estiagem

Prejuízo no campo chega a R$ 90,8 milhões em Santa Maria 

No parreiral, os cachos carregam poucas uvas. A árvore de carambolas está cheia de frutas, mas elas caem antes mesmo de amadurecer. Na plantação de morangas, a perda foi total. O milho demora para formar a espiga e, quando forma, já não dá mais para vender o milho verde porque o grão endurece muito rápido. O alface, apesar de ter irrigação, cresce de forma desparelha e morre queimado do sol. O açude de irrigação, inclusive, está pela metade. Esses e outros impactos são sentidos na pele pelo casal Maria Zorzella Souza, 61 anos, e Darci Jacinto de Souza, 66 anos, na propriedade onde moram e cultivam hortaliças, legumes e frutas, na localidade São Marcos, no Distrito de Arroio Grande. 

O casal de agricultores trabalha ao lado do filho Jéferson Zorzella Souza, de 26 anos. Eles vendem os produtos cultivados _ todos orgânicos _ em quatro feiras da cidade, e percebem uma redução de até 80% no lucro. 

_ Em períodos normais, conseguimos até R$ 1 mil por semana fazendo feira. Agora, fica em torno de R$ 200. Caiu bastante por feira, porque tem vezes que não tem produtos para levar, então a gente nem vai. Quanto menos produto, menos renda. A sorte é que o meu marido e eu somos aposentados, se não ficaria bem difícil _ conta Maria.

A família até tem dois açudes utilizados para irrigação, abertos há 10 anos pela prefeitura, mas ajuda pouco. O calor seca a pouca umidade rapidamente nas plantas. 

_ Por enquanto, a gente nem está plantando mais para não ter prejuízo. Enquanto não chover, não tem o que fazer. A gente chega na feira e as pessoas reclamam que os produtos não estão tão bonitos, que não tem muita variedade, mas o que podemos fazer se as plantas precisam de chuva? _ questiona a agricultora. 

PREJUÍZOS MILIONÁRIOS

A falta de chuva tem castigado a produção de grãos em Santa Maria. Além dos danos mais aparentes no milho e soja, a falta de chuva aliada ao calor excessivo também impacta na pecuária de corte e de leite, hortifrutigranjeiros e arroz. O levantamento mais recente da Emater, feito na segunda-feira, aponta que as perdas médias na safra de milho chegam a 35%, enquanto na soja o prejuízo médio é de 37%. O prejuízo no setor agrícola, somada safra de grãos e bovinocultura, é de R$ 90,8 milhões.

_ Nossa maior preocupação agora é com a soja. Cada dia sem chuva representa um aumento nas perdas. E, como não há perspectiva para que volte a chover, a situação deve piorar bastante. O prejuízo já registrado é irreversível _ diz o chefe do escritório municipal da Emater, Guilherme Godoy dos Santos.

A estimativa inicial, segundo Guilherme, era uma colheita média de 55,75 sacas por hectare no município. Agora, essa estimativa já caiu para 35 sacas por hectare. No Estado, a Emater estima que esta seja a menor produção de safra de grãos desde 2017.

_ A essa altura da safra, era esperado um maior desenvolvimento vegetativo. Deveria estar com uma carga maior de vagens. Com a seca, a planta produziu a flor, mas as flores não foram fecundadas. Então, a planta não produz o grão. E os grãos que existem são pequenos e frágeis _ destaca o chefe da Emater.

Na quinta-feira, as entidades farão uma reunião com agricultores no salão da igreja de Santa Flora. Serão apresentadas alternativas aos produtores, a partir do decreto de emergência, como acesso ao seguro agrícola e possibilidade de construção de açudes para irrigação. O encontro está marcado para as 9h. 

IRRIGAÇÃO REDUZ PERDAS

Donos de uma propriedade na localidade de Três Barras, Distrito de Arroio Grande, André Raddatz e a esposa Neusa Biasi Raddatz apostam na irrigação para minimizar os efeitos da seca. Lá, produtos como tomate e pimentão só crescem durante a estiagem devido ao sistema de irrigação implantado pelos agricultores a cerca de oito anos.

_ A irrigação é a única alternativa que nos temos hoje para comercializar alguma coisa. Se não tivesse irrigação, eu não ia ter nenhuma produção hoje. Ainda assim, são poucos canteiros que tem o sistema, porque o custo seria muito alto _ afirma o produtor.

Porém, a maior renda da família vem da comercialização de frutas. E, na propriedade, as árvores frutíferas não são abrangidas pelo sistema de irrigação. André já contabiliza as perdas e alerta para outro problema ocasionado pela seca: o aumento nos preços das frutas, principalmente laranja e bergamota.

_ Nas hortaliças, ainda não precisamos aumentar os preços. Mas, as árvores de bergamota já estão secando. O mesmo acontece com as laranjas. Esse ano, vai ter pouca bergamota e laranja. Mesmo vindo chuva, não tem mais como repor. E isso está acontecendo com todos os produtores de frutíferas. Por causa disso, todo mundo já pode se preparar porque o preço vai ser bem mais alto. Mesmo trazendo de outros estados, vai ficar mais caro por causa do frete _ destaca.

Assim como Maria, o agricultor já sente no bolso uma redução no lucro a cada feira que participa. São pelo menos R$ 200 a menos por feira:

_ Por enquanto, conseguimos nos manter indo nas duas feiras que sempre vamos. Mas não vamos ter produtos suficientes por muito tempo. Mesmo se chover amanhã, não tem volta. Não está fácil.

PREVISÃO DO TEMPO


NA REGIÃO

Na Região Central, chega a 27 o número de municípios que assinaram o decreto de situação de emergência por causa da estiagem. No Estado, de acordo com o último boletim informativo pela Defesa Civil, são 136 municípios afetados pela seca.

Em Santiago, conforme laudo de avaliação feita pelos técnicos da Emater, as perdas por causa da estiagem chegam a quase R$ 150 milhões.

_ É o equivalente ao orçamento do município durante um ano inteiro. É terrível pros nossos produtores, para a nossa economia _ revela o prefeito Tiago Gorski Lacerda (Progressistas). 

As maiores perdas são na cultura de milho, com prejuízo de 60% da área plantada, o que equivale a R$ 5,4 milhões; soja, com perda de 50% e um prejuízo de R$ 102 milhões); bovinos, com quebra de 15% (cerca de R$ 36 milhões) e horticultura, perdas de 20% e prejuízo de R$ 200 mil. 

Dos municípios da região, 14 conseguiram o reconhecimento da situação pelo governo estadual e 6 pelo governo federal. 

Municípios que decretaram situação de emergência:

w Agudo

w São Gabriel

w Nova Palma

w Faxinal do Soturno

w Pinhal Grande

w Santa Maria

w Jari

w São Martinho da Serra

w Paraíso do Sul

w Restinga Sêca

w Santa Margarida do Sul

w Júlio de Castilhos

w São Pedro do Sul

w Toropi

w Tupanciretã

w Formigueiro

w Quevedos

w Mata

w Santana da Boa Vista

w São Francisco de Assis

w Cruz Alta

w Jaguari

w Nova Esperança do Sul

w Lavras do Sul

w Rosário do Sul

w Santana da Boa Vista

w São Sepé

w Caçapava do Sul

w Cacequi

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