Quando a coisa não fica boa para um lado, pode melhorar em outro. É com esse pensamento que muitos produtores de soja da região estão de olho no mercado de grãos americano. O motivo real é que, devido ao clima, a projeção de safra de soja lá na terra do Tio Sam deve ter uma quebra na produtividade devido à falta de chuvas em julho. O problema, para os gaúchos, é que voltou a chover nos últimos dias nos EUA, o que caiu como um balde de água fria, com a queda dos preço da soja em Chicago e aqui.
Se houver perdas nos EUA, é bom para o Brasil porque a demanda mundial de consumo de soja, principalmente da China, deverá ser abastecida por outras fontes. É neste espaço que os agricultores daqui estão de olho, pois a procura pela produção brasileira deve fazer com que o preço da saca seja valorizado.
A cotação da soja teve uma reação em julho quando surgiram as notícias de falta de chuvas nos EUA.
O preço da saca de 60 quilos, que registrou R$ 58,98 em junho, chegou a R$ 64 em 10 de julho, mas voltou a recuar devido à melhora do clima nas áreas de produção nos EUA e previsão de chuvas para agosto. Na sexta, a cotação era de R$ 59 aqui.
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Não são raros os casos de produtores de soja que estão com parte da safra colhida no começo do ano estocada aguardando o momento certo para vender e ter maior lucratividade.
Um deles é Antero Xavier, que cultiva o grão em Santa Maria e São Vicente do Sul e está otimista quanto à melhora nos preços. Dos cerca de 400 hectares plantados, ele já comercializou 60% da colheita em valores entre R$ 78 e R$ 80 por meio de contratos futuros. O restante da produção está estocado no aguardo por melhores preços.
- Espero que o preço melhore. Mas isso vai depender da produção americana. Quando começar a colheita deles, em setembro ou outubro, é que teremos um cenário mais concreto. Até lá, temos de esperar - avalia Xavier.
O valor é bem abaixo do máximo alcançado no ano passado, quando o agricultor diz que vendeu a saca a R$ 92, e a produtividade foi de 55 sacas por hectare ante as 42 colhidas este ano.
PRODUÇÃO ESTOCADA
Os locais que concentram grande parte da produção da região são as cooperativas. A maioria delas está com os silos cheios. Na Cooperativa Tritícola Sepeense (Cotrisel), quase metade da capacidade estática de armazenamento ainda estava depositada nos silos em julho, conforme o presidente José Paulo Salerno. Segundo ele, 45% dos 3,8 milhões de sacos recebidos ainda permanecem na cooperativa.
- No ano passado, nesta mesma época, nós já estávamos com cerca de 75% da quantidade armazenada entregue. Hoje, apenas 55% já foram comercializados. Isso mostra que os produtores estão esperando um preço melhor - diz Salerno.
De acordo com o presidente, 100% da produção dos cerca de 6 mil associados entregues nas oito unidades da cooperativa tem como destino o porto de Rio Grande, de onde o grão é enviado à China.
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Outra região que ainda tem estoque de soja é a de Tupanciretã e Júlio de Castilhos. A Cooperativa Agrícola de Tupanciretã (Agropan) ainda não comercializou cerca de 60% das 6,4 milhões de sacas recebidas.
- A safra foi muito boa na região, com rendimento médio de 58 sacos por hectare. O produtor quer aproveitar isso e vender a produção com um bom preço. É por isso que ainda temos grande quantidade aqui. No ano passado, em julho, já tínhamos vendido uma quantidade maior - diz Juarez Nascimento, presidente Agropan, que tem 1,7 mil produtores associados da região.
Júlio de Castilhos
Na Cooperativa Agropecuária de Júlio de Castilhos (Cotrijuc), o cenário se repete. Conforme a líder comercial Talita Kegler, 36% da quantidade recebida ainda está estocada nas 13 unidades da cooperativa.
- Os produtores estão aguardando melhoria nos preços. A partir de R$ 65 a saca é um valor que já os agrada - diz Talita, que acrescenta que, em julho de 2016, já haviam sido comercializados mais de 75% da produção.
Em 2017, o recebimento total na Cotrijuc foi 8,2 milhões de sacas do grão, 20% a mais do que em 2016, quando foram 6,8 milhões de sacas. O aumento do número de produtores que entregaram a safra na cooperativa e a melhor produtividade das lavouras contribuíram para esse aumento, segundo Talita.
Especialista orienta aguardar melhores preços
Para o especialista em mercado da soja, Ginaldo Sousa, da Corretora Labhoro, de Curitiba, que esteve em Júlio de Castilhos dando uma palestra este ano, o cenário dos preços da soja mudou radicalmente de um mês para cá devido ao clima nos Estados Unidos.
Até o início de julho, já faltava umidade em algumas regiões produtores dos EUA e as previsões seguiam sendo de mais falta de chuvas por lá. Porém, no final de julho, voltou a chover nas regiões produtores norte-americanas, e os prognósticos são de boas chuvas para agosto, que é um mês decisivo lá, pois é a época de formação de vagens e enchimento de grãos.
- Nos últimos 10 dias, mudou muito o cenário. As frentes frias que não entravam na parte do Meio-Oeste voltaram a acontecer. As chuvas melhoraram, a qualidade das lavouras melhorou bastante. Com isso, o mercado desceu dos 10 dólares o bushel em Chicago, caindo para 9,50 dólares para contrato de setembro.
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O preço pode até cair um pouco mais e pode se consolidar daqui a três semanas, quando teremos dados de produção. Só vai subir se houver mudança radical no clima, mas isso não está previsto. Hoje, a soja está hoje em 2% de perda nos EUA, e o milho, de 5% a 7% - diz Sousa.
Segundo ele, ¿é loucura o produtor manter estoques de soja se está pagando juros de dívidas¿. Ele orienta que, no cenário atual, o produtor que puder deve evitar vender com a cotação atual, ¿de fundo de poço¿, e esperar uma melhora pontual nos próximos dois meses para vender. É que, a partir de outubro, as compras se voltarão à soja dos EUA.
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- O produtor que tem soja para vender, ele vai segurar um pouco e não deve vender agora, em fundo de poço. O dólar não está ajudando. O produtor está perdendo com queda em Chicago e queda do dólar - afirma.
Exportações
As exportações gaúchas somaram 8,2 bilhões de dólares no 1º semestre, um aumento de 7,8% em relação ao mesmo período de 2016. De acordo com os dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE), o Rio Grande do Sul ocupa a 5ª posição do ranking dos principais exportadores do país, com 7,7% das vendas externas brasileiras. Foram enviados 5,596 milhões de toneladas de soja no 1º semestre.