Foto: Rafael Menezes (Diário)
Três meses. Esse é o tempo que a Polícia Civil está sem repassar dados sobre prisões, operações e conceder entrevistas à imprensa no Rio Grande do Sul. Esse comportamento, chamado de "medida do silêncio", é um protesto, segundo a categoria, pela inexistência de diálogo com o governo de Eduardo Leite (PSDB) em relação à valorização salarial da categoria.
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Para entender como esse protesto funciona na prática e qual a sua atual situação, as reportagens do Diário e do Bei conversaram com o presidente da Associação dos Delegados de Polícia no Rio Grande do Sul (Asdep), Guilherme Wondracek.
– Para começo de conversa, essa medida do silêncio não é contra a imprensa, pois é ela que divulga o nosso trabalho. Muito menos com a comunidade. Nossa greve de silêncio é uma forma de chamar atenção do governo – pontua.
O que é a medida de silêncio?
Essa forma de protesto se divide em dois momentos, com início na primeira semana de novembro do ano passado, após reunião entre os delegados, que permaneceu até meados do dia 16 do mesmo mês.
Até o dia 20 de dezembro, categoria e Governo do Estado tiveram quatro encontros para discutir, principalmente, um reajuste salarial, porém nada avançou. Com isso, a medida do silêncio retornou no dia 21 de dezembro de 2023 e continua até hoje.
– O que mais deu certo neste governo foi a Segurança Pública. O governador faz propaganda disso a toda hora, divulga que os índices de criminalidade estão muito baixos e até afirmou, em coletiva com a imprensa, que 2023 foi o ano mais seguro no Estado. Ele usa isso a seu favor, mas não recompensa quem faz isso acontecer.
Reivindicações
De acordo com Wondracek, não somente os delegados, mas todos que trabalham na polícia, estão desde 2013 "sem um aumento digno" de salário. Na época, houve um aumento parcelado, que se estendeu pelos seis anos seguintes. Porém, segundo ele, "a categoria já estava defasada na época". Em 2022, o governo concedeu um reajuste salarial de 6%, que, segundo ele, serviu somente para cobrir a inflação daquele ano.
– Temos outros pontos para chamar a atenção, mas a primordial agora é a valorização salarial. Isso é o que nos incomoda e aflige. Queremos um reajuste parcial, dividido em três parcelas, para ganhar em 2026, o que algumas carreiras estão ganhando hoje. Imagina você ganhar atualmente o mesmo valor que ganhava há 11 anos? Inadmissível isso.
Ele também pontua a falta de pagamento total das horas extras realizadas e de diárias, mas afirma que serão questões a serem tratadas em um segundo momento.
Reuniões com o Governo do Estado
Foram quatro reuniões ao longo do ano passado que, Wondracek, considerou "sem sentido":
– Nos sentimos desrespeitados e diminuídos, pois o governo não apresentou nada durante um mês e meio de negociações no ano passado.
Questionado sobre a atual situação, ele afirma que a Asdep está tentando mais uma tentativa de diálogo com o governo, com o envio de um ofício, porém não houve retorno até o momento.
– O Governo afirma que precisa valorizar o servidor público, que é devedor, principalmente na área da segurança pública, mas de concreto não fez nada – afirma o presidente da Asdep.
Conforme o presidente da Asdep, "pela associação, ninguém está liberado para dar entrevistas à imprensa". Há uma ordem da chefia de polícia determinando que os diretores de departamento e delegados regionais possam conceder entrevistas. Mas, na opinião de Wondracek, "é uma decisão questionável".
Enquanto isso, as delegacias de Polícia Civil do Estado seguem abertas para a população, realizando atendimentos, investigações, operações e prisões.
Resposta do governo
Em nota, o governo do Estado informou:
'Com relação a nova manifestação da Associação dos Delegados de Polícia do RS, a Polícia Civil assegura que o direito dos cidadãos à informação sobre suas ações enquanto instituição de Estado não será prejudicado. A Comunicação da Polícia Civil segue, como sempre, à disposição da imprensa para divulgar informações e resultados sobre as operações realizadas. Assim como a chefia da instituição, o governo estadual reitera o compromisso e a disposição para manter o diálogo com a categoria."
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