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Santa Maria começa a vacinar crianças contra a Covid-19 na próxima semana

Jaiana Garcia

Ao encontro do cronograma estadual, divulgado nesta segunda-feira pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), a prefeitura de Santa Maria também anunciou que deve começar a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19 na próxima semana. Na segunda, a Secretaria Municipal de Saúde já lançou uma plataforma para que pais ou responsáveis pelas crianças possam fazer um pré-cadastro de imunização. O objetivo, de acordo com o secretário Guilherme Ribas, é saber do interesse de pais, mães e responsáveis em vacinar as crianças, e mapear os locais de maior demanda a fim de montar as estratégias de imunização. De acordo com ele, independentemente do cadastro, o pontapé inicial da vacinação de crianças na cidade será dado na próxima quarta-feira, dia 19. A vacinação de crianças será lançada no dia em que a imunização contra a doença, que já matou 835 santa-marienses, completa um ano no município. O primeiro grupo que pode receber a dose da vacina contra a Covid-19 é de crianças com deficiência permanente e comorbidades. O calendário deve seguir com crianças indígenas e quilombolas e, na sequência, por faixa etária. 

- Temos uma grande expectativa para vacinar. Esta vacinação será diferente porque não pode ter ação de adulto junto. O frasco é diferente, a tampa é de cor diferente, a forma de diluição e de aspiração será diferente, em vez de 6 doses serão 10 por frasco. São características específicas que necessitam de atenção diferenciada - explica Ribas.

ANVISA
Outra recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é que a vacinação em crianças não seja realizada em drive-thru, pois as crianças precisam ficar no local durante 20 minutos para serem monitoradas. As doses vão ser aplicadas em salas com acessibilidade nos postos de saúde. 

- Não podemos fazer como está sendo agora, com a aplicação de 800 ou 1.000 doses por dia. O atendimento vai ser mais específico e individual. Terão dias específicos nas agendas permanentes para a vacinação de crianças. No máximo segunda de manhã já teremos a definição dos pontos - ressalta o secretário.

ESTADO
O Rio Grande do Sul deve receber um quantitativo pequeno de doses da vacina da Pfizer, destinada para as crianças. A doses devem ser distribuídas aos municípios neste fim de semana. A agenda de imunização, conforme Ribas, vai ser atualizada conforme o número de vacinas que forem chegando em Santa Maria.

Até as 22h desta segunda-feira, 103 pais ou responsáveis já haviam preenchido o cadastro da prefeitura manifestando interesse na vacinação contra a Covid-19. Não será necessário apresentar receita médica, mas os pais ou responsáveis precisam levar assinado um termo de compromisso que será disponibilizado no site da prefeitura. Os pais ou responsáveis deverão levar a caderneta de vacinação, até para que os profissionais possam orientar sobre outras vacinas que possam estar faltando para a criança.

"EU RECOMENDO FORTEMENTE A VACINAÇÃO", DIZ PEDIATRA
A pediatra Maria Clara Valadão, supervisora da Residência Médica em Infectopediatria do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), médica do Serviço de Infectologia Pediátrica do Husm e professora do curso de Medicina da Universidade Franciscana (UFN), destaca que todas as crianças devem ser vacinadas o mais rápido possível. De acordo com ela, a vacina já tem sua segurança estabelecida e vai beneficiar aquela parte da população que ainda não está protegida.

- Eu recomendo fortemente porque a gente precisa proteger as crianças. Apesar de quem olha de fora achar que não é importante, porque não é frequente a doença em crianças, não se justifica deixar que elas morram por uma doença que já tem vacina. A vacina é segura. Ela já foi aplicada em mais de 7 milhões de crianças nos Estados Unidos (EUA) e houve apenas um óbito. Está longe de ser uma vacina experimental - garante.

A médica esclarece que a Sociedade Brasileira de Pediatria e de Infectologia recomenda a vacinação contra a Covid-19 e que pais e responsáveis devem se informar com dados científicos e oficiais.

- O que nos preocupa é que poucas crianças no Brasil têm acesso a pediatras, e os pais acabam não tendo em quem confiar e consultar quando há dúvidas. Então, eles acabam acreditando em notícias falsas e opiniões de pessoas que são contrárias à vacinação. Os óbitos em adultos e crianças, atualmente, no mundo, são de não vacinados. Graças à vacinação não estamos tendo mortes nessa nova onda da Ômicron no país. Embora seja rara em crianças, ela pode complicar e pode matar. Não dá para relativizar porque temos números menores - salienta. 

A pediatra aponta que muitos pais e responsáveis citam os casos de miocardite (uma inflamação no músculo do miocárdio, comum em infecções virais) como motivo para não vacinar as crianças, porém, ela explica que a chance de desenvolver o problema é nove vezes menor em crianças que foram vacinadas. É um caso para cada 2 milhões de crianças vacinadas, de acordo com estudos.

INFECTOLOGISTA REFORÇA IMPORTÂNCIA DA VACINAÇÃO
A médica infectologista do Husm, Marceli Bertoncello, também se posicionou favoravelmente à vacinação infantil. Para ela, os benefícios são maiores que os possíveis riscos e efeitos adversos que os imunizantes podem apresentar.

- O benefício é maior que o risco de fazer a vacina. Nós estamos em um momento da pandemia que não está controlado. Agora, nessas últimas semanas, com bastante casos em crianças. Apesar que a grande maioria não são graves eu, juntamente com a sociedade brasileira de pediatria e a sociedade brasileira de imunizações, eu recomendo, sim, a imunização das crianças. Acho que vai ser um grande benefício em diminuir a circulação do vírus - afirmou a médica.

Ela também lembra que houveram óbitos em crianças decorrentes por Covid e que, por mais que o número pareça pequeno quando comparado ao da população geral, ainda é um número expressivo. Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) mostram que houveram mais de 2500 mortes de crianças e adolescentes no Brasil por conta da Covid-19. De acordo com Marceli, cerca de 300 desses óbitos foram na faixa etária entre os 5 e 11 anos.

Quanto às reações adversas, ela menciona que a grande maioria dos vacinados terão as reações mais comuns, como febre e dor no local de aplicação da vacina. Em casos que os sintomas fiquem mais fortes, ela diz que pode ser cogitado o uso de analgésicos.

- No início até se pensou que ibuprofeno não poderia ser utilizado nesses casos, mas agora sabemos que qualquer analgésico pode ser utilizado - observou Marceli.

Assim como pediatra Maria Clara, ela também reforça que os casos de miocardite por decorrência da vacinação são muito raros.

A médica também chama atenção para a importância de se manter a caderneta de vacinação dos pequenos atualizada.

- Nós temos agora um aumento dos casos de influenza também. É muito importante reforçar que os pais mantenham o calendário vacinal das crianças atualizados. Isso é muito importante para evitar que outras doenças imunopreveníveis voltem a circular - alerta a infectologista.

EM CONTRAPARTIDA, MÉDICO PEDE CALMA

Em entrevista para o programa Espaço Saúde da CDN, o médico infectologista Fábio Lopes Pedro destacou que crianças não fazem parte do grupo de risco para a Covid e que, por isso, não haveria necessidade de se apressar a imunização delas.

- Nós vacinaremos os nossos filhos, mas eles não devem passar pela mesma situação nossa do ano passado de aceleração. Eles não se constituem num grupo de risco para complicações de Covid. Todos serão vacinados, todos os nossos filhos serão vacinados no momento apropriado, com calma - afirmou o infectologista.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA REFORÇA IMPORTÂNCIA DA VACINAÇÃO
A SBP divulgou nota em que reforça que "existem justificativas éticas, epidemiológicas, sanitárias e de saúde pública para a vacinação da população pediátrica". De acordo com o texto elaborado pelos Departamentos Científicos de Infectologia e de Imunizações da SBP, os eventos adversos relatados, tanto nos estudos clínicos como nos dados de farmacovigilância, ocorrem de forma rara e em frequência reduzida em comparação aos benefícios da vacinação. Dessa forma, no contexto epidemiológico com a presença de uma variante como a Ômicron, mais transmissível ainda que apresente menor gravidade, os especialistas afirmam que estão "convencidos que ampliar o benefício da vacinação a este grupo etário é sim uma prioridade".

Os especialistas da SBP reforçam que os critérios para introdução de uma vacina no programa de imunizações não se resumem à prevenção das mortes relacionadas à doença. Conforme a nota, "vacina-se para prevenir hospitalizações, sequelas, uso de antibióticos, visitas aos serviços de saúde, ocupação de leitos em UTI, entre outros".

A nota completa pode ser acessada no site da SBP.

Diante de comentários de autoridades sobre possíveis riscos decorrentes da imunização de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também esclareceu alguns pontos:

  • A população não deve temer a vacina, mas, sim, a doença que ela busca prevenir, bem como suas complicações, como a Covid longa e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica, manifestações que consolidam a necessidade da imunização do público infantil
  • O acesso das crianças à vacina contra a Covid-19 é um direito que deve ser assegurado, o qual conta com o apoio da maioria dos brasileiros, conforme expresso em consulta pública realizada sobre o tema pelo Ministério da Saúde
  • A vacinação desse público é estratégia importante para reduzir o número de mortes por conta da Covid-19 nessa faixa etária, no Brasil, cujos indicadores são mais expressivos do que em outras nações
  • Até o momento, os estudos realizados apontam a eficácia e a segurança da vacina aplicada na população pediátrica, a qual é fundamental no esforço para reduzir as formas graves da Covid-19
  • A vacina previne a morte, a dor, sofrimento, emergências e internação em todas as faixas etárias. Negar este benefício às crianças sem evidências científicas sólidas, bem como desestimular a adesão dos pais e dos responsáveis à imunização dos seus filhos, é um ato lamentável e irresponsável, que, infelizmente, pode custar vidas


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