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O que é o movimento antivacina e quais os impactos para a sociedade

Embora tenha ganhado força no Brasil nos últimos anos, o denominado Movimento Antivacina é considerado antigo. Conforme a historiadora Nikelen Acosta Witter, o movimento surgiu na década de 1990 nos Estados Unidos, a partir de algumas pesquisas pseudocientíficas que apontavam a conexão da vacina com o desenvolvimento de doenças ou na época, com o Transtorno do Espectro Autismo (TEA). 

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Nikelen afirma que as percepções acerca do assunto não eram exclusivas do país. Sociedades europeias e outras que tinham a mesma influência também disseminavam teorias:

– Temos dois discursos muito fortes e, principalmente, com o surgimento da rede mundial de computadores, há um fortalecimento, junto até mesmo com o antirracionalismo e uma desconfiança mediante a antiga figura do cientista louco. Então, é a mega corporação, é o cientista louco, é a ciência que não entendemos e a ideia de uma natureza que estamos conspurcando com o nosso excesso de técnica. Isso ainda vai se conjugar com uma tradição muito antiga, que é a de que Deus salva e que, portanto, todos os remédios são ruins, porque são feitos pelo humano.

De acordo com Nikelen, esse conjunto de ideias tem se desenvolvido em determinados nichos e pode nos levar a momentos críticos, como o retorno de doenças que estavam absolutamente vencidas.

 – Lembro sempre do surto de sarampo que começou justamente na Disney. Ou seja, não cabe mais trazermos aquele tipo de argumento de que não vacinar é algo de populações sem acesso a informação ou precarizadas. Não! São pessoas que decidem não vacinar e arcar com todos os riscos que isso comporta. Hoje, chegamos ao ponto de voltar a temer a poliomielite, que também era uma doença que havia sido vencida no Brasil – conclui a historiadora.

Hesitação vacinal e o retorno das doenças

O termo hesitação vacinal aparece cada vez mais em publicações e pesquisas acadêmicas. Fora deste ambiente, um dos elementos do conceito é explicado por Alexandre Schwarzbold. Trata-se da recusa de vacinar ou continuar vacinando contra uma doença por não identificar casos existentes.
– Conseguimos erradicar a poliomielite no Brasil e as pessoas não viam mais, justamente porque a vacina combateu. Como não se vê casos por perto, a pessoa acaba acreditando que não existe e fala: “Para que vou vacinar contra algo que não existe?”. Isso vale para outros agravos que já erradicamos. Aconteceu com a Covid, quando caíram as hospitalizações, o número de casos e até a transmissão, e as pessoas se perguntaram para que vacinar se não estavam vendo casos. Então, precisamos entender esse olhar das pessoas para ajudá-las a compreender melhor que é importante vacinar para prevenir e não apenas quando está vendo os casos – afirma.

Cobertura

Atualmente, o Ministério da Saúde orienta que mais de 90% da cobertura vacinal de diversas doenças seja atingida por Estados e municípios brasileiros. No Rio Grande do Sul e em Santa Maria, os índices têm apresentado queda nos últimos anos, especialmente entre imunizantes indicados para crianças até um ano de idade. A baixa reflete em um número maior de internações e até mesmo, óbitos em decorrência de doenças previsíveis.

– O grande risco é não vacinar as crianças e estamos vendo isso, a volta de muitas doenças. Nos últimos 10 anos, caiu muito os índices de vacinação no Brasil. É fácil quando vemos hospitais sendo lotados e muitos casos próximos, mas também é importante saber que se estamos indicando uma vacina, é para evitar que os casos voltem. Essa é uma razão importante – conclui Schwarzbold.

Revolta da Vacina X Movimento antivacina

Embora o nome, a Revolta da vacina ocorreu em um contexto totalmente diferente do atual, não sendo necessariamente um movimento contra a imunização. O ato, que ocorreu em novembro de 1904 no Rio de Janeiro, resultou em 945 prisões, 110 feridos e 30 mortes.
De acordo com Nikelen, este episódio está conectado a remodelação do Rio de Janeiro, especificamente do centro, e sucedeu na destruição de cortiços para abertura de avenidas. A historiadora descreve como “um processo de higienização, não apenas do espaço, mas das pessoas”.

 – Quando Oswaldo Cruz assume o poder sobre a saúde no Rio de Janeiro e começa a implementar a vacina, que está dentro deste processo de higienização, o processo é truculento. Quem não quiser se vacinar, vai ser vacinado à força. Então, foi um conjunto de violações contra os quais essas pessoas insurgiram. Por muito tempo, se usou os discursos de “ah, a população se insurgir contra a vacina por ser ignorante”. Não. Não é ignorância neste caso. Essa era uma população que se via cotidianamente violentada pelo governo e que se movimentou no sentido de “não, nós não aceitamos mais isso”. E isso é diferente deste movimento antivacina, que hoje se alimenta desse conjunto de religiosidade difusa, teorias da conspiração, antiracionalismo e a rede de computadores para espalhar pseudociência aleatória sem que as pessoas pesquisem a fonte – enfatiza. 

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