Foto: Deni Zolin (Diário)
"Nós somos os sapatos, somos as últimas testemunhas. [...] E porque somos feitos apenas de pano e couro e não de sangue e carne, escapamos ao fogo”. As palavras escritas pelo poeta sobrevivente do Holocausto Moshe Schulstein foram escolhidas pelo Coletivo de Psicanálise de Santa Maria para simbolizar a luta coletiva pela memória de uma tragédia – a da boate Kiss, do dia 27 de janeiro de 2013. Com os 11 anos se aproximando, no próximo sábado, o coletivo prepara uma intervenção por meio do Eixo "Kiss”. Será nesta sexta-feira (26), a partir das 23h, na frente do prédio da boate Kiss, na Rua Andradas.
Serão usados pares de sapatos doados pela comunidade durante o ano de 2023. A ação é inspirada em outras já realizadas para lembrar e honrar a memória das vítimas, como nos casos do massacre em Cromañón (Argentina) e do Holocausto.
+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp
Conforme a integrante do Eixo Kiss do Coletivo, Vanessa Solis, a ideia é que haja 242 pares de sapatos. E a comunidade ainda pode contribuir.
– A gente não tem a contagem final ainda, pois estamos na expectativa porque estamos recolhendo nos pontos de coleta. Até segunda-feira, tínhamos 200 pares. Nós recebemos doações de 300 flores de uma floricultura parceira, porque cada par de sapato vai ter uma flor. A ideia é homenagear e chamar a atenção, já que estamos tão próximos do julgamento que está marcado para 26 de fevereiro.
- Lista prévia de jurados do Caso Kiss é sorteada em Porto Alegre
- Tragédia na boate Kiss: confira programação com homenagens e painéis de discussão
Memória
A psicóloga e integrante do Eixo Kiss do Coletivo, Bharbara Alves Agnoletto, 31 anos, lembra o motivo pelo qual falam deste assunto no dia 27 de janeiro e durante o ano:
– Falar sobre a Kiss é inevitavelmente falar da morte de 242 jovens. Não apenas de sua morte, mas sobre como eles e mais de 600 pessoas foram massacradas dentro daquele lugar que sequer deveria estar aberto. Falar de memória, dessa maneira, é também falar sobre cuidado e prevenção. Falamos sobre o massacre na Kiss com o intuito de que os nossos jovens sejam cuidados. Que as empresas e os profissionais do entretenimento sejam mais responsáveis. Entretanto, falar sobre memória é também falar sobre quem eles eram, não só sobre sua morte. Eles não são a morte que tiveram, eles são muito mais.
Colabore com a intervenção
- Doação de sapatos – Contato via e-mail [email protected]
- Pontos de Coleta – Espaço Guernica, Rua Manoel Ribas, 1.690, nas segundas, das 16h às 18h. E nos dias 27 de cada mês, durante ação do Acolhe, na tenda da vigília, Praça Saldanha Marinho
Coletivo Kiss: Que não se repita
Durante a semana, o Coletivo Kiss: Que não se repita, formado por amigos de vítimas e sobreviventes do incêndio, fará intervenções em diferentes pontos da cidade.
A mensagem central da semana de Memória às vítimas da tragédia da Boate Kiss é “Eu não sou apenas um número”. Ela foi desenvolvida mediante a aprovação do projeto de Lei Nº 6839/2023. Criado pelo Coletivo KQNSR, o projeto tem autoria da Vereadora Marina Callegaro.
Homenagens a vítimas fatais e seus familiares
- Quarta-feira (24) – Praça Saldanha Marinho, das 12h30min às 14h30min
- Quinta-feira (25) – Centro Desportivo Municipal (CDM), das 11h30min às 13h30min
- Sexta-feira (26) – Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo, das 11h30min às 13h30min
- Sexta-feira (26) – Av. Rio Branco, das 21h às 00h
- Sábado (27) – Prédio da boate Kiss, das 10h às 12h
Mais informações, visite as redes sociais do Coletivo
- ‘Todo dia a Mesma Noite’ alcança 6º lugar em ranking global de séries estrangeiras da Netflix
- Coletivo arrecada recursos para projeto em memória aos 11 anos da tragédia da Kiss
Júri
O primeiro júri dos quatro acusados, ocorrido em dezembro de 2021 e que acabou anulado pela Justiça, teve duração de 10 dias. Estima-se que a nova sessão também deva se estender por período semelhante. Ela está marcada para dia 26 de fevereiro.
Os quatro acusados são os ex-sócios da Kiss Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, e os integrantes da banda Gurizada Fandangueira Luciano Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Todos os réus aguardam pelo julgamento em liberdade.