Foto: Fernando Ramos (Arquivo Diário)
Um soldado foi agredido por sete colegas em um alojamento do 29º Batalhão de Infantaria Blindada (29º BIB) em Santa Maria na última segunda-feira. Eles fizeram uso de um facão e cordas. A violência foi reconhecida pelo Exército, que classificou as agressões como tendo sido causadas "por meio de tortura, meio insidioso ou cruel". Os sete foram presos disciplinarmente e licenciados do Exército (dispensado do serviço militar), que instaurou uma sindicância para investigar o caso. Leia na íntegra a nota oficial do Exército clicando aqui. A Polícia Civil também vai investigar o caso.
A família da vítima só ficou sabendo o que tinha acontecido dois dias depois, na quarta-feira. O soldado agredido havia pedido para que lhe buscassem no quartel, mas não deu detalhes quanto ao que tinha acontecido. Ele é natural de uma cidade da Região Central do Estado, onde sua família reside atualmente, e "deu baixa", ou seja, foi licenciado do Exército.
Sua mãe se mostrou amedrontada quando soube o que havia acontecido com o seu filho, especialmente em um lugar onde esperava que ele estivesse em segurança, tomando lições que levaria para toda a vida. No fim, disse que estava "arrasada" com o que aconteceu, e que "uma tragédia poderia acontecido". Ouça (a voz dela foi modificada para preservá-la, bem como o jovem):
Na reportagem publicada na página do Diário no Facebook, ela disse ter lido diversos comentários que questionavam o caráter e dignidade do seu filho por não ter se submetido de forma quieta, calada, à violência, que caracterizam como um "pacotão", uma espécie de trote. Isso a machucou. E fez a seguinte pergunta aqueles que dedicaram tempo para digitar aquelas palavras: "e se fosse com alguém querido ligado a vocês?".
- A gente ouve nas notícias, no Brasil afora, que o brasileiro só lembra de casos de violência, que na verdade acontecem todos os dias, quando eles acontecem e repercutem. Aí, o governo corre para tentar arrumar, quando ele poderia ter evitado que tivesse acontecido. Mas aí, já é tarde demais. A solução que vem é definitiva? Não é. Porque o brasileiro logo esquece. Então os mesmos absurdos voltam a acontecer, só que com outras pessoas. O meu filho não está bem. Não foi só uma violência física. Vai saber quantos mais passaram por esse tipo de coisa e tiveram que ficar calados? Com medo de sofrerem algum tipo de vingança? Que estão até hoje tendo que lidar com sabe-se lá que passa nas suas cabeças? - questiona.
EXAME MÉDICO
Conforme o documento do exame físico feito por um médico do 29º BIB, obtido com exclusividade pelo Diário, o jovem sofreu "ofensa à integridade física", tendo sido usados "facão e corda", produzida "por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura, meio insidioso ou cruel". As agressões não teriam lhe causado "debilidade permanente ou perda de sentido". Em resumo, o médico apontou que: "apresenta pequena equimose sob leito ungueal (parte abaixo das unhas das mãos e dos pés), sem mais lesões e/ou agravos à sua integridade corporal, muito embora tenha referido ter sido agredido com um facão e uma corda, ambos com ação contusa".
O jovem também passou por exame junto ao Departamento Médico Legal (DML).
A AGRESSÃO
A violência aconteceu na noite da última segunda-feira. O jovem, de 20 anos, era um Soldado de Efetivo Variável (Sd. EV), que cumpria o serviço militar obrigatório. O nome dele não será informado pelo jornal para não expô-lo.
Conforme apurado pela reportagem, ele estava deitado na sua cama, em um dos alojamentos do quartel, quando foi surpreendido pelo grupo. Os agressores teriam tirado a vítima da cama e a imobilizado no chão. Enquanto um deles filmava, outros seis cometiam a agressão, com uso de cordas e um facão. A violência teria se estendido por pelo menos 10 minutos.
Quando um oficial de serviço flagrou o que estava acontecendo, mandou, após assistir à gravação, que as imagens registradas fossem apagadas. Um soldado disse para que escondessem o facão e as cordas. Outro oficial prestou socorro ao soldado agredido. A vítima sofreu ferimentos principalmente na região das costas, pernas e mãos.