Foto: Vinicius Becker (Diário)
Dados da Secretaria Municipal de Saúde indicam que, até setembro de 2025, as 30 ESFs e duas equipes de atenção primária (EAP) de Santa Maria somavam 163.574 pessoas cadastradas. Com base nesses números, a professora e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Liane Beatriz Righi, estima que o número real de cobertura se aproxime de 168 mil pessoas.
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Ao comparar esse total com a população estimada do município para 2025 (282.395 habitantes), a especialista avalia que cerca de 114 mil moradores não têm vínculo com nenhuma equipe, situação que ela define como um "vazio assistencial".
– Em 2014, a cobertura de atenção básica na cidade era de 61%. Hoje, seguimos com cerca de 60% de cobertura. Isso mostra que, em 10 anos, não avançamos na ampliação do acesso à porta de entrada do SUS – explica Liane, também professora associada do Departamento de Saúde Coletiva da UFSM.
Mesmo ao considerar que cerca de 20% dos santa-marienses tenham planos de saúde privados (deixando 225 mil dependentes do SUS), a professora e vice-presidente da Abrasco estima "cerca de 60 mil pessoas sem plano privado e sem referência na atenção básica".
Na avaliação da especialista, a limitação na cobertura contribui para a sobrecarga, agravada por outros fatores como a maior complexidade das funções da Atenção Primária, a precarização dos vínculos de trabalho e o cuidado fragmentado focado em ofertas isoladas.
– Populações vulnerabilizadas não têm problemas pontuais. É comum que a mesma família esteja em várias filas. Precisamos desenvolver projetos terapêuticos que considerem as múltiplas doenças e a complexidade das necessidades – afirma.
Para Liane, a solução exige um pacto pelo fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS), incluindo a ampliação do número de equipes, criação de contratos estáveis, apoio institucional às equipes (especialmente diante da violência) e qualificação do acolhimento.