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Em quatro meses, escolas de Santa Maria registram 25 casos de agressão entre alunos

Naiôn Curcino

Foto: Charles Guerra (Diário)

Há algum tempo, o ambiente escolar já não é mais o mesmo, infelizmente. O professor, figura tão importante para o desenvolvimento de um país, não é tratado com a reverência merecida. E um programa usado nas escolas municipais de Santa Maria, no período de 2 de abril até 31 de julho deste ano, traz uma amostra não só do que os educadores enfrentam no seu dia a dia, mas de todas as violências ou problemas que ocorrem no ambiente escolar. Dados do Registro Online de Violência na Escola (Rove) mostram estatísticas que preocupam.

Na cidade, apenas no período citado acima, foram 25 trocas de agressões entre alunos e 19 registros de professores desacatados. O programa, desenvolvido pelo Instituto Fidedigna, de Canoas, foi disponibilizado gratuitamente durante cerca de quatro meses para as 73 escolas municipais de Santa Maria. E 21 delas registraram pelo menos uma ocorrência. Fato que se deve muito mais a falta de engajamento de algumas instituições, já que três delas acumularam 40% de todos os registros.

Mesmo assim, os dados coletados em Santa Maria correspondem a 13% da rede do Rove, que também funciona em outras 228 escolas, sendo quatro em solo gaúcho, uma em Pernambuco e as demais no Piauí. Nos colégios santa-marienses, a Guarda Municipal foi a responsável pela implementação do sistema, o que rendeu, inclusive, uma nova iniciativa, que é a Ronda Escolar.

Os números revelam que a violência mais comum nas escolas é a agressão entre alunos, presente em 27,8% dos registros no Rove, seguido pelo desacato ao professor, que apareceu em 21,1% do total. O período que mais ocorre não é à noite, e sim, pela manhã, em 58% das vezes. Os alunos de 14 anos são os que mais se envolvem nesses fatos, correspondendo a 46,8%. Ocorrências menos comuns, como o desinteresse em sala de aula, também aparecem.

A diretora do Instituto Fidedigna, Aline Kerber, ressalta que o Rove acaba sendo uma ferramenta que torna as ocorrências "reais", justamente o que é reclamado pelos diretores de escolas.

_ Sabemos que houve processo de reflexão em Santa Maria sobre essas violências. E o reconhecimento da violência perpassa a instituição escola. A integração entre as escolas e a gestão pública, através da Guarda, também foi importante, tanto é que rendeu a Ronda Escolar _ destaca Aline.

O chefe da Casa Civil da prefeitura, Guilherme Cortez, diz que a avaliação do Rove é positiva, mas ainda será feita uma apresentação dos dados para a secretária de Educação, Lúcia Madruga. Como foi um projeto piloto, não houve custos. Porém, para continuar com a ferramenta, a prefeitura terá de contratar o Rove do Instituto Fidedigna e da Sphinx Brasil (a desenvolvedora do software). Uma proposta deve ser apresentada ao Executivo na próxima semana.

Na Maria de Lourdes, são muitos registros, mas poucos problemas
A Escola de Ensino Fundamental Adelmo Simas Genro está entre as três que somam 40% de todos os registros em Santa Maria. Os problemas são graves. Na instituição, que fica no Bairro Nova Santa Marta, na zona oeste da cidade (região onde, nos último três anos, é registrado o maior número de homicídios), os professores precisam ser mais do que educadores. Viram mediadores de conflitos. Conforme a vice-diretora, Sandra Cargnin, que foi a responsável por fazer os registros no Rove, apenas cerca de 50% de todos os acontecimentos foram registrados. Segundo ela, o acúmulo de trabalho impossibilitou uma adesão maior.

A Adelmo, como mostram os dados do Rove, sofre bastante com agressões entre alunos. Nesses casos, a direção tomou uma providência mais dura: é feito um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA) da Polícia Civil.

- Percebemos que só conseguíamos conter a violência entre eles fazendo o registro, infelizmente. Não adiantava só conversar ou chamar a família. Fizemos um papel que não seria nosso, porque essa briga não acaba ali e pode comprometer vários dias na nossa escola. Mas o Rove faz com que essa realidade não fique apenas aqui para nós - conta Sandra.

Tanto ela quanto o diretor, Pedro Oliveira dos Santos, já sofreram ameaças. Ela teve uma arma apontada para a sua cabeça. Por sorte, quando o aluno puxou o gatilho, percebeu-se que a arma era de brinquedo. Outro aluno ameaçou incendiar o carro do diretor. No momento em que a reportagem estava na escola, um grupo de adolescentes quebrou alguns vidros a pedradas. 

- Aqui a coisa é assim, como vocês estão vivenciando. Ainda bem que temos a Guarda Municipal 24 horas aqui e a Brigada Militar também sempre nos atende - lamenta o diretor.

A instituição atende cerca de 500 alunos da região.

Pode parecer contraditório, mas tem uma explicação. A Escola de Ensino Fundamental Maria de Lourdes Castro, na Vila Maringá, no Bairro Diácono João Luiz Pozzobon, na zona centro-leste de Santa Maria, foi a que mais teve registros na cidade. No entanto, apenas um deles foi mais grave. Isso mostra o engajamento no registro de ocorrências. Conforme a diretora, a professora Silvana Guerino, o caso foi de um aluno que desacatou uma professora.

- Foi um fato isolado. Era um estudante que veio transferido porque já apresentava problemas de indisciplina. Ele se dirigiu a professora agredindo verbalmente - relata a diretora, que foi secretária adjunta de Educação de 2010 a 2013 e efetivada até 2016.

Até mesmo por essa experiência como gestora, Silvana ressalta a importância do Rove para que estratégias sejam traçadas para combater os problemas. Apesar de estar em uma área de vulnerabilidade acentuada, o clima na escola é tranquilo.

- Quantificamos tudo que aconteceu. Desde um acidente com uma criança na pracinha até um aluno abordado por estranhos. O Rove nos dá dados relevantes para que, enquanto gestor, possamos traçar políticas públicas que combatam exatamente aquilo que acontece no âmbino interno como nas imediações. É uma ferramente extremamente inovadora - ressalta.

A escola recebe cerca de 570 alunos, das séries iniciais, a partir dos dois anos, até o 9º ano do Ensino Fundamental.

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