Perda de sustentação, falha nos "flaps" ou em um dos motores: especialista da UFSM comenta hipóteses para queda de avião em São Paulo

Perda de sustentação, falha nos

Foto: Fab (Divulgação)

Após a extração dos conteúdos das caixas-pretas, o relatório preliminar que investiga a queda da aeronave ATR-72-500 da Voepass em Vinhedo deve ser divulgado em até 30 dias pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da Força Aérea Brasileira (FAB). Em entrevista ao programa Bom Dia, Cidade! desta segunda-feira (12), o professor do curso de Engenharia Aeroespacial da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), André Luís da Silva, listou quais seriam as hipóteses apontadas como a causa do acidente que matou 62 pessoas na última sexta-feira (9). 

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O professor explica que as imagens do acidente mostram o avião realizando o movimento chamado de "flat-spin". Nesse fenômeno, as aeronaves realizam movimentos circulares, em forma de espiral, e descem de forma plana, sem elevar o "nariz" da aeronave. Para ele, o acidente foi ocasionado a partir de uma série de falhas da aeronave:

— Um avião jamais vai entrar naquele tipo de movimento, em uma situação catastrófica como essa, se não tiver uma grave sequência de eventos extremamente improváveis e alinhados ocorrendo de maneira totalmente catastrófica naquela situação. Pode ser uma série de fatores envolvendo sistemas operacionais — diz.

Perda da sustentação

A primeira hipótese pode ser a perda de sustentação da aeronave, chamada tecnicamente de "stol": 

— Ela raramente ocorre de maneira simétrica nos dois lados da asa, primeiro ocorre em um lado, depois de outro. Com isso, ele começa a girar em torno do lado oposto. Essa é uma possibilidade envolvendo a física do movimento — explica.

Falha no acionamento dos flaps

Os flaps são dispositivos embutidos na asa do avião que, quando estendidos, aumentam a área e a curvatura da asa. Em operações de decolagem e pouso, os flaps são acionados para aumentar a sustentação da aeronave em velocidade menor. 

— Se só um flap é acionado, também vai gerar sustentação assimétrica na asa e ele vai entrar em rotação. Quando eu vi os dados de radar, verifiquei que o avião já estava indo em voo de Cruzeiro, cerca de 5.000m de altitude. Então, não é o momento do flap ser acionado. No entanto, naquela altitude, geralmente é a hora de ligar o freio aerodinâmico para o avião começar o processo de descida e o freio também pode provocar aquele processo de rotação caso tenha alguma falha — comenta.

Falha em um dos motores

O movimento de rotação observado no vídeo também pode ser resultado da falha de um dos motores do avião. Porém, o professor explica que dentre todas as hipóteses, esta é a menos provável:

— Existe um recurso completamente intuitivo e automático dos pilotos que é aplicar o pedal de leme para compensar a atração assimétrica do motor. Então, é uma possibilidade, mas é uma possibilidade facilmente administrável em qualquer voo. 

Acúmulo de gelo na asa não pode ser descartado

A formação de gelo na asa da aeronave também foi uma das causas comentadas pelo especialista. No mesmo dia do acidente, outros pilotos relataram que havia condições para formação severa de gelo na rota do voo. O professor explica que em casos como esse, nenhuma hipótese pode ser descartada, porém, os aviões são projetados para prever esse tipo de condição:

— Os aviões são projetados prevendo esse tipo de condição. [...] Inclusive, durante a fase de desenvolvimento da aeronave, modelos em escala reduzida são testados nos chamados túneis de gelo, que são túneis de vento com temperatura baixa para simular a formação de gelo e medir o impacto disso na degradação aerodinâmica do avião. [...] Então o gelo pode derrubar avião, sim, ele é um causador de stol naquele tipo de situação, mas os aviões são rigorosamente projetados seguindo várias etapas de desenvolvimento prevendo tudo isso. Uma vez previsto tudo, é verificar se o seus sistemas internos de prevenção e combate do gelo estão adequados para todas essas situações — conclui.

Confira a entrevista completa:



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Vitória Parise

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