Quedas

José Carlos Campos Velho

Uma queda pode ser um ponto de inflexão na vida de um idoso, particularmente naqueles em faixas etárias mais elevadas, que podem ter complicações decorrentes do evento que comprometem gravemente sua independência, autonomia e qualidade de vida. 


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Na dependência do tipo de complicação (por exemplo em fraturas maiores, como as fraturas do fêmur), podem levar ao encurtamento da expectativa de vida do idoso, pois são um fator de mortalidade precoce, principalmente em situações de maior fragilidade, quando o tratamento, eminentemente cirúrgico, demora a ser instituído e vários problemas, decorrentes da imobilidade, podem se acrescentar e prejudicar o equilíbrio, muitas vezes já delicado, do idoso.

 
A queda se expressa, de certa maneira, como um “evento-sentinela”, significando que existe algo que não está bem na vida do idoso, à excessão das quedas eminentemente acidentais (que na verdade são mais raras). Elas podem ser divididas em extrínsecas, quando a causa encontra-se predominantemente no ambiente onde o idoso vive, e intrínsecas, decorrentes de problemas que afetam seu equilíbrio e sua capacidade de reação.


De certa maneira, por vezes, as causas são um somatório de problemas extrínsecos e intrínsecos, ou seja, é um idoso já com algumas questões de saúde que cai num ambiente que lhe é hostil. Vejam bem, nossas calçadas são verdadeiros campos minados para as pessoas caírem! Porém, a verdade é que a maioria das quedas acontecem dentro da casa dos idosos, que às vezes são uma sucessão de armadilhas, para favorecer um tombo. 

Quanto mais limpo e minimalista fosse o ambiente doméstico onde vive a pessoa idosa, menor o risco dela vir a cair. Mas o que observamos, em geral, é o contrário: móveis em profusão, de diferentes épocas, tapetes, mesinhas de centro, degraus, muitas vezes somados à uma iluminação deficiente. Boa parte das quedas ocorrem nos quartos e nos banheiros. 


E medidas de proteção, como barras de apoio, melhor iluminação, retirada dos tapetes ou uso de tapetes antiderrapantes, acabam sendo tomadas somente após a pessoa já ter sofrido uma ou mais quedas.

Ambulatórios de quedas
Quanto aos fatores intrínsecos, são tão variados, que alguns serviços geriátricos de referência, principalmente universitários, tem constituído “ambulatórios de quedas”, voltados a avaliar idosos que caíram, que procuram descobrir que fatores poderiam estar implicados na vida do idoso que cai. 


E do ponto de vista médico são tão variados, que se tornam um verdadeiro quebra-cabeça, partindo de eventuais doenças que a pessoa seja portadora, como problemas cardiovasculares, neurológicos e reumatológicos, distúrbios de marcha e condições que comprometam a estabilidade e o equilíbrio. Vale dizer que a sarcopenia, grosseiramente a perda de massa e força muscular que acompanham frequentemente o processo de envelhecimento e a osteoporose são agravantes, uma vez que predispõe o indivíduo que cai à fraturas. 


São problemas que poderiam ser abordados e tratados preventivamente, antes que tivessem maiores consequências. Importante fazer notar que, no tratamento destes problemas, as atividades físicas são essenciais, como por exemplo exercícios de resistência. Medicamentos podem estar relacionados à queda. Aí os soníferos, como os benzodiazepínicos e drogas Z, como o Zolpidem, tem um papel bastante claro, estando frequentemente implicados na etiologia das quedas.

Problema de Saúde Pública
A região central do Estado dispõe, no âmbito do SUS, de um sistema de atendimento à fraturas, que é dividido pela Casa de Saúde, que avalia fraturas gerais e de menor complexidade, o Hospital de Caridade São Roque, em Faxinal do Soturno, referência para fraturas de fêmur, e o HUSM, que se ocupa das fraturas expostas e de maior complexidade. 


Este sistema não abrange somente Santa Maria, mas todas as cidades da região central. Sendo a fratura de fêmur uma emergência ortopédica, pois quanto maior o tempo para a intervenção, maiores as complicações, implicando em estadias hospitalares mais prolongadas e sendo associadas à maior morbidade clínica, decorrentes da imobilidade prolongada, – como o delirium e as lesões por pressão,o sistema ainda necessita ajustes e maior agilidade, pois as fraturas frequentemente são abordadas com um espaço de tempo ainda alargado.

 
Vemos então que as quedas são um problema de saúde pública, existindo vários programas, nos diversos níveis governamentais, focando a prevenção de quedas. A iniciativa PrevQuedasBrasil recentemente lançou uma carta-manifesto de prevenção de quedas no SUS, que pode ser assinada no site www.prevquedasbrasil.com.br, onde podem também ser encontradas muitas informações referentes à quedas em idosos. 


Em novembro, a mesma iniciativa estará realizando um congresso em São Paulo, presencial, com uma programação abrangente de excelente nível acadêmico e prático. Portanto, todo idoso que cai deve ser avaliado pelo médico – e os geriatras são os especialistas mais familiarizados com o fenômeno, na tentativa de evitar novos eventos e prevenir problemas mais graves.


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