Os irmãos Leonardo e Thiago Guedes da Luz Martins entraram na faculdade de Engenharia UFSM com um sonho: inventar algo novo e abrir uma empresa que se tornasse uma grande indústria e projetasse Santa Maria no setor da tecnologia. Qual seria a invenção revolucionária ficou em aberto por um tempo. Um dia, o orientador do grupo de pesquisa e pai dos dois deu uma dica: fazer um estudo para transferir a tecnologia de um detector de cio em vacas de leite, até então só produzido em Israel, Alemanha e Itália.
- O objetivo do projeto era publicar um artigo. Mas aí vimos que era dali que poderia sair a nossa empresa - conta Thiago, que se formou em Engenharia Mecânica.
Mais tarde, um professor da Medicina Veterinária deu outra dica importante: ainda não existia nenhum aparelho capaz de verificar o nível de conforto dos bovinos, informação útil para assegurar a saúde e a produtividade do gado leiteiro. Alguns aprimoramentos no protótipo deram origem à coleira C-Tech, sigla para as palavras em inglês vaca, tradutor, conforto, controle e saúde. "Tradutor" é a palavra que melhor define a função do produto criado na Incubadora Tecnológica da UFSM:
- A coleira é um tradutor de vacas. Ela traduz para o produtor o que a vaca está sentindo e como ele pode melhorar o seu bem estar, que possibilita maior produtividade - explica o engenheiro eletricista Leonardo, conhecido como Guedes.
Incursão em novas áreas
Para vencer o primeiro desafio, de desenvolver o produto com finanças, insumos e profissionais limitados, os irmãos contaram com editais de fomento à pesquisa, que destinam verbas para projetos como os deles.
- Mas só podíamos pagar bolsas, e não salários. Precisamos transformar pesquisadores em engenheiros de indústria - diz Thiago.
Outro desafio foi ingressar em uma área nova: a pecuária.
- Descobrimos que as vacas são sensíveis, que só ruminam (processo que origina o leite) quando estão bem. Estudos atestam a eficácia de tocar música clássica para elas - diz Guedes.
Agora, os engenheiros precisam se tornar vendedores e conquistar o mercado, ainda conservador, dos pecuaristas.
Potencial reconhecido
A Chip Inside tem poucos anos de existência e recém está entregando os produtos ao mercado. Mas já teve o seu potencial inovador reconhecido. Além dos editais que pagaram a bolsa de pesquisadores até agora, a empresa foi a única do interior e a segunda melhor do Estado reconhecida pelo prêmio Start Up Brasil, que premiou 45 empresas entre 1 mil concorrentes. No ano passado, o Senai também classificou a Chip Inside como a segunda melhor empresa inovadora na área da pecuária de precisão. Na competição, gigantes como a Gerdau e a Braskem também concorreram.
Tudo isso é a prova de que a persistência dos jovens empreendedores daria resultado, ao contrário do que muita gente dizia.
- Uma frase que ouvimos muitas vezes foi "indústria de tecnologia em Santa Maria? Isso não existe". Mas nós acreditamos e sonhamos com uma sede própria grande e imponente, bem na entrada da cidade - diz Thiago Guedes da Luz Martins, respondendo à proposta que já receberam da prefeitura de Santa Cruz do Sul para se mudarem para lá.
Um dos que desconfiava dos planos de Thiago e Guedes era um tio, que atuava em multinacionais e aconselhava os sobrinhos a fechar a empresa e fazer seleção para trainee em alguma grande indústria. Hoje, ele é sócio da Chip Inside.
Outro reconhecimento foi a entrada da Chip Inside para uma lista da bolsa de valores Dow Jones, de start-ups que podem atrair a atenção de investidores ao redor do mundo.
A empresa
>>> Chip Inside
- O que faz - Produz uma coleira que decodifica informações sobre o bem estar de vacas leiteiras
- Em que inova - Criou um produto inédito no mundo, que promete aumentar produção de leite. Outros produtos inovadores já estão sendo projetados
- Quand"