covid-19

VÍDEO: especialistas explicam riscos da contaminação do coronavírus por meio de roupas, objetos e até da barba

18.303

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
O engenheiro civil Marcello Portella decidiu aparar a barba para evitar contágio na família

Muitas dúvidas ainda pairam sobre o comportamento do agente viral Sars-Cov-2, causador da doença batizada de Covid-19, o novo coronavírus. Descoberto em dezembro do ano passado, há poucas pesquisas sobre o comportamento do vírus, mas a ciência já dá pistas de alguns cuidados que podem ser adotados pela população. Além da higienização das mãos, já surgiram recomendações sobre a retirada completa das roupas que chegam da rua e até mesmo a remoção da barba pelos homens.

Mas até onde esses cuidados se estendem? Conforme, o cientista especialista em aerossóis do Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, nos Estados Unidos, Linsey Marr, ouvido pelo jornal New York Times, em entrevista traduzida pelo jornal O Globo, as gotículas dificilmente pousam nas roupas. Isso está relacionado a uma questão de aerodinâmica. É que quando andamos, nosso corpo faz com que o ar desvie levando as gotículas para fora. Para que a contaminação de fato aconteça, é preciso que uma quantidade significativa de secreção seja "borrifada" nos tecidos e que alguém toque neste mesmo local.

O engenheiro civil Marcello Portella, 43 anos, estava com barba há mais de 8 anos, idade da filha mais nova, Marcela. Com a pandemia, veio a pressão da mãe dele para que tirasse a barba, por medo que os pelos fossem um lugar onde o vírus pudesse ficar depositado.

- Eu não tinha nenhuma informação científica e, como minha filha vem me beijar, resolvi aparar - contou Marcelo.

Santiago pode ter ambulatório de campanha com 60 leitos para tratar coronavírus

Para o professor de virologia no curso de Veterinária, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Eduardo Furtado Flores, a retirada da barba não é necessária. Segundo ele, é muito difícil o vírus aderir ao cabelo ou à barba, e isso só acontece se a pessoa que tossir ou espirrar perto estiver infectada.

Já o biomédico Huander Felipe Andreolla, professor da Universidade Franciscana (UFN), lembra que pessoas assintomáticas podem estar eliminando vírus em dois ou três dias anteriores ao surgimento dos sintomas. Sobre a retirada da barba, diz que é uma forma de minimizar o contágio. Ele reforça que o rosto sem a barba também facilita o uso seguro e apropriado da máscara.

Os dois especialistas têm entendimentos diferentes também em relação a outros cuidados. Confira a interpretação dos pesquisadores ouvidos pelo Diário.


QUAIS CUIDADOS SÃO REALMENTE EFICAZES

Diário - O vírus pode estar em nossos objetos e superfícies? Se sim, por quanto tempo e sob que condições ele sobrevive?
Eduardo Furtado Flores (virologista) -
Em uma superfície lisa, como plástico e metal, o vírus pode ficar cerca de 12 horas. Em cartões de caixa de entrega, pode resistir até dois, três dias. Ou seja, se pessoa tossir ou espirrar numa superfície como alumínio ou plástico, o vírus fica ativo por 12 horas, não mais que isso.
Huander Felipe Andreolla (biomédico) - Sim. A depender do tipo de superfície, as partículas virais podem se manter viáveis por um período que pode variar desde algumas horas até alguns dias. Uma revisão de vários estudos recentes publicada e amplamente comentada inclusive em redes sociais, demonstrou que o vírus pode se manter viável em superfícies de metal (por até cinco dias) e de plástico (por até nove dias). Um dado interessante também mostrado nessa publicação menciona que temperaturas mais frias poderiam preservar os vírus por períodos ainda mais longos, favorecendo a contaminação pelo contato direto com esses objetos. Sob refrigeração, por exemplo, dentro da nossa geladeira, o vírus pode permanecer por até 28 dias. 

Diário - Qual é o risco de contaminação por roupas, sapatos, correspondência? Posso me infectar tocando esses objetos?
Flores
- O risco de contaminação de roupas é muito pequeno, a não ser que uma pessoa que esteja que esteja com o vírus tussa ou espirre muito perto. Fora isso, dificilmente. Ou se a pessoa encostar a roupa em um corrimão ou maçaneta contaminada. Quem tem pessoas do grupo de risco em casa e que precisam ir para a rua, como profissionais de saúde, é recomendado que deixem os sapatos no lado de fora ao entrar em casa, para evitar contaminar o piso, mas isso em locais onde tem muito vírus circulando, como São Paulo ou Nova York atualmente.
Andreolla - Sim. A contaminação pode acontecer tocando várias superfícies e objetos, incluindo-se roupas e calçados.  

VÍDEO: na loja de armarinhos, solidariedade e tecnologia são ferramentas pra driblar a crise

Diário - Como fazer com bebês que estão engatinhando? Quais cuidados tomar?
Flores -
Se a mãe ou o pai têm o vírus, ou estão com doença respiratória que não foi diagnosticada ainda, mas que pode ser o vírus, essa pessoa deve se isolar, usar máscara, evitar qualquer contato de secreções dela com o bebê. Se houver idosos na casa, o protocolo é o mesmo. 
Andreolla - Uma medida extremamente eficiente é manter a casa o mais limpa possível, utilizando-se, para isso, produtos à base de cloro e sabão, que inativam o vírus. Um fato importante é que não se ande dentro de casa com os mesmos calçados da rua. Outra estratégia interessante é limitar o espaço para que o bebê brinque em um local higienizado. 

Diário - Como se faz o descarte correto de máscaras? É possível se contaminar tocando em uma máscara usada?
Flores -
As máscaras reutilizáveis, estas de pano, recomenda-se lavar. As pequisas apontam que uma máscara de uso contínuo deve ser descartada a cada duas horas. Também é indicado que essa máscara seja lavada com água e sabão. Já as máscaras descartáveis devem ser descartadas no lixo.
Andreolla - A melhor forma de descartar uma máscara usada com segurança é inativando o vírus em uma solução de hipoclorito (Q-Boa) ou de água com sabão. Também é importante lembrar que se estiver na rua e não tiver esses itens por perto, essa máscara seja acondicionada em saco plástico e que se proceda sua descontaminação tão logo quanto for possível. Em serviços de saúde, temos lixeiras e instruções bastante claras quanto ao correto descarte desses resíduos a fim de minimizarmos eventual exposição aos fluídos potencialmente infectantes. Um grande desafio, especialmente aos profissionais da saúde, além de usar corretamente os equipamentos individuais de proteção é saber como retirá-los, de modo seguro, a fim de que não se contaminem após um atendimento, por exemplo. Normalmente, é nessa ocasião - retirada dos EPIs - que a contaminação ocorre. 

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)

Diário - Roupas de cama devem ser trocadas em que período? 
Flores - Em domicílios que não têm nenhuma pessoa doente a roupa de cama deve ser trocada na mesma frequência que se trocava sempre. Agora, se em uma casa mora alguém que teve comprovação da doença deve seguir todo um protocolo de isolamento. 

Andreolla - Recomenda-se que se troque roupas de cama com maior frequência. No caso de uma pessoa estar com sintomas, a frequência da troca deve ocorrer diariamente, de preferência.  

Diário - Lavar a roupa na máquina é eficaz?
Flores -
O vírus é muito sensível à água e sabão e em poucos minutos é desativado na máquina de lavar. Mesmo que o risco de trazer o vírus para dentro de casa na roupa seja muito pequeno, o ideal é que as roupas sejam lavadas na máquina mesmo.
Andreolla - Sim. Os movimentos da máquina aliados ao sabão ou detergente usado são eficazes em romper a camada mais externa do vírus que se denomina envelope. Essa camada é rica em "gordura", e, para dissolver a "gordura" nada melhor de que uma solução detergente. 

Diário - Passar a roupa a ferro mata o vírus?
Flores
- Uma roupa lavada à mão ou na máquina, com água e sabão não vai ter vírus ativo. Por isso, passar roupa que acabou de ser lavada com ferro é desnecessário. É possível utilizar esse recurso com máscaras reutilizáveis. Ou seja, se não tem tempo de lavar porque vai usar em seguida, pode passar com ferro bem quente, pois isso inativa o vírus.
Andreolla - As partículas virais não resistem a temperaturas muito altas, como a de um ferro de passar roupa por exemplo. Mas lembro que mais eficaz ainda é a lavagem com água, sabão e, a depender, hipoclorito (Q-Boa). A estratégia mais simples e segura, sem dúvida é a água e o sabão. Apenas passar ferro não me parece a melhor alternativa. 

Mais 200 cestas básicas são encaminhadas pelo Estado à Região Central

Diário - Luminosidade e altas temperaturas matam o vírus?
Flores
- A radiação solar inativa o vírus, sim. Um vírus que está em uma maçaneta ou corrimão, exposto ao sol, com temperatura de 20°C vai durar 12 horas, em média. Se a temperatura está muito alta e tem sol, o agente dura uma ou duas horas.
Andreolla - Sim. Os vírus são destruídos quando submetidos à radiação ultravioleta e a altas temperaturas, pois essas ferramentas destroem estruturas muito importantes para que o vírus se mantenha infectante. Nos laboratórios, usamos o calor úmido para matar vírus e bactérias ou ainda o calor seco (acima de 170°C). Qualquer uma dessas formas de calor só é efetiva quando mantemos os objetos por um período mínimo de exposição que pode variar de 15 minutos a meia hora. Vale lembrar que nem todos os objetos resistem a temperaturas tão altas. 

Diário - E quanto a cabelo e barba? Tirar a barba ou prender o cabelo ajuda na prevenção?
Flores
- Tem vários estudos que mostram que não. Tanto o cabelo quanto a barba não têm relação com a facilidade de contaminação. Vai na mesma linha da contaminação da roupa. Se uma pessoa que não é contaminada e outra pessoa que está doente tosse ou espirra muito perto, tem o risco de vir uma gotícula no cabelo, mas é um risco muito pequeno. A não ser que a pessoa tussa ou espirre diretamente no rosto do outro, não há porque se preocupar.
Andreolla - Uma forma de minimizar o contágio, não apenas do coronavírus, mas dos vírus respiratórios é manter cabelo e barba bem aparados. Se for possível, é recomendável, inclusive, num período como esse, tirar a barba, até mesmo para que possamos utilizar a máscara da forma mais segura e apropriada possível. 

Diário - Em relação a correspondências? É necessário algum cuidado?
Flores
- Se o carteiro estiver doente e tossir, espirrar ou passar a mão contaminada naquela caixa ou papel, pode haver risco. Se recomenda que caixas de encomendas ou mesmo caixas de tele entrega sejam limpas com álcool 70%, mas o risco é muito, muito pequeno.
Andreolla - No papel, por exemplo, o vírus pode permanecer por um período de 4 a 5 dias. É importante lembrar que todo o objeto que tenha entrado em contato com secreções respiratórias e fluídos que emitimos durante a fala, por exemplo, podem conter vírus. Além disso, podemos estar eliminando vírus por secreções respiratórias mesmo sem estarmos nos sentindo doentes. 


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Segunda etapa de pesquisa que está fazendo testes rápidos continua neste domingo

Em dois dias, Santa Maria registra mais de 300 casos suspeitos de coronavírus Próximo

Em dois dias, Santa Maria registra mais de 300 casos suspeitos de coronavírus

Saúde