Com foco na saúde mental, Santa Maria investe em novos serviços

Arianne Lima e Nathália Arantes

À medida que os debates sobre saúde mental vem superando o tabu, que prevaleceu por décadas, pessoas estão buscando cada vez mais apoio psicológico, comprovando a necessidade de investimentos dos serviços ofertados.

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Em Santa Maria, a Rede de Atenção Psicossocial (RAP) busca atender a demanda, que vem impactando também nos atendimentos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Na reportagem, saiba como o Samu atende as ocorrências ligadas à saúde mental, quais são os serviços ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no município e os investimentos previstos na área em 2024.


Samu e o cenário dos atendimentos de emergência

Nos últimos anos, um aumento significativo na busca por assistência em saúde mental foi registrado no município. Em situações de surto, o atendimento acaba sendo intermediado pelo Samu. Em 2023, quadros psiquiátricos foram a segunda maior causa de atendimentos clínicos da unidade. Dos 8.220 atendimentos efetuados, 1.606 foram psiquiátricos. Ou seja, cerca de 20% do total.

Segunda principal causa dos atendimentos, demanda psiquiatrica faz com que Samu invista em capacitação e equipamentos em Santa Maria Foto: Eduardo Ramos (Diário/Arquivo)

Segundo um levantamento feito pelo Diário, os casos psiquiátricos ocupam o segundo lugar na lista desde 2021. Na época, 6.705 atendimentos clínicos foram registrados, sendo 1.247 casos ligados a problemas de saúde mental.

Em entrevista ao Diário, o médico responsável técnico do Samu em Santa Maria, Ricardo Daltrozo, relata que a equipe passa por uma capacitação todos os meses, focando nos principais temas encontrados no dia a dia do serviço, como atendimento de usuários psiquiátricos ou em surto.

– Procuramos desempenhar o atendimento mais humanizado possível. Temos que manter a calma do paciente e dos familiares para podermos chegar e conseguir atendê-lo – explica o médico.

Por conta das situações presenciadas, o Samu adquiriu em 2023 um kit que possibilita uma contenção mecânica mais segura do usuário, evitando que ele se machuque caso esteja agitado ou agressivo durante o manejo.


Na maior parte dos casos, são os familiares ou conhecidos que solicitam o atendimento do Samu. Daltrozo orienta que, no aguardo pela chegada da equipe, não sejam geradas situações de maior estresse para o usuário em surto.

– É importante não desafiar ele. Tentar mantê-lo tranquilo e calmo. Se as pessoas que estão ao redor forem hostis com esse paciente, a situação piora. Isso eu digo da nossa própria experiência nos atendimentos. Às vezes, temos todo o trabalho, por exemplo, de chegar, conversar e convencer o paciente que ele precisa ser atendido. Então, chega alguém, fala alguma coisa mais agressiva e perdemos todo aquele trabalho feito até então. A nossa orientação é de manter o paciente o mais tranquilo possível, sem confrontá-lo.


Acolhimento

Em Santa Maria, a assistência em saúde mental é prestada por equipes compostas por profissionais de diferentes áreas, que atuam na Rede de Atenção à Saúde do município. Conforme a coordenadora da Política de Atenção Psicossocial do Município, Cláudia Pinto Machado Melo, é fundamental que o primeiro atendimento ocorra na base da rede: as unidades de saúde.

– Nós sabemos da importância de um bom acolhimento em qualquer uma das instâncias. Mas, a Atenção Primária, por ser no território do paciente, é muito importante para nós, porque é onde ele vive, tem laços sociais e família. Nós sempre dizemos que tudo começa pelo território – afirma.

Foto: Nathália Schneider (Diário/Arquivo)

Criado em 2013 para atender as vítimas diretas e indiretas do incêndio na Boate Kiss, Santa Maria Acolhe presta atendimento psicossocial, sendo referência para a população acima de 14 anos que esteja em sofrimento psíquico agudo em decorrência de situações de natureza traumática e de luto, além de ideação suicida.

Destaca-se que a Rede de Atenção Psicossocial também é composta por outros serviços que permitem acolher devidamente o usuário. Casos leves a moderados, são direcionados para o ambulatório de saúde mental do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) e a Policlínica José Erasmo Crossetti, ambos via regulamentação municipal para casos de leves a moderados. Já a Policlínica Municipal de Saúde Mental atende por livre demanda. Ela também abriga o ambulatório Transcender, destinado à comunidade LGBT+.

Para quadros psiquiátricos moderados a graves em crianças e adultos, o encaminhamento costuma ser feito para um dos quatro Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) de Santa Maria. São eles: o Caps II Prado Veppo, Caps ad Caminhos do Sol, Caps I O Equilibrista e Caps ad Cia do Recomeço.

Atualmente, as Unidades Paulo Guedes, no Hospital Universitário de Santa Maria, e Madre Madalena, no Hospital Casa de Saúde, são referências no tratamento hospitalar de usuários de Santa Maria e região.

Apesar dos altos números de atendimentos psiquiátricos, muitos pacientes acabam não necessitando de internação. Para Cláudia, o cenário reflete o fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial no município:

— Em dezembro, das 160 pessoas que chegaram na UPA, 28 precisaram de internação. Para nós, isso é muito expressivo. Isso só foi possível em função do nosso matriciamento e dos nossos vínculos com as unidades. Hoje, entendemos que a Rede somos todos nós, desde a Atenção Primária até a internação. Todos nós temos que acompanhar, porque é um cuidado compartilhado.


Em números

Confira os totais de atendimentos clínicos registrados pelo Samu em Santa Maria 2023

Total de atendimentos clínicos: 8.220

  • Atendimento com causa metabólica: 2.614
  • Atendimento com causa psiquiátrica: 1.606
  • Atendimento com causa neurológica: 1.593
  • Atendimento com causa cardiovascular: 720
  • Atendimento com causa gastrointestinal: 212
  • Atendimento obstétrico: 203
  • Atendimento com causa infecciosa: 112
  • Atendimento com causa respiratória: 75
  •  Atendimento pediátrico: 58
  • Atendimento por parada cardiorrespiratória: 47
  • Atendimento por intoxicação exógena: 41


Santa Maria ganhará reforço na rede de saúde mental

Para fortalecer a Rede de Atenção Psicossocial (RAP) de Santa Maria, novos serviços devem ser criados e disponibilizados para a população. Em entrevista ao Diário, o secretário municipal da Saúde, Guilherme Ribas, falou sobre alguns projetos que devem sair do papel:

– Até março de 2024, nós devemos ter o primeiro Serviço Residencial Terapêutico (SRT). É um serviço de moradias para pessoas com transtornos mentais graves. Essa é uma pauta que há muito tempo o Conselho Municipal vem dialogando. Tínhamos que dar esse próximo passo, que é ter um SRT próprio e público. Este primeiro será uma casa para 10 pessoas. É um projeto piloto para que, futuramente, tenhamos outros.

Além da unidade e da contratação de novos profissionais de saúde a partir do próximo concurso público, um antigo serviço deve ser aprimorado em Santa Maria. Desde final de janeiro, o Centro de Atenção Psicossocial Prado Veppo encontra-se em novo endereço, atendendo usuários com transtornos mentais em uma casa na Avenida Fernando Ferrari.

, a Secretaria Municipal da Saúde analisava a possibilidade de ter um Caps tipo 3, com atendimento 24 horas. Segundo a portaria 336/2002, municípios com população acima de 200 mil habitantes estão aptos para este tipo de estrutura.

Desde final de janeiro, o Centro de Atenção Psicossocial Prado Veppo encontra-se em novo endereço, onde futuramente deve ser ampliado para oferecer atendimento 24 horasFoto: Nathália Arantes (Diário)

Na época, Ribas elencou o Caps Prado Veppo para a ampliação por ser o mais antigo dos quatro Centros de Atenção Psicossocial e por contar com o maior número de cadastros ativos de toda a rede. Conforme o secretário, a nova habilitação da unidade também poderá desafogar outros setores da saúde, que sofrem com alta demanda por atendimentos psiquiátricos.

– No território, o usuário poderá buscar o Caps 3, que vai ser um serviço 24 horas e terá uma equipe para poder estabilizá-lo. Muitas vezes, quando tem um surto, ele vai para um serviço de urgência e emergência. Lá, pode ter um profissional que vai estabilizar, mas não vai dar sequência a questão ao tratamento. Se estabilizou, vai ser verificado se aquele paciente pode ir para casa ou não. E posteriormente, a continuação do tratamento dele – argumenta.


Saiba onde buscar acolhimento:

Santa Maria Acolhe

  • Atende a população em geral, sendo maior de 14 anos
  • Onde – Rua Conrado Hoffmann, 277, Bairro Nossa Senhora de Lourdes
  • Telefone – (55) 3174-1582


Policlínica Municipal de Saúde Mental

  • No espaço, está localizado o Ambulatório Transcender, destinado à saúde da população LGBT+
  • Endereço – Rua dos Andradas,1.397, sala 102, Bairro Centro
  • Telefone – (55) 3921-1094


Caps II Prado Veppo

  • Atende pessoas com transtornos mentais moderados a graves
  • Endereço – Avenida Fernando Ferrari, 1.684
  • Telefone – (55) 3174-1582

​CAPS Ad II Caminhos do Sol

  • Atende pessoas com transtornos decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas
  • Endereço – Rua Euclides da Cunha, 1695, Presidente João Goulart
  • Telefone – (55) 3174-158


​CAPS Ad II Cia do Recomeço

  • Atende pessoas com transtornos decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas
  • Endereço – Rua General Neto, 579, Bairro Centro
  • Telefone – (55) 3174-1582


​CAPSi II - O Equilibrista

  • Atende crianças e adolescentes com transtornos mentais ou casos decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas
  • Endereço – Rua Conrado Hoffmann, 100, Bairro Nossa Senhora de Lourdes
  • Telefone – (55) 3174-1582

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