Fotos: João Pedro Lamas (Diário)
O colete, crachá e apito usado por um dos funcionários
A Polícia Civil está investigando empresas que prestam serviços ilegais de vigia em Santa Maria. A suspeita é que moradores que não pagam a taxa cobrada pelos "funcionários" acabam virando alvo de furtos e roubos.
Na madrugada desta quarta-feira, uma operação da Polícia Civil deteve um homem que atuava em uma empresa de vigilância na Rua David Rubinstein, no Bairro Camobi, próximo do Residencial Montebello, por volta das 0h30min. Ele conduzia uma motocicleta, vestia um colete e estava identificado com um crachá de uma "Cooperativa de Apoio Comunitário e Zeladoria". Não apresentou o documento GSVG. A empresa tem sede na cidade de Manaus, no Estado do Amazonas, e contaria com uma sede em Santa Maria.
- Empresa essa que estava importunando moradores. As pessoas estavam com medo, pois são de outros Estados, como Amazonas, Bahia e São Paulo - afirma o delegado Firmino.
Duas empresas, até agora, são investigadas. Os responsáveis devem ser indiciados por exercício ilegal da profissão e perturbação do sossego público. O funcionário detido foi levado para a Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA), onde seria autuado pelos mesmos crimes. Como são delitos de menor potencial ofensivo, não deve ser levado para a Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm), mas responder em liberdade.
Agora, a Polícia Civil busca descobrir se, de fato, moradores foram alvo de furtos e roubos por conta do monitoramento feito por esses empreendimentos. Além disso, não descarta a possibilidade de haver casos de estelionato, já que há relatos que pessoas que foram enganadas e pagaram a taxa.
Denúncias podem ser feitas pelos números 190 e 197.
Motociclista foi detido na madrugada desta quarta-feira pela Polícia Civil
VÍTIMAS RELATAM COAÇÃO
Sem ter a identidade revelada, uma vítima contou à reportagem do Diário que, no último dia 20, seu filho foi abordado em casa, no Bairro Camobi, por uma pessoa uniformizada, conduzindo uma motocicleta, que se disse funcionário de uma empresa de "apoio comunitário e zeladoria residencial".
- Esse funcionário contou para ele que davam apoio comunitário na rua, zelando pela segurança das residências e do comércio. Acompanhavam moradores na saída e chegada em casa, ponto de ônibus, essas coisas. Mas, para isso, precisavam de uma contribuição. E cobrou R$ 50 - disse.
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Ele convenceu a vítima a pagar, alegando que toda a vizinhança havia pago a taxa e que esse serviço era prestado já há algum tempo. Um vizinho da vítima contou ao Diário que isso não é verdade.
- Eu não paguei a taxa, e conheço toda a vizinhança: ninguém mais pagou. E isso é novo. Tenho percebido essa movimentação dos motociclistas, e é estranha. Eles ficam usando uns apitos. Confesso que eu tenho medo. Quem devia fazer a segurança nas ruas não seria a Brigada Militar? - questiona.
A INVESTIGAÇÃO
Crachá de identificação dos funcionários
A Brigada Militar (BM) contou à reportagem que é responsável pelo policiamento ostensivo em Santa Maria, ou seja, nas ruas, no sentido de coibir crimes. Existem, na cidade, serviço de segurança patrimonial, mas eles têm natureza restrita, se limitando à área do patrimônio protegido, como um condomínio ou uma residência, por exemplo. Mas, para isso, é necessário o GSVG, que é um documento de Grupamento de Supervisão de Vigilância e Guardas. A segurança nas ruas, então, é responsabilidade da BM, e serviços particulares de segurança em via pública são irregulares.
A Polícia Civil concorda, e vem acompanhando a atuação dos funcionários dessas empresas já há algum tempo. A situação se tornou mais grave, de acordo com o delegado Antônio Firmino Neto, titular da 4ª Delegacia de Polícia (4ª DP), situada em Camobi, quando começaram a surgir relatos de que aqueles que não pagavam a taxa, acabavam tendo suas casas arrombadas, virando alvo de furtos e até roubos. Os apitos serviriam para indicar locais que estariam sujeitos ao crime.
- Precisávamos frear a atuação deles. A população já estava falando até em milícia. Quem não pagar pela segurança que eles oferecem, sofre represália na forma de assalto. Queríamos identificar esses funcionários, as empresas, recolher as motocicletas, bem como coletes, e entender o que estava acontecendo - conta.