Recentemente estive em missão na China representando a UFSM no Encontro Mundial de Parques Tecnológicos, e confesso: é o tipo de viagem que redefine nossa percepção da sociedade. Ver o que eles alcançaram em 2025 – a IA onipresente, as megacidades planejadas, a velocidade – é um choque que nos faz questionar o que estamos fazendo aqui no Brasil.
Lembrei de Arnaldo Jabor, que dizia que o Brasil é o país onde até o passado é incerto. Pois bem, o futuro chinês é assustadoramente certo.
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Isso me remeteu aos anos 70. Enquanto o Brasil vivia o “milagre” da substituição de importações, orgulhosamente montando o próprio Fusca, a China, sob o pragmatismo de Deng Xiaoping, iniciava o planejamento estatal de longo prazo. Como diria Elias Jabbour, eles não estavam “abrindo” aleatoriamente; mas coordenando meticulosamente o que queriam ser: a fábrica do mundo.
Avançamos para 2025. Os números são brutais e servem como um tapa de luva desferido por Acelino Popó de Freitas. Um PIB chinês que beira os US$19 trilhões contra o nosso, que luta pelos US$2,2 trilhões. Um ecossistema com mais de 360 unicórnios frente aos nossos que somam 22. Na ciência, a China disputa o topo global em publicações; nós resistimos bravamente como o 13º maior produtor.
Seria o caso de jogar a toalha? Absolutamente. É aqui que o brasileiro, mestre do paradoxo, encontra seu otimismo pra lá de resiliente. Um provérbio chinês diz: “Não tenha medo de crescer lentamente, tenha medo apenas de ficar parado”. E nós não ficamos parados. Aliás, a ironia: em trimestres recentes, nosso PIB cresceu mais que o deles. Aprendemos que “cair não é vergonha, vergonha é não se levantar”.
Nossa balança comercial com o parceiro asiático, que superou os US$188 bilhões em 2024, é a prova disso: temos um superávit massivo. Alguns analistas apontam não se tratar apenas de uma simples relação de dependência; somos necessários para a segurança alimentar e energética deles.
Uso mediado e equilibrado
E aqui entra o nosso “pulo do gato”. Temos unicórnios digitais como o Nubank, é claro. Temos a Embraer, uma joia da engenharia. Mas o nosso verdadeiro caldeirão ferve onde o mundo menos espera. Enquanto a China construiu seu império sobre o silício, o Brasil está construindo o seu sobre o carbono renovável e a biologia.
Gigantes como Suzano e Klabin, não vendem apenas árvores. Elas vendem biotecnologia de ponta, resultado de décadas de P&D em celulose de fibra curta, algo que a China, grande compradora, não replica em escala. Dominamos o etanol de cana não por acaso, mas por política industrial (o velho Proálcool!) que hoje é vanguarda na transição energética.
O mais animador é que essa inovação, antes concentrada, agora pipoca por vários lugares. Aqui mesmo em Santa Maria, vemos startups, como a Zeit (IA), a Weecaps (foodtech) e a Jusfy (automação jurídica), serem listadas em um dos mais importantes rankings de inovação da América Latina – 100 Startups to Watch. Isso é a capilaridade da inovação.
Claro, não há almoço grátis. O “Custo Brasil” não é só imposto; é a falta de um projeto nacional coeso. A China tem um plano; nós temos soluços de desenvolvimento. Eles investem maciçamente em P&D para dominar IA e semicondutores; nós ainda patinamos na burocracia que sufoca nossas mais de 15 mil startups.
Mas o momentum virou. Estamos fundindo nossa vocação (agro, biotecnologia) com deeptech. A China nos ensina sobre disciplina e planejamento. O Brasil, meu caro, tem o improviso genial, a criatividade que nasce do caos. E o mundo, acredite, está faminto por esse tempero.