para reitor, de um lado, e a promoção midiática dos dois promotores, por outro. No livro, demonstro os grandes prejuízos que a farsa causou à sociedade. A imprensa local ainda está devendo uma avaliação séria desses prejuízos. Quanto o Estado está gastando a mais para fazer diretamente os exames? Os mais de 200 servidores contratados para fazer os exames vão continuar recebendo do Estado por toda a vida. E a quebra da Fundae? Quantos jovens em situação de risco deixaram de ser atendidos por essa meritória fundação e foram cooptados pela delinquência? Continuo à disposição para debater publicamente as denúncias que fiz no livro.

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