O trânsito urbano, complexo e dinâmico, é palco diário de milhões de deslocamentos, mas também de tragédias evitáveis. A convivência entre motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres exige não apenas regras, mas uma verdadeira cultura de respeito e responsabilidade. Nesse cenário, o Movimento Maio Amarelo se consolidou como uma mobilização global essencial para a conscientização sobre a segurança no trânsito. Desde sua criação, o movimento vem promovendo campanhas com temas anuais que refletem preocupações emergentes, sempre buscando provocar uma mudança de comportamento.
O tema de 2025, "Desacelere", reforça a necessidade urgente de reduzir a velocidade — não apenas dos veículos, mas do modo como vivemos e nos deslocamos nas cidades. Ao conectar-se com os temas históricos do movimento, essa nova abordagem amplia o debate para uma transformação mais profunda da mobilidade urbana. Este artigo analisa a trajetória e relevância do Maio Amarelo, discute os impactos da velocidade no trânsito urbano, apresenta dados alarmantes de sinistros e mortes e, por fim, reflete sobre o potencial transformador da campanha atual.
O professor Carlos Félix, membro da diretoria da Apusm e especialista em mobilidade urbana, destacou alguns pontos que são importantes, não apenas em maio, mas no ano todo, para a manutenção da segurança no trânsito. Ele falou sobre como surgiu esse movimento.
“O Movimento Maio Amarelo foi lançado oficialmente em 2014, inspirado na iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) que proclamou a Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2011–2020). A cor amarela foi escolhida por simbolizar atenção e advertência, tal como nos sinais de trânsito. O mês de maio se tornou referência por abrigar, em 11 de maio de 2011, a assinatura da resolução da ONU que convocava os países-membros a intensificarem ações para a segurança viária.
O principal objetivo do movimento é mobilizar a sociedade civil, governos e empresas para a redução de acidentes e mortes no trânsito. Em vez de apontar culpados, o Maio Amarelo propõe uma abordagem colaborativa e educativa, com campanhas que buscam provocar reflexão e mudança de atitudes. A cada ano, um tema é escolhido para direcionar as ações e reforçar aspectos específicos da cultura de segurança no trânsito.”
Os números apontados pelo professor nos alertam para o problema:
“Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1,3 milhão de pessoas morrem anualmente em acidentes de trânsito no mundo. No Brasil, segundo o Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de Trânsito (RENAEST), foram registradas cerca de 32 mil mortes por sinistros de trânsito em 2023. Nas áreas urbanas, onde circulam veículos leves, motocicletas, bicicletas e pedestres em grande densidade, os riscos se potencializam.
A urbanização acelerada e a priorização histórica do automóvel particular geraram congestionamentos, poluição e perda de qualidade de vida. Nesse contexto, o trânsito não é apenas um meio de deslocamento, mas um espaço de disputas e, muitas vezes, de violência. A velocidade excessiva, a imprudência e a distração são apontadas como causas principais dos sinistros, mas também refletem um modo de vida cada vez mais acelerado, em que a pressa se sobrepõe à segurança.”
A cada ano, o Maio Amarelo fortalece sua atuação como movimento de mobilização e transformação social. Sua abordagem integradora, que valoriza a empatia e a responsabilidade compartilhada, tem contribuído para mudar mentalidades e inspirar novas práticas. O tema "Desacelere", em 2025, sinaliza um amadurecimento do movimento: a segurança no trânsito não é apenas uma questão de legislação e infraestrutura, mas de cultura e valores. Desacelerar é um ato de cuidado, que reconecta as pessoas à sua cidade, ao tempo e à vida.
O professor Carlos Félix conclui com a sua visão sobre o tema:
“Em síntese, a convergência entre a engenharia bem aplicada, a educação permanente para o trânsito e o esforço legal eficaz formam o alicerce técnico e institucional da segurança viária. No entanto, é no comportamento seguro e responsável de cada pessoa — condutor, passageiro ou pedestre — que esses pilares encontram sua verdadeira essência transformadora. Quando esses elementos caminham juntos, os resultados vão muito além da redução de acidentes: promovem mobilidade mais humana, cidades mais sustentáveis e a elevação da qualidade de vida.
Trânsito seguro não é apenas uma meta estatística ou técnica, é um pacto civilizatório. E como toda grande conquista social, ele depende de escolhas cotidianas, conscientes e coletivas. Ao compreendermos isso, tornamo-nos não apenas usuários das vias, mas protagonistas de um futuro mais seguro, mais justo e mais digno para todos.”