Talentos da Terra

FOTOS+VÍDEO: Fundação Cultural de São Sepé tem oficinas de canto, dança e pintura

José Mauro Batista


Foto: Renan Mattos (Diário)

Em 2006, o mecânico José Adão Oliveira Machado, morador de São Sepé, começou a produzir maquetes de edificações famosas com palitos de fósforo. As réplicas, em miniatura, de ícones da construção mundial, como a Torre Eiffel, principal cartão postal da capital francesa, são perfeitas e foram produzidas apenas como passatempo. Elas ficaram anos guardadas, até serem descobertas, em 2013, pela Fundação Cultural Afif Jorge Simões Filho.


Por meio do projeto Talentos da Terra, artistas como José Adão, o Zé dos Palitos, deixam o anonimato e jovens com alguma habilidade especial são descobertos e lapidados. Essa é apenas uma entre as dezenas de iniciativas desenvolvidas ou abrigadas pela Fundação Cultural, um órgão vinculado à administração pública municipal com status de secretaria.

Criada por lei em 1988, a Fundação Cultural é uma autarquia. Ou seja, tem uma estrutura, gestão e orçamentos próprios. É por meio dela que é formulada a política cultural do município.

- Faça chuva, faça sol, já sei o que vou ter de dinheiro, no ano, para a cultura - diz o presidente da autarquia, Luís Garcia, que também é diretor de Cultura da Associação dos Municípios da Região Centro (AM Centro).

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Além do papel estratégico, a fundação oferece cursos permanentes que contemplam todas as faixas de idade e que são ministrados na Casa de Cultura. No primeiro semestre deste ano, 352 alunos se inscreveram nas oficinas. E ainda há vagas para quem quiser aprender pintura, dança de salão, canto e informática, entre outras opções.

O órgão funciona como um guarda-chuva que abriga outras instituições, como a Casa de Cultura e a Biblioteca Pública. Também é responsável por um pequeno museu, um cineclube e um auditório destinado a palestras, shows e eventos da comunidade e da própria autarquia.

A Fundação Cultural de São Sepé é um exemplo de como se pode fazer cultura a partir de um novo paradigma de gestão. 

Com orçamento anual de R$ 1,1 milhão, o órgão tem, ainda, a incumbência de viabilizar eventos como Carnaval, Semana do Município, Semana Farroupilha, Semana da Cultura, Feira do Livro, o festival Sinuelo da Canção Nativa e o Natal da Família Sepeense. Este último fez a cidade tornar-se referência regional em ornamentação natalina.

FUNDAÇÃO CULTURAL

  • Fundada em 6 de maio de 1988, a Fundação Cultural Afif Jorge Simões Filho é uma autarquia, ou seja, um órgão vinculado à prefeitura, com gestão e orçamentos próprios
  • Atua na área cultural com o objetivo de formular a política cultural do município
  • Tem uma diretoria nomeada pelo prefeito, 12 funcionários e orçamento anual de R$ 1,1 milhão

Instituições administradas 

  • Auditório Ulysses Guimarães
  • Museu Municipal Dr. Inocêncio Pires
  • Biblioteca Pública Clara Gazen com 24 mil livros, que podem ser lidos no local ou retirados
  • Cineclube Alvorada
  • Banda Municipal Paz e Concórdia 
  • Casa de Cultura
  • Coros Municipais Vozes de Pulquéria e Vertente de Prata

Entidades apoiadas 

  • Associação dos Artesãos de São Sepé (Assasp)
  • Academia de Letras e Artes Sepeense (Alas)
  • Escolas de Samba

O QUE É OFERECIDO NA CASA DE CULTURA

  • Pintura em tecido (adultos) - Terça a quinta-feira, das 9h às 11h
  • Violão (todas as idades) - Segunda-feira, manhã e tarde
  • Canto e interpretação (todas as idades) - Segunda a sexta-feira, das 9h ao meio-dia
  • Informática básica (melhor idade) - Segunda a quinta-feira, pela manhã
  • Dança (todas as idades) - Terça a quinta-feira, nos três turnos
  • Teclado (todas as idades) - Quinta e sexta-feira, manhã e tarde
  • Oficina de arte e decoração - Sexta-feira, das 9h ao meio-dia
  • A Casa de Cultura fica na Rua Antão Farias, 1037
  • Mais informações pelo telefone (55) 3233-1637

Onde buscar informações sobre cursos

  • Rua Plácido Gonçalves, 1508, Centro de São Sepé
  • Telefone (55) 3233-3550 
  • Horário de funcionamento - das 7h30min às 13h

Principais eventos

  • Carnaval
  • Semana do Município
  • Desfile da Semana Farroupilha


Foto: Renan Mattos (Diário)

DE PALITO EM PALITO
Quando se aposentou da oficina, o mecânica José Adão Oliveira Machado, o Zé dos Palitos, 60 anos, começou a se dedicar a um hobby que começou na infância: construir réplicas de objetos e construções.

Com palitos de madeira, José Adão construiu dezenas de obras, muitas delas dadas a amigos. Atualmente, ele tem 11 miniaturas em casa e está construindo um castelo medieval, uma das suas preferências.

- Eu olho o desenho e procuro fazer igual. Tem que ter paciência - conta o artista, que se recusa a vender seu trabalho.

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José Adão já participou de exposições em Santa Maria e em outras cidades da região. Ele também já expôs sua arte fora do Brasil: em 2013, foi um dos expositores da Bienal de Corrientas, evento que reuniu artistas de 12 países, na Argentina.

TRABALHO MINUCIOSO
Entre as obras que se destacam estão as construções de edificações famosas. A Catedral de Nossa Senhora Aparecidaconsumiu 65 mil palitos e seis meses de trabalho. 

Já na Torre Eiffel, que tem 1,80 de altura, foram utilizados 44 mil palitos e quatro meses para ficar pronta. As estruturas são montadas em blocos, a partir de palitos colados. Depois, as peças são encaixadas até resultar no formato da edificação em três dimensões.

- Comecei a fazer e não parei. Era sábado, domingo, feriado, e eu estava trabalhando - conta.

São Sepé, terra natal do artista, também foi homenageada com uma réplica da Igreja Nossa Senhora das Mercês, que fica no centro da cidade.  José Adão diz que não tem ideia de quanto valem suas miniaturas. Ele também não quantificou quanto gastou na produção das réplicas, mas garante que "o fósforo é barato".

- Com uma caixa pequena eu quebro os palitos e dobro o número - revela. 

O presidente da Fundação Cultural explica que o projeto já revelou outros talentos da cidade e está em busca de outros.

- O Zé é um exemplo de talento que nós descobrimos. O objetivo do projeto é descobrir novos talentospara lapidar - explica Luís Garcia.

Muitos deles expõem sua produção no Brique das Mercês, uma espécie de Brique da Vila Belga, criado em Santa Maria. O evento ocorre um sábado por mês, na Praça das Mercês. 

PINTURA EM TECIDO É TERAPIA E FONTE DE RENDA
Três vezes por semana, a oficineira Laci Correa, 76 anos, ensina pintura em tecido para 30 mulheres matriculadas no curso de Pintura em tecido para adultos. São seis horas semanais entre panos, tintas e pincéis, no ateliê da Casa de Cultura.  


Foto: Renan Mattos (Diário)

As alunas são divididas em três turmas. Ainda há 18 vagas para interessados.

- Isso aqui é uma terapia, cura estresse. A pessoa entra deprimida e sai beleza - brinca Laci, que ensina técnicas para desenhar e colorir panos de prato, sacolas e camisetas.

A produção das alunas é vendida em feiras e eventos, como o Brique das Mercês, sempre no primeiro sábado do mês, na praça que leva o mesmo nome.

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Apesar de não ser exclusiva para mulheres, o curso não atrai os homens. Apenas um, segundo Laci, apareceu nos últimos anos, mas acabou desistindo. Já a luna mais idosa tinha 89 anos e faleceu recentemente.

OCUPAÇÃO
A professora Cenilda Correa de Lima, 64 anos, preferiu continuar na sala de aula depois da aposentadoria, mas em posição diferente. Desta vez, como aluna.  

- Faço artesanato desde os 9 anos de idade e sempre tive vontade de aprender pintura. Me aposentei há três anos e vim para cá para me ocupar. É uma terapia - diz Cenilda.

Algumas coisas, como os tipos de tecido, ela aprendeu com a mãe, que era costureira e que, segundo Cenilda, morreu costurando, aos 91 anos.

ERA DIGITAL
Quem acha que passou da idade para aprender a mexer no computador, está enganado. Aos 79 anos, o tipógrafo aposentado José Elemar Gonçalves é um dos 14 alunos do curso de Informática base, que tem como público-alvo pessoas a partir dos 60 anos de idade.

- Resolvi fazer o curso por curiosidade. A gente tem que se adaptar - explica Machado, um dos fundadores do jornal A Palavra, em 1950.

Embora não esteja na faixa de idade prioritária do curso, a dona de casa Marcia Trindade, 43 anos, também decidiu se matricular e aprender um pouco mais sobre computadores.

- Ensinamos o básico, como ligar e desligar o computador e programas mais simples. Nossos cursos já ajudaram muita gente a perder o medo do caixa eletrônico - conta o monitor Lisandro Gonçalves. 

PEQUENAS CANTORAS SOLTAM A VOZ
De segunda a sexta-feira, das 9h ao meio-dia, a professora Karine Nunes, 41 anos, ensina música na Oficina de Canto e Interpretação da Fundação Cultural Afif Jorge Simões Filho. Há módulos para todas as idades. 


Foto: Renan Mattos (Diário)

Na terça-feira é a vez das meninas Ana Liz Pereira, Marcela Mello Toneto, Ana Clara Henrique de Souza e Ingrid Oliveira Gonçalves. Nas três horas de aula na Casa de Cultura, elas se divertem cantando e aprendendendo noções de interpretação. As meninas que têm 9 e 10 anos de idade têm um sonho em comum: cantar profissionalmente. No entanto, elas também sonham com outras profissões. 

- Eu quero ser cantora e jogadora de futebol - revela, com entusiasmo, Ingrid, 10 anos.

A falante Ana Clara, 10 anos, conta que resolveu entrar na aula de canto por influência dos avôs materno e paterno. Os dois incentivaram a menina a cantar.

- Eu sempre quis ser cantora e recebi esse apoio dos meus dois avôs, que já faleceram - revela Ana Clara.

As oficinas são tão atraentes que a autônoma Aline Pereira, 34 anos, sempre acompanha a filha Ana Liz, 9 anos.

- Só venho na aula para acompanhar a minha filha - diz Aline, ressaltando que apoia integralmente o sonho da menina, que é ser cantora profissional.

Enquanto se preparam para mais uma interpretação, as garotinhas vão contando sobre o que pretendem ser.

- Eu quero ser promotora, advogada ou juíza - afirma em voz alta e com convicção Marcela, 9 anos, a única que não alemeja cantar profissionalmente.

Enquanto alimentam sonhos, as crianças testam sua afinação em eventos nas escolas. No final do ano, elas se juntam aos adultos e aos corais Vozes da Pulquéria e Vertentes de Prata para encantar o público em apresentações no Natal da Família Sepeense, um dos palcos da oficina. As inscrições para participar são abertas, mas a professora Karine também sai à procura de talentos nas escolas de São Sepé. 

- Ela garimpa talentos para lapidar - explica o presidente da Fundação Cultural, Luís Garcia.

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