falta de chuva

VÍDEO: perdas na agricultura devido à seca já superam R$ 1 bilhão na região

18.404

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário) 

Mesmo com a previsão de chuva para o início dessa semana, a seca já provocou, ao menos, R$ 1 bilhão em prejuízos na agricultura de 10 cidades da região que divulgaram estimativas. As perdas fizeram com que 37 cidades do centro do Estado decretassem situação de emergência. O maior prejuízo é em São Gabriel, onde os prejuízos chegam aos R$ 280 milhões.

- Todo esse dinheiro deixa de circular em nossa economia. A nossa área de soja cresceu muito nos últimos anos. A quebra, no mínimo, é de 40% - relata o prefeito Rossano Gonçalves (PL).

Em Santiago, de acordo com o prefeito Tiago Gorski Lacerda (Progressistas) as maiores perdas são no milho, com prejuízo de 60% da área plantada, o que equivale a R$ 5,4 milhões, soja (perda de 50% e prejuízo de R$ 102 milhões), bovinos (quebra de 15% e R$ 36 milhões) e hortifruti (perdas de 20% e prejuízo de R$ 200 mil).

Caminhões-pipa da prefeitura ajudam a abastecer algumas localidades do interior, como Buriti e Rincão dos Vianas. Por lá, também foi criada uma força tarefa com máquinas para abertura e limpeza de açudes para os animais.

- Entendemos que a situação é gravíssima, principalmente no interior do município, onde a renda dos produtores depende exclusivamente das safras. Com essa quebra, o orçamento de todo o ano fica comprometido. Para ter uma noção, esse prejuízo de R$ 150 milhões é o equivalente ao orçamento do município durante um ano inteiro.

De 39 cidades na região, apenas duas ainda não decretaram situação de emergência

Já em Tupanciretã, um dos maiores produtores de soja do Estado, só as perdas nessa cultura são de R$ 136 milhões. De acordo com o prefeito Carlos Augusto Brum de Souza (Progressistas), o Guga, algumas localidades do interior também enfrentam falta d'água. Para amenizar a situação, caminhões-pipa levam água para as famílias afetadas, nas regiões de Rincão dos Vargas, Corredor Santo Inácio, Vargas, Estrela que Brilha e Nova Tupan.

- Mesmo que chova nos próximos dias, as perdas são irreversíveis. Há 60 dias, estávamos com excesso de chuvas, o que prejudicou o plantio da soja. Agora, estamos tendo dificuldades com a falta de instabilidades. Estamos vivendo, aqui na região, um dos piores momentos dos últimos 9 anos, o prejuízo já é muito grande - destaca o prefeito.

Segundo Jonas Ribeiro, meteorologista da Somar, a chuva deve voltar à região ao longo da semana. Apesar disso, a precipitação não deve ser elevada.

- A chuva não será muito volumosa, mas trará algum alívio. Serão algumas pancadas isoladas, em torno de 20 milímetros. Entre quinta e sexta-feira uma nova frente fria deve chegar ao Estado com chuvas mais espalhadas e volumes moderados. Estimamos algo em torno de 30 milímetros para o final da semana - explica.

Confira o as perdas já concretizadas em 10 municípios da região que já divulgaram números:

  • Restinga Sêca - R$ 33 milhões
  • Júlio de Castilhos - R$ 136 milhões
  • Tupanciretã - R$ 153 milhões
  • Formigueiro - R$ 27 milhões
  • São Sepé - R$ 100 milhões
  • Ivorá - R$ 17 milhões
  • Santiago - R$ 150 milhões
  • São Vicente do Sul - R$ 9 milhões
  • Santa Maria - R$ 97 milhões
  • São Gabriel - R$ 280 milhões 

EM SANTA MARIA, PRODUTOR COLHE "O QUE SOBRA"
"Na verdade, estamos juntando a sobra". É assim que o agricultor Osmar Badke Freitas, 62 anos, define a colheita da soja na localidade de Pains, em Santa Maria. De 1973 a 2019, ele cultivou o grão e, em 2020, apesar de não ser mais o principal responsável pela safra, tem auxiliado os genros na lavoura.

Freitas conta que passou por outras secas tão cruéis como a deste ano, em 1985, 2004 e 2005. Com a experiência, afirma que os produtores rurais terão dificuldade para recuperar os prejuízos financeiros causados pela estiagem. Ao todo, a família de Freitas planta 900 hectares de soja.

- Parei de plantar esse ano, mas estou sofrendo junto com a gurizada. Fizemos replantio por conta da chuvarada em novembro de 2019, já foi um gasto adicional. O governo não ajuda muito, pois as dívidas são prorrogadas, mas tem de serem pagas da mesma forma. O preço dos insumos está alto, e o valor da saca da soja não acompanha - desabafa Freitas.

O agricultor também explica que, além da baixa na produtividade da lavoura, no momento da colheita, muitos mais é perdido. Devido ao calor, a vagem fica fraca e, com trepidar da máquina, os grãos se soltam e caem do pé. Segundo Freitas, para recuperar o valor das despesas deste ano, que ele considera perdido, os produtores precisarão ter de dois a três anos de boas colheitas.

VÍDEO: em meio à seca, agricultores já têm dificuldade de ofertar produtos em feiras

Conforme dados da Emater, atualizados na sexta-feira, somente em Santa Maria, cada agricultor deve perde R$ 1779,54 por hectare plantado de soja. (veja as estimativas no quadro). As criações de gado de corte e de leite também são afetadas. O valor completo de perdas agrícolas até agora está estimado em R$ 97,68 milhões.

- Os animais deixam de ganhar peso. No leite, por exemplo, o agricultor previu uma produtividade diária que não tem se cumprido. O impacto dessa estiagem para a pecuária vai se refletir no ano que vem, uma vez que esses animais terão menor índice de reprodução - fala o engenheiro agrônomo Guilherme Godoy dos Santos, chefe da Emater em Santa Maria.

O responsável pela Emater na cidade também revela preocupação com os recursos hídricos, que estão diminuindo de forma significativa. Se não chover nos próximos dias, a cultura do arroz será afetada de forma drástica também. Mesmo assim, a situação da soja é a mais delicada.

- As vagens da soja estão abordando os grãos, as lavouras tem mortandade de plantas - complementa.

Santos salienta que a Emater tem prestado acompanhamento técnico para os agricultores, com apoio para crédito agrícola, diálogo com agentes bancários, manejo de solos e projetos para construção de açudes. Além disso, os agricultores que quiserem montar um projeto de irrigação para sua propriedade podem procurar a entidade. 

Valores estimados das perdas em Santa Maria

Soja

  • Perda por hectare - R$ 1.779,54
  • Perda total - R$ 87.731.322 

Arroz

  • Perda por hectare - R$ 731,67
  • Perda total - R$ 3.292.506

Milho grão

  • Perda por hectare - R$ 2.659,34
  • Perda total - R$ 345.713,94

Milho silagem

  • Perda por hectare - R$ 6,743,25
  • Perda total - R$ 741.757,50 

Bovinocultura de corte

  • Perda total - R$ 4.992.000 

Bovinocultura de leite

  • Perda total - R$ 580.560

Valor total de perdas agrícolas _ R$ 97.683.859,44

Fonte: Emater (valores atualizados em 13 de março de 2020)

*Colaboraram Janaína Wille e Rafael Favero

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Perdas na soja já chegam a 52,4% na região

Próximo

De 39 cidades na região, apenas duas ainda não decretaram situação de emergência

Agronegócio