Gavetas: o que você tem guardado nas suas?

Daniela Minello

Componho este texto arrumando minhas gavetas. Entre uma escrita e outra, lembro de que preciso revisitá-las. Se isso servir como inspiração em sua vida, arrume as suas também. A mim, arrumar gavetas supera o ato físico em si. Para muitos, uma gaveta pode ser apenas um lugar para guardar documentos ou objetos. Minhas gavetas falam também sobre quem sou, sobre minhas memórias e sobre o que sinto. São como extensões do meu coração e da minha mente: guardam o que não tive coragem de jogar fora e o que insisti em preservar, ainda que não fizesse mais sentido, como cartas, fotos e recordações que insistem em permanecer. Outras escondem emoções que não couberam no agora e alguns sonhos deixados para depois. Existem, também, aquelas lembranças cheias de miudezas, mas que nos lembram que a vida também acontece no detalhe e nas sutilezas do recordar. Quando espalho tudo sobre a mesa, percebo que arrumar gavetas, é arrumar a mim mesma. É escolher o que fica, o que vai, e o que abre espaço para o novo. E você, já pensou no que guarda nas suas?


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As gavetas da memória e da emoção

Ali repousam impressões que parecem sussurrar o tempo. Lembranças que insistem em viver, como se quisessem rememorar sobre quem já fui e sobre as histórias que me compõem. Mesmo que algumas sejam dolorosas, elas revelam sobre quem me tornei e ainda posso vir à ser. Quando revisito estas caixinhas, percebo que algumas lembranças foram transformadas com o tempo e outras, estão intactas com a força da felicidade por já tê-las vivido. Algumas ainda tentam sobrevoar para criar morada, mas como num sopro que passa, acolho e permito que retornem transformadas pelo perdão e pela gratidão. A cada dia que abro minhas gavetas, descubro que arrumar não é apenas sobre descartar, é também dar espaço para o que realmente importa florescer e deixar seguir o que não acompanha mais você. Como numa avenida movimentada por carros apressados, em que uns desejam ultrapassar os outros, sigo sinalizando para a direita e permanecendo na pista da velocidade que me oportuniza dirigir a vida no presente. Quando acelero, tento manter meu foco na consciência, lembrando que devo zelar pelo processo da trajetória, mantendo minha integridade física, emocional e espiritual.


As gavetas do autoconhecimento 

Quando tiro tudo para fora e espalho sobre a mesa, percebo que cada gaveta é uma metáfora de mim mesma. Escolher o que fica e o que parte é também decidir quem quero continuar sendo e o que já não cabe mais em minha história ou pode ser transformada. Arrumar gavetas é também liberar o perdão; é exercer a gratidão, é arrumar a alma e se permitir recomeçar com mais leveza. Quando promovo estes encontros, entre passado e presente, busco estar na minha melhor versão, porque eu me amo e mereço promover o melhor encontro entre as minhas versões. Afinal, mais do que objetos, as gavetas falam sobre histórias de vidas. Talvez seja hora de abrir uma delas, deixar a poeira do tempo sair e permitir que um novo ar entre. Porque cada gaveta organizada é também um convite à revelação da sua melhor versão e, quem sabe, o primeiro passo para recomeçar a vida com mais espaço para o novo, para a alegria e para a esperança.


Gavetas que não abrimos mais 

A vida é feita por ciclos. Todos os dias somos convidados a viver e a conviver com veracidade e entrega diante de todos eles. É preciso saber compreender, que alguns ciclos, já findaram. Deixar ir é tão importante quanto acolher a chegada de um novo ciclo. Celebre cada instante, reorganize o que achar necessário, mas acima de tudo, exerça a gratidão, libere o perdão e seja gentil com você e com os outros. O que você guarda nas suas gavetas revela suas escolhas diante da vida. Não permita que suas gavetas transbordem ou emperrem com seus excessos, revisite-as e convide-as para criarem novas moradas. Sei que ainda tenho muito o que arrumar nas minhas, mas estou orgulhosa por permitir permanecer apenas o que me faz bem.

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