É fato! As pessoas não querem mais telefonar. Ninguém atende o telefone. Chama, chama, chama? "sua chamada está sendo enviada para a caixa postal? Às vezes em menos de cinco minutos, chega o zap: "oi, queria falar comigo?" E, então, de maneira mecânica, e pela necessidade de otimizar a vida, resolvemos ali mesmo.
A desculpa para tamanha praticidade mais usada era "é mais fácil escrever, né?" Mas, então, me explique, por favor, por que enviamos tantas chamadas de voz. Eu era contra. Juro. Agora, tornei-me o que eu mais temia: a pessoa que envia chamada de voz. A culpa é da pressa, da necessidade, da praticidade, do momento atual. Desculpas, desculpas e desculpas. E, com isso, mais distanciamento, mais receio da abordagem humana e pessoal.
Contamos com tantas ferramentas tecnológicas em nossas mãos, não é? São facilitadoras tanto para resolver questões pessoais quanto profissionais. Para essas, então, o celular tornou-se imprescindível. Não há dúvidas. Só que, convenhamos, os aparelhos colaboram com a nossa falta de vontade de olhar no olho, conversar pessoalmente, perceber emoções pela entonação de voz do outro lado e ouvir um riso farto a cada telefonema.
Hora da verdade. Vamos admitir que, por inúmeras vezes, você eu já ficamos entristecidos depois de uma conversa no WhatsApp. Começa apenas com um "bom dia" para dar início a um diálogo entusiasmado a respeito de projetos e perspectivas. Mas, do outro lado, você recebe: ok, tá, beleza, ahã? E quando a resposta não vem? Admita. Você já chorou no carro ou abraçado no travesseiro por que foi ignorado no WhatsApp. Bem feito! Se tivesse conversado por telefone, até teria feito o seu destinatário rir um pouco ou chorar com você. Mas não. A gente prefere os criativos e fofos emoticons disponíveis para dizer o que não temos coragem ou por preguiça mesmo.
As redes sociais são boas, no entanto, não as use para maquiar sentimentos e fazer atalhos em resoluções. Ouça a voz do outro. Eu sou a chata dos grupos, confesso. Nego-me a dar parabéns de aniversário a granel. Que coisa chata, gente! É pior, bem pior do que os "bons dias" com cartões postais de flor. Coitado do aniversariante. Não sabe se responde um por um ou se deixa para antes da meia-noite.
Não deixe de usar o WhatsApp, Telegram e afins. Porém, que tal tentar ouvir a voz de alguém do outro lado? Sabem do que eu mais sinto falta da minha mãe? Da voz dela. De manhã, era certo: "oi minha filha, já foi trabalhar? Está frio aí? E os guris, foram para a aula? E dali, seguíamos para uma conversa que ia de receita de almôndegas a como dar remédio para os pets. Não faltava ocasiões em que discutíamos por banalidades e desligávamos "indignadas" uma com a outra Mesmo assim, era muito bom.
A ideia não é voltar aos incontáveis telefonemas. A ideia é equilibrar, sabe? Sentar à mesa, compartilhar um café e planejar com a equipe, ao menos uma vez por semana, as demandas profissionais. Depois, alinha-se, atualiza-se pelas redes sociais, por e-mail, nos grupos.
Lembro de quando ainda ligava para as pessoas. Usava sempre a mesma frase: oi, pode falar um pouquinho agora? Não quero atrapalhar". Quando possível, a conversa se estendia e, logo, uma reunião pessoal era agendada. Bem legal. Experimente.
A pandemia tem nos mantido afastados de forma física. Meu apelo, então, é contra o distanciamento que podemos evitar ou controlar. Já estamos longe fisicamente, não precisamos ficar ligados "de longe". Se os nossos relacionamentos estão respirando apenas por aparelhos, está mais do que na hora de revermos nossos processos. O vírus dos sentimentos mecanizados pode ser muito mais fatal do que imaginamos.
Em um mundo tão sem esperança, que tal fazermos a diferença?
Alô?! Vamos conversar?