INSPIRAÇÃO

Vitor Ramil fala sobre seus projetos e a experiência de tocar com jovens músicos

Vitor Ramil fala sobre seus projetos e a experiência de tocar com jovens músicos

Foto: Giordano Toldo, Divulgação

Vitor Ramil é um compositor, letrista, cantor e escritor pelotense. Ao longo de 12 álbuns se distribuem composições próprias e parcerias com Chico César, Jorge Drexler, seus irmãos Kleiton & Kledir, Zeca Baleiro, entre outros. Suas canções já foram cantadas por Mercedes Sosa, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Fito Paez, Gal Costa e Maria Rita. Entre os maiores sucessos de Vitor Ramil, estão Estrela, Estrela, Loucos de Cara, Não É Céu, Astronauta Lírico, Semeadura e Ramilonga.

Como escritor, lançou as novelas Pequod (1995), Satolep (2008) e A Primavera da Pontuação (2014); o ensaio A estética do frio - Conferência de Genebra (2004); e dois songbooks: Vitor Ramil (2013) e Campos Neutrais (2017). O artista já venceu mais de 12 Prêmios Açorianos e foi indicado duas vezes ao Grammy Latino.

Em conversa com o Diário, o pelotense falou sobre a apresentação do dia 27 de maio na região, com a Orquestra Jovem Recanto Maestro, suas inspirações e projetos para o futuro. Confira:


Revista MIX – Vitor, o quê o público pode esperar da tua participação no concerto com a Orquestra?

Vitor Ramil – Primeiramente, para mim, vai ser o reencontro com o Maestro Cunha, né? E a gente já fez tantos concertos aí em muitas cidades, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Já gravei várias coisas com o Vagner também. E eles estão com esse projeto, que é maravilhoso, com jovens instrumentistas: um projeto de educação musical com crianças aí na região. E me convidaram para participar desse concerto. Eu topei na hora porque é sempre muito emocionante tocar com cordas, especialmente com Orquestra Jovem, porque são músicos que estão começando. Então, de minha parte, o púbico pode esperar muita emoção.

MIX – Como é para ti tocar com orquestra?

Vitor – A minha música é muito apropriada para cordas, e o público sente e percebe isso. E, no caso do Vagner, a gente vem há muitos anos juntos. O Vagner estava, de certa forma, começando a fazer esse tipo de arranjo, e, ao longo dos anos, sempre fomos discutindo e aperfeiçoando. Ele sempre foi muito aberto a ouvir o compositor também e a gente acabou depois fazendo um disco que é o Campos Neutrais. É um álbum meu que não tem cordas, mas tem metais, né? A minha afinidade com o Vagner é muito grande. Então é isso, posso dizer que a minha canção acaba se traduzindo muito bem para as orquestras.

MIX – Como é a tua relação com os músicos jovens?

Vitor – Eu já fiz bastante isso de tocar com jovens, que estão em processo de formação. E é bárbaro, um negócio muito bonito, porque para quem está tocando e também vendo, é um pacote bem completo. Não é só a música, mas é também olhar e perceber que tem projeto junto, de encaminhar aquelas pessoas. E isso vem crescendo muito no Rio Grande do Sul. Eu fico feliz de poder fazer parte disso.

MIX – Qual é a tua relação aqui com a região central do Estado e, sobretudo, Santa Maria?

Vitor – Eu gosto muito. Santa Maria é uma cidade especial. É o lugar onde a minha mãe, quando menina, foi estudar no internato. Então sempre teve uma história com Santa Maria aqui em casa. E hoje em dia temos parentes aí e na região. A família da Ana, minha mulher, é de Rosário, então a gente está sempre em contato com Santa Maria. E, profissionalmente, eu gosto muito de ir aí também. É uma cidade universitária com uma pegada muito boa, né? Uma pegada cultural. Não me estranha que seja nessa região que esteja ocorrendo um projeto tão bacana como o da Orquestra Jovem Recanto Maestro.

MIX – Atualmente, a tua música Estrela, Estrela, de 1980, está na trilha sonora da novela Amor Perfeito, da TV Globo. Você considera que isso pode ser uma porta de entrada para que um novo público conheça o teu trabalho?

Vitor – Sem dúvidas. É interessante porque eu tenho visto muita gente se manifestar assim: “Ah, que música linda, não conhecia!”. É engraçado, porque essa é uma música que já tem 43 anos, né? (risos) Eu compus na adolescência. Mas é sempre muito bom e curioso. Eu brinco que a vantagem da gente não ser muito conhecido é que estão sempre nos descobrindo (risos). Então estou sempre com a sensação de que a minha carreira está crescendo. É um público que acaba se aproximando do que eu faço. Tem muitos jovens nos meus shows. Às vezes, até crianças, que sabem todas as letras e cantam, e também gente com a idade dos meus pais. Então é muito legal para mim isso, porque o meu trabalho sempre foi pautado por uma lógica autoral poética musical e não por questões de êxito comercial.


Revista MIX – Vitor, tu tens uma grande carreira, com 12 álbuns. O que mais vem por aí?

Vitor Ramil – Sempre tem coisas vindo. Por exemplo, agora eu já estou em pré-produção de um disco novo. Durante a pandemia, eu musiquei 13 ou 14 poemas do Paulo Leminski, um poeta paranaense. A cada trabalho, depois de compor, eu começo a pensar como posso fazer de uma maneira que não repita os procedimentos da minha época, não quero fazer nunca nada igual ao que todo mundo está fazendo. Tampouco quero repetir o que eu mesmo já fiz. Eu estou sempre me encaminhando para algo novo dentro da minha trajetória, das minhas buscas pessoais, sabe? Eu tenho um compromisso ético comigo mesmo de buscar sempre fazer algo novo em termos de letras de música, de produção, de arranjo, entende? Então, nesse sentido, isso vai sempre mudando. E acho que é muito por isso que vai chegando gente nova para o meu trabalho, tem muita gente que vai sempre se somando porque eu, mais ou menos, vou combinando os procedimentos da minha época, mas sempre a partir do meu ponto de vista autoral.

MIX – O quanto a pandemia impactou os teus processos criativos?

Vitor – No começo, foi aquela perplexidade. Fiquei estagnado, só queria ver notícias. Eu tenho uma mãe de 97 anos, e foi uma grande preocupação para mim. Mas, no meio do caminho, veio a ideia para esse projeto. Em três semanas, tive um surto (risos). Isso é uma coisa curiosa também. Eu estava na minha sala, com o livro do Paulo Leminski na minha frente. Então, eu me sentava ali, olhava o livro, pegava violão e fazia uma música. Cheguei a fazer três músicas no mesmo dia, o que não é uma coisa comum. Na verdade, o trabalho com Paulo foi mais para o final. Antes musiquei Fernando Pessoa. Muita poesia. Até Lobo da Costa, um poeta antigo aqui do Rio Grande do Sul, de Pelotas, eu usei. Fiz canções com letras minhas também. Aí resolvi gravar um álbum, Avenida Angélica, com composições que eu tinha feito com Angélica Freitas antes da pandemia. Eu também escrevi. Comecei uma novela de ficção nova. Estou escrevendo sobre a estética do frio, um livro que eu vou lançar em 2024? É um tema que eu deixei fluir um pouco ao sabor dos acontecimentos esses anos todos, para voltar a ele mais adiante. Estou fazendo isso agora.

MIX – O que tem te inspirado ultimamente?

Vitor – Eu nunca tenho nada específico que me inspire. Às vezes, eu leio poemas que eu olho e vejo música, por exemplo. Mas também isso pode ser uma coisa totalmente casual e aleatória. Voltando ao Leminski: um belo dia, estava lendo o livro dele, passei por um poema; larguei o livro ali, me peguei meio falando e, logo, cantando aquele poema. Não é que eu estivesse, necessariamente, inspirado pelo Paulo Leminski, mas houve, sim, uma conexão da minha musicalidade com a poesia dele. Eu não tenho um objetivo de falar sobre algo específico. Mas, às vezes, sim. Por exemplo: eu fiz uma canção para o aniversário da minha mãe, no ano passado, que nós gravamos em família. Eu, Kleiton, Kledir e minhas irmãs Branca e Kátia. Isso foi uma inspiração objetiva: eu falo da nossa casa, da música, nós cantamos para ela. Às vezes, acontece isso. O filósofo Bachelard fala que “a imagem poética antecede o pensamento”. Então, muitas vezes, o que tu escreve é como se fosse um pensamento rapidíssimo que não teve nem consciência dele. É como se houvesse uma espécie de um transe, mas não é um transe no sentido de sair de si, espiritual. É uma síntese rapidíssima que se faz e, muitas vezes, é nesse momento da ciência que ocorre o que a gente chama de inspiração, né? Claro, às vezes, tu vais para algum lugar e te desperta alguma coisa específica. Ou tu estás muito apaixonado por alguém. Ou muito triste. Tudo isso mobiliza os teus sentimentos. E tu podes criar a partir daquilo ali, né? Mas, pelo menos para mim, normalmente é um “plim” que acontece!

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